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31 de outubro de 2010

Piranha 3D (2010)

Um filme de Alexandre Aja com Eli Roth e Richard Dreyfuss.

AHAUSHAUHSAHSUAHUSHAUSHUAHSUAHUSHAUSHUAHSUHAUSHAUSHUAHSU. E essa é minha opinião sobre Piranha 3D. É um filme tão mal feito, mas tão mal feito que é a comédia e o trash do ano. Se fosse por mim, eu daria um 1 fácil sem nem criar um texto sobre. Mas o problema é que Piranha 3D, como qualquer outro trash, foi criado para ser ruim. E ele atingiu completamente o seu objetivo. Sério? Piranhas em 3D, cenas sem nexo algum, filmes pornôs e um final ridículo. Ah, e muita carnificina. Sério, ele atingiu completamente seu objetivo e ainda cumpriu suas promessas. O filme tinha mais sexo que um pornô, tinham pais no filme que tapavam os olhos de seus filhos, primeiramente me perguntei o que os levou a levarem seus filhos para Piranha 3D, que está longe de ser um programa família. O filme tinha bastante suor porque, bem, devia estar quente. E juro que nunca vi tanto sangue num só filme. Eles conseguiram colorir um rio cristalino de vermelho, e as mortes ridículas deram ao meu fim de semana outro significado.
Após um tremor que ocorreu nas profundezas do Lago Victoria, várias piranhas pré-históricas são liberadas no lago bem na semana do saco-cheio, onde vários estudantes festejam nas margens do lago. Quando a xerife Julie Forrester (Elisabeth Shue) descobre o perigo que assola os visitantes, ela tenta alertá-los sobre as piranhas que estão escondidas entre os adolescentes. Mas ela não sabe que seu filho Jake (Steven R. McQueen) está ajudando um produtor pornô a fazer um filme num lugar isolado do lago, cheio de piranhas sedentas por carne.
Tenham uma noção. A história começa com um pescador que invade uma área restrita pelo governo e que fica tomando cervejas enquanto tenta fisgar alguns peixes. E ele não sabe que não pode deixar suas cervejas caírem no lago, pois se elas caírem, um abalo acontecerá liberando monstros extintos há mais de 1000 anos. E Piranha 3D vai daí para cima, o mais puro gore. Tenho que admitir que é bem melhor que os filmes de comédia lançados esse ano, porque fios de alta tensão cortando meninas ao meio, pessoas com buracos no meio da barriga e um barco arrancando a cabeça do Eli Roth foram alguns dos melhores momentos do filme. O 3D não interfere em nada no filme, são poucos os momentos que eu senti uma diferença, como a hora em que uma garota vomita na tela ou que uma piranha voa em direção ao público. Todo o resto fica igual o roteiro, cheio de falhas propositais, exceto a maquiagem, que ficou impecável; e atuação, que eu suponho que deveria ser um pouco mais convincente. Ou será que não?
Piranha 3D é um filme imperdível, devo dizer que um dos filmes mais engraçados do ano se você olhar com a perspectiva certa. Se você, como eu, for ao cinema para ver um filme de terror, é melhor nem ir, pois não há momentos da película em que você se assusta para valer, para isso existe Atividade Paranormal 2 e Resident Evil 4. Agora se você quiser uma diversão despreocupada, aproveitar o filme mais trash do ano e rolar de rir com o gore que o filme te promove com violência gratuita e muitos litros de sangue, além de toda a desconexão e descompromisso com o roteiro, Piranha é o filme perfeito para você.
NOTA: 7

29 de outubro de 2010

Juntos Pelo Acaso (2010)

Um filme de Greg Berlanti com Katherine Heigl e Josh Duhamel.

As comédias românticas me decepcionam tanto porque não há inovação. Também nem imagino um jeito de serem inovadas, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é algo que não aparece todo dia. Na maioria das vezes é uma estória bem humorada sobre dois padeiros que fazem croissants de coração um pro outro ou então de uma mulher que conhece o homem da sua vida no banco de esperma. Bem, o primeiro ponto dessa comédia romântica é que tem um bebê, e os bebês roubam a atenção de toda a cena. A segunda é que os pares começam se odiando, o que é bem melhor que aqueles casais que começam uma paixão fogosa através de uma música do Marilyn Manson. E aí vem logo o terceiro ponto, as atuações são impecáveis. Embora os personagens sejam super estereotipados (a inovação não vem), Josh Duhamel e Katherine Heigl realmente me surpreenderam, já que eu espero um descaso desse tipo de filme.
Holly Berenson (Katherine Heigl) e Eric Messer (Josh Duhamel) se odeiam com força. Eles se conheceram através de amigos em comum que marcaram um encontro entre os dois que acabou 5 minutos após ele bater na porta dela. Desde então, os dois vivem mantendo o máximo de distância um do outro, o que fica difícil com o tempo já que os dois são padrinhos da bebê Sophie (Alexis e Brynn Clagett). Quando os pais da bebê morrem, um testamente feito revela que os dois deveriam cuidar da criança, e com o tempo eles veem que são as pessoas menos preparadas para cuidar de um bebê.
Embora os personagens não ajudem - já virou clichê colocarem uma criança numa comédia, e todos os pais são os mais despreparados do mundo, incrível - a atuação ainda se sobressai sobre a premissa. Katherine Heigl fez uma ótima mãe neurótica e recatada, a típica mulher virgem americana. E Josh Duhamel é simplesmente o sonho da América, um locutor de futebol americano que pega todas as mulheres, anda de moto e bebe cerveja andando nu pela casa, o que ele interpretou muito bem. Mas a incrível atuação fica com as gêmeas Clagett, que fizeram a ótima Sophie. Era um bebê tão incrível e inteligente que as vezes eu achava que era um robô. Uma trilha sonora agradável, acho que captou as melhores intenções do filme com várias canções da cultura pop.
O que há de pior no roteiro é o humor do filme. Claro, vemos todas àquelas piadas que os filmes com bebês tem direito, então há pessoas vomitando e com cocô na cara. Agora tem cenas até demais. O clichê de uma comédia romântica estraga com o humor e os personagens também. Os vizinhos que só cuidam da vida alheia e a assistente social intrometida e inconveniente são métodos bem tensos para criar humor. E a cena em que Josh Duhamel contrata um taxista para servir de babá é deprimente, eu pensei em sair da sala na hora. Não minto, há várias piadas no filme que realmente me fizeram rir sem serem forçadas, mas a maioria se perde na tentativa de criar graça. Além do mais, há todo o abuso da burocracia sem nexo que é promovido nas situações apresentadas.
Não julgo mais comédias românticas por inovação e sim pelo quanto eu ri e me emocionei. Foi um filme bonito sobre toda aquela lição de família. E me fez rir durante uns 20%, o que já é bastante se comparado a vários besteirois atuais e comédias que não valem nada. É uma diversão para o fim de semana, seja você que queira ver uma comédia sobre bebês com a família, seja você que quer ver o Josh Duhamel semi nu, seja você que quer rir um pouco e esquecer dos problemas, seja você que queira ouvir uma versão de Creep do Radiohead em canção de ninar.
NOTA: 6

23 de outubro de 2010

Beleza Americana (1999)

Um filme de Sam Mendes com Kevin Spacey e Anette Bening.

Beleza Americana é um filme sobre beleza. Bem, agora só falta dizer que é americana. É. OK, são dois tipos de beleza durante o filme: a beleza estereotipada que a mídia insiste em promover, a beleza de um casamento de fachada, a beleza de uma menina vulgar no estilo Lolita que transa até com um vaso de flores. A segunda beleza é a beleza que o filme insiste em mostrar nas coisas simples, como um saco plástico voando, que, por incrível que pareça, é o ponto alto do filme. E o mais incrível de tudo é que até os sacos plásticos ficam encantadores ao meio de tanta chatice num só filme. Boa parte da obra é bem clichê, mas a intenção do filme era criticar exatamente isso. Então fiquei com a dúvida no fim: o clichê foi proposital ou uma falta de criatividade?
Lester Burnham (Kevin Spacey) é um homem de família bem sucedido, trabalha numa empresa que lhe paga bem e é casado com uma corretora, Carolyn Burnham (Anette Bening). O único problema é que sua vida é um inferno. Ele trabalha há mais de 10 anos na empresa no seu mesmo trabalho maçante, sem promoções ou aumentos e sua mulher é uma controladora que não se submete às práticas sexuais com o marido. E por fim, ele ainda se apaixona amorosa e sexualmente pela melhor amiga de sua filha, Angela Hayes (Mena Suvari), uma garota fútil e clichê ao extremo, cuja única preocupação é não ser normal. Ele está tão interessado na garota que até se esquece de sua filha, Jane Burnham (Tora Birch), que se apaixona pelo novo vizinho.
No pôster está escrito "look closer...", em português "olhe mais perto...", expressão que pode servir para os dois tipos de beleza que Sam Mendes expõe na película. Temos a beleza superficial, que é bela no exterior mas é podre na estrutura, e o olhar mais de perto significa não ter uma simples visão falsa sobre algo que parece ser belo. Algo interessante nessa beleza é que ela sempre era retratada por rosas no filme, tanto as rosas que a mãe Carolyn insistia em cultivar no seu jardim quanto as rosas que apareciam quando Angela aparecia em cena. O outro significado pode ser um outro olhar para a segunda beleza, a verdadeira beleza que aparece através de pássaros mortos e mendigos morrendo congelados, coisas tão horríveis se olhadas pela primeira vez, mas se olhadas de perto vemos que elas transbordam o belo sem precisar da falsidade das rosas.
A atuação está ótima. Gostei bastante de Anette Bening, de Tora Birch e de Kevin Spacey, convincentes do começo ao fim. Outro aspecto interessante é a narrativa invertida, como em Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde o narrador, na obra Kevin Spacey, começa contando a todos sobre a morte dele, o que na teoria tiraria a tensão existente, mas não é isso o que acontece. Embora ele comece o filme dizendo que vai morrer em menos de um ano, embora na época ele obviamente não sabia disso, tudo é cheio de surpresas, e essa sua narrativa ainda trás um humor. Cinco minutos após o início temos Kevin Spacey novamente, tomando banho, enquanto a narrativa fala: "Olha eu aí, me masturbando. Patético. Mas esse vai ser o ponto alto do meu dia".
Beleza Americana trás a moral do não julgue um livro pela capa através da vida clichê, explorando desde a adolescente puta até o veterano homofóbico do exército. E trás isso belíssimamente, independente de seus enquadramentos ou ângulos utilizados, independente do estereotipo que o filme trouxe. Não me engano dizendo que o filme é clichê, pois é isso que ele quer denunciar, o clichê da beleza americana. Tudo é proposital. Só seria uma obra completa se não fosse a crise de meia-idade de Kevin Spacey, que causou uma quebra na visão do filme. Tirando isso, ele mereceu seus Oscars.
NOTA: 9

21 de outubro de 2010

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Um filme de Woody Allen com Woody Allen e Diane Keaton.

Divertido, e algo bastante inovador para a época. A comédia romântica de Woody Allen é divertida por sua interação com o público, a banalização das relações sociais que o protagonista insiste em desvendar e reduzir a estereotipos e com a quebra da quarta parede. Em certos momentos, eu me sinto dentro do filme com Woody Allen e Diane Keaton me colocando no meio de uma briga de casal, o que o deixa ainda mais divertido. Além de tudo, o filme consegue explorar os mais diversos planos sem deixar o ritmo cair. Ele não só se utiliza da comédia escrachada, mas também de um romance com um drama, colocando situações irônicas no meio para conseguir trazer para ainda mais perto o espectador. E aí está o ponto alto de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa: sua originalidade.
Alvy Singer (Woody Allen) é um humorista judeu que faz análise há vários anos que, jogando tênis, conhece Annie Hall (Diane Keaton), uma cantora em início de carreira. Os dois logo se identificam, ela por ter achado um homem engraçado e único, ele por achar uma pessoa que parece entender o mundo pessoal e a mente complicada dele. Quando os dois começam a morar juntos e viver o ápice de sua vida amorosa, os problemas conjugais começam a aparecer, deixando abalado o romance dos dois.
(500) Dias Com Ela, já viram? Eu identifiquei a mesma fórmula desse atual no clássico de Woody Allen: a lembrança de um romance que não dá certo, a vivência dos melhores momentos da vida deles juntos, as causas da separação. Só que este é bem melhor. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa explora mais os seus personagens, criando excentricidades para cada um. Deixar um Woody Allen completamente maluco com sua manias e TOCs que são apresentados desde de cheirar cocaína até andar de carro com sua namorada é algo que Joseph Gordon-Levitt não fez no filme do ano passado. E a carência rápida junto com as maluquices de Diane Keaton é até comparada com Zooey Deschanel, mas o carisma da primeira é algo a parte. Um resumo, os dois estão esplêndidos, assim como a fotografia e o figurino.
O roteiro é super inovador e divertido. É um tipo de filme que agrada todos sem precisar estar na lista da Tela Quente. Só digo que eu rolei de rir, literalmente, quando Woody Allen e Diane Keaton conversavam e pensavam outras coisas ao mesmo tempo, e o humor do filme só cresce daí para cima. A falta de linearidade para contar uma história sem nenhum atrativo, apenas com um humor irônico e um descritivismo único, é um artifício muito utilizado atualmente, mas quero que alguém me aponte uns filmes que usaram isso antes da década de 70. E toda essa não cronologia apenas traz a impressão de que são fatos narrados por um narrador muito presente, que vai se lembrando aos poucos sem se importar em dar continuidade ao fato anterior. Além da quebra com o público, a obra ainda tem outra coisa engraçada, que é a quebra da quarta parede com figurantes. Andando pela rua, Woody Allen começa a questionar o fim de seu relacionamento, e uma senhora e um homem o dão conselhos sem ele nem perguntar. Em outra situação, ele questiona um jovem casal como eles conseguem dar certo. A mulher diz que é vazia e desinteressante, e o homem fala a mesma coisa, que é a forma do diretor ver a superficialidade em vários relacionamentos atuais, até mesmo no dele quando relata uma noite com uma garota chamada Alisson, que começa com ele reduzindo-a a um estereotipo social, palavras dela.
Um filme impagável que merece ser visto uma, duas, três, quatro vezes. Uma vez para ver a belíssima atuação de Woody Allen e Diane Keaton. A segunda vez para vivenciar as situações constrangedoras e satíricas que os protagonistas vivem com um ponto de vista diferente da primeira. A terceira vez para ver o que foi perdido nesse filme simples, mas grande. E a quarta vez para rir de toda essa obra que ganhou o Oscar, merecidamente, de melhor filme em 78. E em todas você só vai sair pensando em uma coisa: nós precisamos dos ovos.
NOTA: 9

20 de outubro de 2010

Tropa De Elite 2 - O Inimigo Agora É Outro (2010)

Um filme de José Padilha com Wagner Moura e Milhem Cortaz.

Sabendo das estreias nacionais deste ano, não sabia de qual esperar mais. Chico Xavier me parecia uma história bem legal. Nosso Lar criou um universo inteiro e mostrou que o Brasil tem efeitos especiais. Por mais que tenha um cunho político, eu gostei de Lula, O Filho do Brasil. Temos ainda o divertidíssimo O Bem Amado e todas aquelas comédias que o cinema nacional insiste em fazer. Ainda tenho mais na minha lista, Os Famosos e os Duendes da Morte, As Melhores Coisas do Mundo, Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos ainda entram na minha watchlist até o fim do ano. Resumindo, esperava muito do Brasil esse ano, menos de Tropa de Elite 2. O primeiro foi, em minha humilde opinião, uma manifestação de violência que agredia mais que acrescentava, embora fosse um retrato certo das situações caóticas do Rio de Janeiro. Com esse começo, não esperava nada da continuação. Me enganei feíssimo, Tropa de Elite 2 chega a ser um dos melhores do ano com A Origem, e o Brasil só mostra que esse sucesso só vai subir.
Após o Capitão Nascimento (Wagner Moura) bater de frente com a violência que assola o Rio de Janeiro através de uma missão bem-sucedida que causou polêmica, ele sai de seu cargo de Capitão para ser promovido, enquanto André (André Ramiro) é rebaixado por ter liderado a missão. Em seu novo cargo, Nascimento começa a ver que os traficantes não são o verdadeiro problema das favelas do Rio e sim a milícia, que coleta tributos e coloca os governantes que tem o mesmo interesse no poder com a ajuda do povo que começa a obedecer a polícia criminosa. Nascimento então tem que equilibrar sua nova posição com a busca de nomes da milícia, junto com a responsabilidade de ter seu filho adolescente que começa a ser envolvido no trabalho do pai.
Wagner Moura está ótimo, novamente, como Capitão Nascimento. Embora no primeiro filme a atuação dele tenha me parecido meio forçada, talvez pelo primeiro ter sido uma exibição de violência, no segundo ele trouxe a mesma fórmula, mas houve uma combinação bem melhor que a o primeiro episódio da trama. E ainda traz toda a sua tensão e aflição no filme com todos os ângulos da câmera balançante, que até criaram uma angústia em relação aos momentos do ápice. E ao mesmo tempo, o filme não tinha um ápice. A cada morte que acontecia, era de uma atmosfera tão natural que chegava a assustar, tanto os coadjuvantes quanto os principais. Outra atuação que merece palmas é a do major Rocha, feita por Sandro Moura, convincente até o fim. Nenhuma atuação fica abaixo da média, todas boas.
O filme tem vários pontos altos, e o maior deles é o roteiro, cheio de críticas explícitas e implícitas. O filme já começa com uma ironia digna de dar risada, com a frase: "Esse filme é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é coincidência". O filme faz exatamente o que Wagner Moura faz em sua cena final: denuncia uma realidade não tão distante que decidimos ignorar completamente, mas que se aproxima cada vez mais forte de nossa própria. Misturar a violência com a política mostrando ao Brasil inteiro o trabalho da milícia e de nossos governantes é um tapa na cara que já devia ser dado a muito tempo, e foi bem dado agora em época de eleições. Uma pena que não tenha chegado a tempo do primeiro turno. Não posso falar do filme sem falar dos diálogos. Em meio a tantos "porras" e "filhas da puta", nessa obra eu vi mais densidade nas falas filosóficas do protagonista do que no primeiro filme, criando pensamentos e explicações fáceis para os acontecimentos. E, de vez em quando, ainda surgiam algumas pérolas como "quer me foder, me beija", "aqui é fifty fifty, é a taxa do não sei" ou "tá de pombagirisse comigo?" que tiravam a tensão temporariamente para criar certo humor, que chegava a ser irônico.
A história é essa: fui na estreia de Tropa de Elite 2. Cheguei lá as 19:00 para todas as sessões, incluindo a de 00:15, estarem esgotadas. Tentei no outra sexta, e tudo esgotado novamente. Quando consegui ver no domingo, não me arrependi de maneira nenhuma. Se desse eu iria mais 5 vezes, pois esse tipo de filme que merece estar na boca do povo, não pela violência em excesso (que está em segundo plano nesta obra) e sim pelas futuras discussões que podem ser geradas desde polícia a violência, ainda com todas as críticas criadas pela película. Finalmente veio um filme que me deu uma esperança no cinema e, melhor ainda, veio de nossa indústria cinematográfica. Quando o Brasil quer criar um filmaço, ele cria fácil fácil.
NOTA: 10

19 de outubro de 2010

O Segredo de Vera Drake (2004)

Um filme de Mike Leigh com Imelda Staunton e Phil Davis.

Antes de ver eu já tinha sido avisado sobre a trama que assolava O Segredo De Vera Drake: a atuação de Imelda Staunton é sublime, mas o roteiro é bem fraco. Confirmado. Não devo me enganar ao dizer que foi a melhor atuação dela, lhe rendendo uma indicação ao Oscar. Sua caracterização para Vera está excelente. Agora dois fatos se devem por ela não ter ganho melhor atriz em 2004. O primeiro é ela estar concorrendo com Hilary Swank em sua ótima Menina de Ouro e com Kate Winslet no grande Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças. O segundo fator foi pela imensidão e trabalho de sua caracterização não serem do mesmo nível do filme em que ela atuou. O roteiro é fraquíssimo, podendo ser bem melhor explorado graças a várias discussões atuais, e isso tirou o brilho de Imelda.
Na Londres dos anos 50, Vera Drake (Imelda Staunton) vive sua vida sossegada. Ela tem um marido (Phil Davis) que trabalha como mecânico na oficina de seu cunhado, e dois filhos que constituem sua família unida e feliz. Além disso, Vera é uma pessoa realmente altruísta, que insiste em ajudar os doentes e idosos além de sua profissão de faxineira. Mas Vera esconde um perigoso ofício, já que paralelamente ela ajuda jovens garotas, de graça, a realizarem um aborto, indo contra a constituição inglesa. Quando uma dessas garotas quase morre após essa prática ilegal, a vida dela tem uma enorme reviravolta.
Poderia ser muitíssimo melhor trabalhado. Do mesmo modo que Menina de Ouro trabalhou de uma forma descompromissada com a eutanásia, O Segredo De Vera Drake poderia ter explorado o aborto, um assunto tão polêmico quanto. A pena é que isso não ocorreu. Não dá para se tirar muito do filme já que o principal assunto é sobre a vida e atividade de uma senhora que só queria ajudar os outros com seu enorme carisma, e não sobre atividades ilegais ou confrontos de opinião, o que tornou o roteiro bem entediante. Sem julgá-lo tanto, vemos várias cenas desnecessárias, que se fossem cortadas não fariam a menor diferença para o entendimento do filme, o que o reduziria a pouco menos de uma hora e meia e não duas horas. Eu esperei o filme inteiro para ver uma relação entre a menina grávida da casa em que ela trabalhava como faxineira e a história de Vera Drake. Nada.
Voltemos a atuação. Imelda está ótima. No geral, todo o elenco está, mas ela em especial. Sentia vontade de abraçar Vera Drake a cada hora que seu sofrimento aumentava, a cada hora que sua família crescia com um preconceito diferente sobre a situação dela. Também gostei da atuação de Phil Davis. A fotografia e o cenário eram tão entediantes quanto o andamento do roteiro. A caracterização da tensa e fria Londres só aumentava minha vontade de dormir. Algo que gostei foi a naturalidade que foi criada no filme, vemos a experiência e a convivência de Vera com seus amigos e aprendemos todo o seu dia a dia sem a pressa de outros filmes que insistem em criar uma familiaridade com personagens em apenas 5 minutos.
Um filme que poderia ser grande mais se tornou mais do mesmo. A grande atuação do elenco do filme não cabe na estória que ele quis apresentar, por isso tamanha irregularidade, tamanhas cenas desnecessárias. tamanha mesmice da atuação de Imelda Staunton se comparada a outros filmes. O roteiro consegue estragar um filme sim, O Segredo de Vera Drake está aí para provar isso. É um filme sobre a família de Vera Drake e como a união deles é abalada. Nada mais a acrescentar.
NOTA: 6

17 de outubro de 2010

Pi (1998)

Um filme de Darren Aronofsky com Mark Margolis e Sean Gullette.

Incrível como as surpresas aparecem do nada. Conheci Darren Aronofsky em O Lutador, de 2009. Um bom filme que realmente merecia seus créditos, e na época pensei que era o melhor que o diretor poderia fazer. Me enganei feio. Há uns dias vi o incrível Réquiem Para Um Sonho e me surpreendi ao ver que Aronofsky aparecia mais uma vez após tanto tempo num filme tão bom quanto o outro. Agora vejo seu primeiro filme, Pi, e me surpreendo ainda mais. Não que tenha gostado deste tanto quanto Réquiem, mas é inegável a sensação de estar defronte a uma obra. E, ainda mais, Pi foi feito com um visual totalmente independente, sem qualquer gasto exorbitante. Apenas com 60,000 dólares, o filme faturou 53 vezes mais só nos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, a mãe do diretor que criou os figurinos e o espaço foi cedido a partir de um negócio da família Aronofsky.
Maximillian Cohen (Sean Gullette) é um gênio matemático antissocial que acredita que o nosso mundo é feito de padrões matemáticos e, graças a isso, sua maior ambição é achar um padrão na bolsa de valores. Quando Max começa, aos poucos, a adivinhar a queda da bolsa, ele se depara com um misterioso número de 216 dígitos. Perguntando o significado para seu mentor, Sol Roberson (Mark Margolis), ele recebe uma resposta vaga sobre um bug da internet. Mas ele vê o quão perto está de seu padrão com esse números quando representantes de Wall Street e rabinos da religião judaica o procuram para desvendar mistérios relacionados a seu trabalho.
Bom roteiro, Darren conseguiu relacionar a matemática com a religião e a economia de um modo surreal e inteligente, com uma lógica inegável. Vemos através de algumas cenas como o diretor é o mesmo que Réquiem Para Um Sonho: tanto os personagens deste quanto o protagonista de Pi utilizam drogas para poderem pensar claramente e nas duas obras vemos closes nos remédios para demonstrar que eles foram utilizados, e esses closes se repetem freneticamente ao decorrer da película. A obsessão do personagem de Sean Gullette é outro atrativo em especial na obra, o quanto ele se treme a medida que as relações sociais dele aumentam, toda a mania de perseguição que ele sofre e por começar a misturar a realidade com o sonho. As atuação, principalmente Sean Gullette e Mark Margolis são bem convincentes, conseguem segurar o filme.
Vale a pena assistir Pi pois, indubitavelmente, foi o filme mais angustiante que eu já vi. Todos os enquadramentos da câmera, o cenário altamente claustrofóbico, o drama em que a personagem entra, a obsessão de seus delírios matemáticos, de poder colocar tudo do mundo num padrão que ele pode resolver facilmente. Nunca vi cena mais perturbadora que ele cutucando o cérebro com uma caneta. A filmagem em preto e branco só aumenta a tensão causada por esse filme que se abstém de explicações lógicas para dar lugar à própria lógica. Confuso, mas merece ser conferido.
NOTA: 8

16 de outubro de 2010

Longe Do Paraíso (2002)

Um filme de Todd Haynes com Julianne Moore e Dennis Haysbert.

Do jeito que eu babo ovo para Julianne Moore, não é surpresa se eu disser que ela é um dos maiores atrativos do filme. Então que fique subentendido. Mas o outro atrativo do filme foi o quanto ele ficou belo. A fotografia, a maquiagem, o figurino e a trilha sonora foram tão bem trabalhados que eu me sentia vendo um filme da década de 50 ao invés de um de 2002. E a atuação de todos não deixou a desejar. A única coisa que não me convenceu foi o roteiro. Embora eu seja totalmente a favor de criarem filmes com a temática apresentada em Longe Do Paraíso e embora tudo na obra tenha sido bem trabalhado de forma a representar a sociedade homofóbica e racista dos Estados Unidos na década de 50, o tema já é muito trabalhado atualmente, que me deixou novamente com a sensação de que já tinha visto tudo, o que tirou o ritmo do filme.
Cathy Whitaker (Julianne Moore) é a típica dona de casa que possui uma vida perfeita. Casada com Frank (Dennis Quaid), seu marido atencioso, tem dois filhos saudáveis, uma belíssima casa, apenas mais uma esposa troféu. Além do tudo, ela ainda promove as mais famosas festas de região, que são comentadas por todos. Toda essa rotina da vida perfeita a fazem ser um ícone a ser seguido pelas mulheres de sua cidade, Hartford. Porém, no dia em que ela vai deixar o jantar de seu marido no trabalho, ela o vê beijando outro homem. Vendo toda essa sua vida perfeita se estilhaçar, ela fica emocionalmente perturbada e acha um refúgio na figura de seu jardineiro negro, Raymond Deagan (Dennis Haysbert).
Como falei anteriormente, achei um bom roteiro. O tema do filme ainda é algo que precisa ser aprendido, todo filme sobre preconceito merece ser visto por aqueles que ainda o cultivam para ver se ainda sobra algo. Mas me senti vendo apenas mais um entre todos os outros existentes, e os efeitos utilizados para deixar o filme com um visual mais antigo só serviram para caracterizá-lo ainda mais. Tirando toda essa banalização de um roteiro preconceituoso na indústria cinematográfica, é uma boa temática. Ainda conseguiu explorar a imagem de um homem na família numa época em que a sociedade era claramente patriarcal. E o que eu mais achei engraçado em todo o filme é o tratamento da homossexualidade como uma patologia e também como o preconceito racial vencia, de longe, o sexual. Não menosprezando o homossexualismo, mas Dennis Quaid traía compulsivamente sua mulher com outros homens e a sociedade apenas tratava com pena. Mas só por Julianne Moore manter uma amizade com um negro, todos, sem qualquer diferença racial nessa hora, a viam como uma traidora e a tratavam com o máximo do ódio possível.
Julianne Moore está ótima. Me lembrou muito sua personagem em As Horas em alguns momentos. A dona de casa que tinha a vida perfeita e mascarava os sentimentos de uma sociedade organizadamente preconceituosa. Dennis Haysbert também merece uma ressalva, assim como Dennis Quaid. Não uma lembrança tão grande e memorável como foi Moore, mas ainda sim tiveram uma boa atuação. A técnica utilizada foi ótima. Toda a leveza da fotografia, a suavidade das cores utilizadas no figurino e na maquiagem do filme, o enquadramento e a doce trilha sonora transportam o espectador para a época que o filme deseja que você vivencia.
Um filme agradável. Mas cansativo. Toda a doçura utilizada em Longe Do Paraíso até funciona para demonstrar uma vida calma e deixar o filme mais familiar, mas o faz perder o ritmo bem rápido a cada cena cortada e toda essa familiaridade o faz confundir com um filme clichê. Um bom filme, eu recomendo pois é uma temática valiosa e uma atuação imperdível da protagonista, e toda a edição deveria ser conferida para entenderem a leveza de que falo. Mas não é o melhor filme sobre homofobia e preconceito.
NOTA: 6

15 de outubro de 2010

Verdade Ou Consequência (2010)

Um filme de Pascal Franchot com Brittany Robertson e Scout Taylor Compton.

Nossa, nunca perdi uma hora da minha vida assim. Às vezes até gosto de pegar esses filmezinhos desconhecidos e bem clichês para assistir. Em algumas vezes eles me surpreendem e na maioria das vezes essa surpresa vem de algum trash nojento e independente, como Teeth - A Vagina Dentada, um título que eu não dava nada mas que foi até uma experiência divertida. Agora outros só servem para gastar tempo. Verdade Ou Consequência é realmente desnecessário e clichê, tanto que eu nem consigo definir o filme. Quando olhei na capa, ele dizia que era um suspense e apresentava uma sinopse que poderia render até algumas surpresas. Foi o que pensei, ainda mais com um elenco que já fez filmes da franquia Halloween, mas nada salva no filme.
Numa pacata cidade dos Estados Unidos algumas garotas vão comemorar a festa de 16 anos de Eve (Alexia Fast) na casa da menina, entre elas está a antissocial Liza (Scout Taylor-Compton) e a garota popular da escola, Chapin (Brittany Robertson). Quando a festa começa a ficar maçante, Chapin sugere as garotas jogarem "Triple Dog", um jogo parecido com Verdade Ou Consequência, só que sem a verdade. De pouco em pouco o jogo vai revelando mais detalhes sobre a misteriosa morte de uma garota que tinha pulado de uma ponte há 5 meses.
Um roteiro bem chatinho e previsível, que perde o ritmo completamente entre as cenas de diálogos adolescentes e os desafios do jogo, que são bem clichês, variando de correr nua no meio da rua a fingir espasmos num karaokê. Bem, tudo no filme é bem clichê e previsível, é tudo que vemos sobre aquele típico filme de uma vida de adolescente americana. O gritinho de Alexia Fast no fim e o arroto de cumprimento do irmão dela são tão óbvios que eu pensei em desistir do filme nos primeiros minutos. Ah, claro, e ainda me esqueci do fato de muita coisa ficar sem explicação e do filme acabar em um final feliz. Nada contra finais felizes, mas faz tanto tempo que não vejo um que acabei me desacostumando. A atuação é fraquíssima. Consegui ver faíscas na de Brittany Robertson e na de Scout Taylor-Compton, mas elas se apagaram facilmente para dar lugar a um estereotipo desgastado.
Um suspense pré-adolescente fácil, com direito àquela vida que todo jovem sonha em ter. Sair arrotando na cara de todos, andar de skate pelas ruas, explodir uma lata de feijão no microondas, roubar uma revista pornô, pular de uma ponte, invadir uma festa. E eu já cansei demais de toda essa fórmula repetida ao longo dos anos pelos filmes que a indústria norte-americana ainda insiste em fazer. Se fosse uma ideia original, até gostaria de ver Verdade Ou Consequência, mas eu sentia um déjà vu a cada momento do filme. Assim também não dá.
NOTA: 2

13 de outubro de 2010

Amnésia (2001)

Um filme de Christopher Nolan com Guy Pearce e Carrie-Anne Moss.

O típico filme feito para se ver duas vezes, o típico filme que não perde a linha e não para com seu enredo rápido em nenhum momento. É preciso muita atenção para conseguir acompanhar a estranha ordem de Amnésia: o roteiro segue como lampejos de memória do protagonista, indo de trás para frente, diferenciando cenas do passado e do futuro através de imagens em preto e branco. E eu duvido que o filme tivesse o sucesso que tem com sua cronologia seguida religiosamente, seria apenas mais um perdido no meio atual. O filme inteiro é um quebra-cabeças que dá a impressão de ter uma peça faltando, sendo visto de frente para trás ou de trás para frente.
Após ter sua esposa assassinada e estuprada, Leonard Shelby (Guy Pearce) sofre uma pancada pelos assassinos e começa a se esquecer de tudo o que acontece após o acidente, poucos minutos após acontecer. Para ele poder se lembrar do que acontece ele tem que se tatuar e tirar fotos polaroid de tudo, fazendo anotações para não se esquecer do que lhe interessa. Mesmo nesse estado de amnésia a curto prazo ele decide uma vingança ao assassino de sua esposa.
O roteiro é incrível, genial. Tudo criado para Leonard poder fazer uma investigação sem se lembrar de fatos recentes, muito bom. Um cena ótima foi ver como tiram vantagem de sua sequela, criando uma dúvida em quem é mal e quem finge ser bom para se aproveitar da pouca memória dele. Mas os aplausos do roteiro são por não retirar o ritmo um segundo sequer do filme, a atenção do espectador é essencial para qualquer entendimento já que você tem que fazer uma associação entre as cenas cortadas apresentadas na película. Ah, e a ótima narrativa também deve ser levada em conta para o desempenho de Amnésia já que trás um aspecto interativo, você vê a memória do personagem funcionando na telona através de lampejos confusos e paralelos, podendo demorar um dia inteiro ou poucos minutos para Guy Pearce perder sua memória, causando até uma certa comicidade nas cenas. Algo que achei interessante é que as cenas coloridas vem de trás para frente enquanto a preto-e-branco segue a linearidade normal. E quando as duas se chocam, vemos a primeira e a última cena se repetindo.
Boa atuação de Guy Pearce, ele conseguiu trazer a tona o melhor e o pior de seu personagem na hora certa, mistura que criou um bom resultado. Carrie-Anne Moss está ótima, sua Natalie ora aproveitadora ora carente é algo único para ser ver. Tenho que falar que Joe Pantoliano está o cúmulo da falsidade no filme, mas no bom sentido. Sua interpretação do misterioso Teddy - afinal ele é um traficante perigoso ou um policial que quer ajudar Leonard? - está magnífica. A direção fica por conta do grande Christopher Nolan - responsável pelo famoso Batman: O Cavaleiro Das Trevas e por A Origem, o melhor filme de 2010 até agora - que criou essa obra-prima com maestria.
Misterioso. Envolvente. E, por pior que seja o trocadilho, inesquecível. Isso é Amnésia, a obra-prima de Christopher Nolan que te envolve por duas horas como se sua mente funcionasse por lacunas e como se essas lacunas fossem se fechando a medida que uma nova surgisse. É criar um quebra-cabeça e ter de resolver com as poucas informações, é guardar o que você quer na sua mente criando estereotipos diferentes para uma mesma pessoa através de primeiras impressões, através de uma lógica incompleta, através de uma vingança cega que consumiu o personagem de Guy Pearce de modo que ele insistisse em continuar caçando e caçando qualquer um que se encaixe na sua visão de assassino. Um filmaço.
NOTA: 9

12 de outubro de 2010

Réquiem Para Um Sonho (2000)

Um filme de Darren Aronofsky com Jared Leto, Ellen Burstyn e Jennifer Connelly.

Esqueçam tudo o que eu falei sobre como Eu, Christiane F., 13 Anos - Drogada e Prostituída retratava bem o mundo das drogas. Realmente, ele retrata, mas não é o melhor. Réquiem Para Um Sonho, graças à ótima perspectiva do diretor, consegue te fazer ver o filme como um viciado, graças aos cortes da câmera, as repetições constantes, ao balanço nos ápices da loucura causada pelas drogas e por todas as imagens chocantes que mostram um fim - real e bem cruel - de um usuário de drogas. E toda a ideia que Darren Aronofsky teve, dar a seus personagens um sonho e ter as drogas como caminho mais rápido para esse sonho, é fantástica.
Harry Goldfarb (Jared Leto) é um jovem apaixonado, mas é um viciado em drogas, e para manter esse vício ele revende a televisão de sua mãe inúmeras vezes. Ele namora Marion Silver (Jennifer Connelly), uma garota cujo sonho é ter uma loja para poder mostrar seus designs, mas graças a falta de dinheiro ela não concretiza esse sonho. Para ajudá-la, Harry e seu amigo Tyrone (Marlon Wayans) compram drogas, as adulteram e as revendem por um preço mais alto ainda, o que lhes rende uma grana extra. Já a mãe de Harry, Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), é viciada em televisão. Um dia ela recebe um convite para participar de um show na TV, que ela aceita orgulhosamente. Porém, na hora de experimentar o vestido vermelho em que ela ia aparecer para o mundo ela vê que está alguns quilos acima do peso. Após tentar uma dieta ela começa a tomar pílulas para emagrecer, mas acaba não vendo que o medicamento começa a consumí-la de pouco em pouco.
Com um elenco desses é bem difícil a atuação não sair como esperada. Jared Leto está ótimo, mas não tão bom quanto as atuações femininas. Adorei Jennifer Connelly, a frieza que ela insistia em colocar em Marion, sua personagem com uma auto estima baixíssima, veio a calhar perfeitamente durante o filme inteiro e no incrível fim, e sua auto-negação só ajudou a crescer sua atuação. Ellen Burstyn teve simplesmente uma das melhores atuações dos últimos tempos como a dona-de-casa solitária, que ainda guarda ressentimentos e lembranças após a morte do marido e insiste em maquiar toda essa sua mágoa se afogando em chocolates e na televisão. Fotografia linda e uma maquiagem boa e angustiante. Ótima técnica utilizada, deu um tipo de interação com o público sem precisar se utilizar do documentário falso.
O roteiro provém de uma ideia simples já utilizada por muitos, mas as consequências e ramificações desse projeto são bem originais e merecem toda a admiração do público e a valorização do filme. Os personagens podem continuar com suas vidas amarguradas, seguindo em frente sem nenhuma surpresa boa ou podem arriscar a seguir as drogas e aí a vida deles tem um caminho certo a ser seguido. O fim é incrível, não exagero em dizer que foi um dos melhores que já vi: todos os sofredores deitados de conchinha no auge da sua dor, da sua angústia e da sua vida. Além disso, toda a utilização de vidros abrindo, cocaína cozinhando, pílulas na mão, toranjas recém-comidas, café sendo bebericado e pupilas dilatando, coisas simples para significar a continuação da estória, é fantástica. O roteiro não perde seu pique em momento algum, o filme vai só subindo ao passa que vai terminando, deixando um grande "quero mais" no fim.
Uma ótima ideia que foi Réquiem Para Um Sonho. Mexe com sonhos se utilizando do caminho fácil que é entrar no mundo das drogas, mexe em como os sonhos se realizam fácil nesse mundo e como eles acabam rápido dando lugar ao vício, sem a própria percepção, e à histeria. E tenho que parabenizar novamente a excelente Ellen Burstyn, que ficou mesmo louca para interpretar sua sofrida personagem no filme e me deu a graça de ver sua fabulosa atuação. Não entendo como perdeu o Oscar para Julia Roberts.
NOTA: 10

11 de outubro de 2010

Sociedade Dos Poetas Mortos (1989)

Um filme de Peter Weir com Robin Willians.

Ou então a ineficácia do sistema educacional. O que eu vejo aqui é um paralelo ao que A Onda propunha. Enquanto o alemão incentivava os alunos a se tornarem nazista e fechavam seu pensamento para uma ideologia fascista, a Sociedade Dos Poetas Mortos cria uma forma de pensamento amplo para os alunos escaparem da ideologia disciplinar proposta pelo sistema educacional. E, por mais que o roteiro seja intensamente previsível ao longo que o tempo passa, por mais que as atuações não valham muito numa escala e por mais que o roteiro tenha fugido de seu tema principal para dar lugar a situações que podem ser vistas em filmes adolescentes da Disney, a lição é ótima porque vai contra quem ensina as lições atualmente, quem forma e formou as mentes com ideias pré-estabelecidas.
No ano de 1959, numa escola preparatória altamente tradicional, onde só homens são permitidos, os alunos vivem sempre no mesmo paradigma de estudar para serem algo "útil", que lhes renda muito dinheiro, alunos como o animado Neil Perry (Robert Sean Leonard), que sofre intensa influência do pai; e Todd Anderson (Ethan Hawke), um garoto tímido e introspectivo. Porém, com a chegada do novo professor de inglês, John Keating (Robin Williams), os alunos descobrem uma forma de fugir da ideologia escolar e a pensarem por eles próprios, e com isso formam a Sociedade dos Poetas Mortos, um clube onde podem fugir de todo o método arcaico proposto pelo colégio.
Nos primeiro minutos, me senti vendo a Sessão da Tarde. A atuação não é o forte do filme, não mesmo. O roteiro é que consegue salvá-lo por inteiro. E por inteiro mesmo. Fotografia, trilha sonora, figurino, foram bons aspectos, mas só criaram ainda mais a impressão de eu estar vendo a Globo. A previsibilidade do roteiro também ajudou muito esse aspecto, e por começo o que ele propôs me lembrou uma tonelada de outros filmes que seguiram o estilo clichê. Todas as situações, os alunos, a escola, tudo me lembrou uma ideia reciclada pela trigésima vez. Mas o que o difere foi o quanto se doaram para criar a película, e o quanto ela emociona, e o quanto a ideia que ela traz é bem feita. Todos os aspectos que se sobressaíram no filme foram incríveis, todo o tradicionalismo mostrado pelos velhos professores do colégio e, tendo como contraste o jovem sr. Keating, todas as frases retiradas de romances ou de discursos, todo o método criado pelo professor novato para ir na contramão contra o proposto pela escola, toda a rigidez do castigo aplicado pelo diretor no que continha uma rebeldia, toda a disciplina tendo que ser seguida pelos alunos e, o que achei de mais fantástico, toda a rigidez que Kurtwood Smith, no filme representando o pai de Neil, usava com seu filho. E embora tenha sido feito há 20 anos representando a sociedade de 59, nada mudou até agora.
Quase nada na obra me surpreendeu, mas pelo entrosamento que tudo teve com a temática, ele já subiu bastante. Algo, assim como falei em O Fabuloso Destino De Amélie Poulain, que já deveria estar na mente de todos, mas precisa de intervenções da indústria cinematográfica para ser colocada em voga nos dias de hoje. A escola preparatória prepara para a vida, não molda alunos. Qualquer lugar prepara as pessoas para pensar, enquanto a instituição de Sociedade Dos Poetas Mortos prepara o pensamento das pessoas para que não haja revoluções e que só haja o potencial de um aluno nota 10. Um filme bem necessário. Carpe Diem.
NOTA: 8

10 de outubro de 2010

O Fabuloso Destino De Amélie Poulain (2001)

Um filme de Jean-Pierre Jeunet com Audrey Tautou e Mathieu Kassovitz.

Um filme mais do que supervalorizado, mas que não se estraga fácil. O Fabuloso Destino De Amélie Poulain virou figurinha repetida entre os cinéfilos e é um daqueles filmes que merece todo o sucesso que tem. Embora tenha algumas falhas no meio e envolva situações simples que até parecem bobas vistas de certo modo, já que fala sobre como os pequenos gestos criam um "furacão" a partir de vários exemplos diários, é um filme delicioso proveniente do fabuloso cinema francês que merece ser aplaudido toda vez que é visto. E é com toda essa simplicidade e com o carisma e ingenuidade de Audrey Tautou que o filme é criado, além de toda a visão e a apresentação que Jean-Pierre Jeunet cria para os personagens fascinantes da trama.
Amélie Poulain (Audrey Tautou) é uma mulher com vários problemas. Quando pequena ela perdeu sua mãe graças a uma suicida e como ela só tinha contato com o pai quando ele analisava o coração dela, este batia incessavelmente, o que fez o pai acreditar que ela tinha algum problema cardíaco. Crescida, Amélie continua vivendo num mundo que ela criou para sua própria comodidade, até que acha uma caixinha enferrujada em seu banheiro com brinquedos antigos. Na sua busca incansável de achar o dono, ela toma uma decisão: dependendo da reação dele, ela ou continua vivendo sua vida infeliz ou começa a modificar a vida dos outros para melhor. Após ver toda a emoção do homem transbordando, ela começa a ajudar o próximo e a se esquecer de cuidar da própria vida, que está um caos.
O roteiro é fabuloso. Todo o detalhismo das personagens, todos os tiques e problemas e ainda todo o estofo e toda a explicação do porque dos atos e das reações são bem trabalhados. Sempre que Amélie fazia alguma alteração na vida alheia, eu morria de rir ao ver as consequências. E, por mais simples que seja a temática do filme, essa foi a segunda vez que vi a obra e percebi muitas coisas que tinha perdido à primeira vista. Mas o ponto alto do filme foi conseguirem transmitir uma ideia simples (que precisa ser reaprendida urgentemente) com uma narração interativa e engraçada, de forma que o espectador vê um pouco dele na tela através dos gestos inteligentíssimos de Amélie.
Audrey Tautou está fabulosa, é uma Amélie Poulain nata e com certeza foi a atuação que marcou sua carreira, seu carisma e sua doçura constituem seu personagem de forma que o filme fica mais interessante a cada segundo que passa. Mathieu Kassovitz vem logo depois de Tautou; não tem uma interpretação tão singela quanto ela mas consegue transmitir toda a ânsia de seu personagem. A trilha sonora, composta pelo grande Yann Tiersen, é intensificada a cada momento. Bela fotografia.
O Fabuloso Destino De Amélie Poulain é fácil de ser digerido, é doce e tem um roteiro simplíssimo, mas que foge de qualquer clichê existente. E é isso que o caracterizou como um dos melhores filmes da década passada, que o indicou a 5 Oscars, que começou o expansionismo de filmes independentes, que semeou uma ideia que precisava ser reciclada e que o fez ser tão supervalorizado merecidamente hoje em dia por todos que se encantam e se identificam com as esquisitices e o visual da meiga Amélie Poulain
NOTA: 10

9 de outubro de 2010

As Horas (2002)

Um filme de Stephen Daldry com Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore.

Bastante infeliz, essa é a verdadeira descrição da obra que foi As Horas. A infelicidade invade o filme inspirado em livro, com uma trajetória mesclada e não linear entre vidas amargas e infelizes. E é a mais pura infelicidade. Belo filme de Stephen Daldry, ele conseguiu criar uma atmosfera ainda mais densa que o livro, que é tão belo e tão triste quanto o filme. E apesar de toda a sincronia alegre que as três protagonistas insistem em fazer em vários momentos do filme, nos pensamentos suicidas, nas suas estórias de vida que as marcam, nas suas doenças, nas suas manias e nos seus traumas que cativam o público com um sentimento contagiante, tudo isso ainda consegue exalar tristeza intensa, desde os diálogos interessantes e corridos até o figurino de cores mortas.
O filme é dividido em 3 partes principais. A primeira conta sobre a história de Virginia Woolf (Nicole Kidman), uma escritora doente e depressiva, que tem ideias suicidas constantemente e isso a atrapalha a manter a calma perto das pessoas e se concentrar para escrever suas obras; a segunda ocorre 28 anos depois, em 1951, com Laura Brown (Julianne Moore), a esposa de um ex-soldado que planeja fazer uma festa para ele, mas após alguns acontecimentos do dia começa a pensar sobre toda a sua ligação conjugal; e, em 2001, um dia especial para Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora que vive em Nova York e planeja dar uma festa a seu antigo amante, Richard (Ed Harris), que ganhou um prêmio por escrever um livro sobre sua vida com a AIDS. Toda estão interligadas pelo romance Mrs. Dalloway. Virginia o escreve, Laura o lê e Clarissa o vive.
A atuação do filme é esplêndida, embora eu tenha me surpreendido negativamente com Meryl Streep. Achei que ela tiraria seu papel com maestria, mas não conseguiu me prender a sua história como as outras duas principais conseguiram. Julianne Moore realmente está ótima nesse, consegue transmitir toda a sua dor para o espectador ver quanto seu casamento é baseado em relações de submissão e um compromisso inexistente e quanto seu suicídio parece ter razão a cada hora. Nicole Kidman não fica atrás. Como Virginia Woolf, uma mulher séria e sem expressões, ela ficou ótima. Não é uma personagem muito interessante, já que ela derramava até lágrimas com relutância, mas também não é uma personagem fácil, e Nicole a tira de letra. Os figurinos de 1923 e de 1951 merecem um destaque, além da maquiagem e a da fotografia usada nos diferentes momentos do longa.
Os detalhes do roteiro para transformarem um filme que poderia ser retratado de uma maneira mais animada (assim como foi feito em Julie & Julia) em um ode à tristeza ficaram ótimos. Todas as sutilezas da câmera na hora de retratar o descanso das três moças, as tendências suicidas e lésbicas que todas apresentavam, as flores que as três agraciam de manhã e, principalmente, o romance que une a todas, são incríveis. Até os diálogos se interligam em certas horas construindo a mágica e a delicadeza da doce visão das personagens. E toda a adaptação das páginas do livro de Michael Cunningham conseguiram transmitir quase tudo que ele quis passar, embora ainda falte algo que só pode ser encontrado na literatura.
A imaginação das histórias de uma vida pública e duas vidas atormentadas no silêncio é algo ótimo. E a criação de nossa imaginação nas imensas telas de cinema pode ser ainda melhor. Todo o sofrimento de Virginia Woolf foi trazido a tona por intermédio de sua doença e da bela atuação de Nicole Kidman, que lhe rendeu um Oscar. A felicidade falsa de Clarissa Vaughn não poderia ser melhor ambientada do que na Nova York de 2001. E a esposa que chora por sua vida, assim como as outras donas-de-casa da vizinhança, não seria a mesma se não fosse Julianne Moore. Tudo no filme cheira a perfeição desde o início, assim como o sofrimento que As Horas traz.
NOTA: 10

6 de outubro de 2010

De Olhos Bem Fechados (1999)

Um filme de Stanley Kubrick com Tom Cruise e Nicole Kidman.

No mínimo, angustiante e confuso. Como todas as obras de Kubrick. Mas, novamente, achei super valorizado. Novamente, outro filme que tinha tudo para ser bom, mas não superou as expectativas. E novamente, outro filme com Tom Cruise, estou começando a achar que a culpa é dele. De Olhos Bem Fechados não chega a ser tão cativante como ele fez com O Iluminado ou Laranja Mecânica. O último filme de Stanley Kubrick poderia ter fechado sua carreira impecável com chave de ouro, mas parece que só acharam uma de bronze e não fizeram esforço para transformá-la em algo melhor. Não nego que o roteiro é envolvente e que as duas horas e meia de perfeccionismo e loucura kubrickianas valeram a pena, mas esse filme parece o fim de uma filmografia de um mestre do terror no auge de sua ousadia, e não de um Stanley Kubrick.
O filme fala sobre a relação tempestuosa do casal composto pelo médico Bill Harford (Tom Cruise) e Alice Harford (Nicole Kidman). Durante uma festa de Natal, Bill conhece duas garotas, mas precisa atender uma mulher com urgência, cancelando qualquer programa que viria depois, enquanto Alice dança a festa inteira com outro homem. Isso cria ciúmes nele e, com toda a pressão de seu marido, Alice diz que um dia flertou um marinheiro e ainda confessou que estaria disposta a largar Bill e sua filha Helena (Madison Eginton) por uma noite com ele. Após isso, Bill sai pelas ruas de Nova York na noite mais bizarra de sua vida, sem poder distinguir o que acontece de realidade ou farsa.
Gosto do roteiro porque me lembra Dom Casmurro, já que Alice não revela em momento algum se a traição realmente ocorreu. Embora todo o seu discurso leve a crer que nada aconteceu, a paranóia de Bill cria certa tensão no espectador, de forma que o público comece a ter a dúvida da traição de Alice. E o roteiro, além de toda essa dúvida saudável, ainda é louco o bastante para prender o espectador entre cenas de orgia, rituais, traição e loucura, muita loucura, embora eu o ache viajante demais. Mais do que toda essa viagem, o filme coloca questões sociais do cotidiano, como o casamento, o adultério, o machismo e a prostituição com a banalização sexual.
A atuação é bem polar. De um lado temos o clichê supervalorizado que é Tom Cruise. Embora ele tenha vários picos no filme em que a atuação realmente me surpreendeu, seus baixos o compensam. Então temos o mediano, composto pelos co-coadjuvantes do filme. E no outro lado, temos Nicole Kidman, que, embora apareça muito pouco e nessas poucas aparições apareça com pouca roupa, está magnífica. A fotografia e a filmagem estão impecáveis graças ao perfeccionismo de Stanley Kubrick em manter tudo alinhadinho para, se não criar um sucesso de interpretação ou roteiro, ter ótimo efeitos técnicos durante a sessão. E a trilha sonora é outra ponto de ressalva.
Um bom filme, não nego. Mas muitos julgam a obra por ser a última peça que Kubrick colocou no mundo como perfeita, linda, maravilhosa, um dos maiores filmes do século passado. Não vi nada disso, Kubrick apenas trabalhou o que vemos diariamente através de dúvidas sobre relações sexuais. Não é perfeita, mas bem intrigante e angustiante. Antes de escrever aqui, li uma crítica sobre o filme de uma estudante de cinema da FAAP que fala que o espectador de De Olhos Bem Fechados é um voyeur por natureza, bela definição para o efeito da obra.
NOTA: 8

5 de outubro de 2010

Fargo - Uma Comédia de Erros (1996)

Um filmes dos irmãos Coen com Frances McDormand, William H. Macy e Steve Buscemi.

E eis aqui a salvação para o meu problema anterior. Estava quase desistindo de ver filmes de comédia até me lembrar que os irmãos Coen mudam completamente minha visão. O que eles fazem aqui é exatamente a fórmula de Todo Mundo Em Pânico multiplicada por 2: eles colocam todo o clichê de gírias, sotaques e situações cotidianas e o trabalham de um modo tão irônico que seus filmes viram uma comédia. Rir de nós mesmos, expor nossa vida com uma grande lente de aumento mantendo em foco apenas os piores pontos, é isso que Fargo fez e que fez tantas pessoas rirem no mundo com suas situações tão normais e tão diárias que chegam a ser engraçadas se as identificarmos fora do paradigma de nosso cotidiano.
Na cidade de Fargo, na Dakota do Norte, Jerry Lundegaard (William H. Macy), o gerente de uma revendedora de automóveis, tem um plano para conseguir dinheiro de seu sogro: ele vai armar o sequestro da esposa para, quando ganhar o dinheiro para o resgate, ficaria com uma parte e daria 80 mil para os sequestradores. Porém, após um triplo assassinato na estrada e a insistência do sogro a resolver tudo a maneira dele, nada ocorre como esperado, ainda mais quando a oficial de polícia Marge Gunderson (Frances McDormand) se envolve no caso.
A fotografia de Fargo ficou linda, ainda mais com todos os seus momentos no meio do nada, na solidão completa por neve e gelo. A atuação está ótima, uma grande ressalva para Frances McDormand, a favorita dos irmãos Coen, que merece boa parte dos créditos por esse filme já que ela conseguiu criar uma personagem super envolvente por todas as coisas maçantes em comum com o público. Steve Buscemi também foi responsável pelo humor, graças a seu papel de ladrão atrapalhado e bobo, mas nem tanto ao ponto de transformar sua atuação num clichê e o filme num besteirol. William H. Macy também está ótimo, adorava ver todos os planos dele irem por água abaixo a cada cena.
Todos esses temas sobre assassinatos e o humor gerado por nossos próprios erros sempre é trabalhado - magnificamente, diga-se de passagem - pelos Coen de forma irônica e crítica. Também pode-se ver no filme uma crítica ao emburrecimento televisivo. O ponto alto de Fargo é o que eu venho falando desde o começo desse post, o sarcasmo quando entra em questão a banalização das relações sociais e da violência. Tudo no filme é tratado com uma naturalidade assombrosa a ponto de fazer a tolice dos personagens dessa trama parecer algo genético que está para assolar toda a humanidade com sua falta de surpresa em relação a homicídios brutos. E ainda há toda a questão do regionalismo no filme, eu ria toda vez que alguém falava um "yeah" de tanto que a expressão foi usada em excesso.
Fargo traz um roteiro brilhante baseado em fatos reais com toda a ironicidade dos diretores e no auge das melhores atuações de Frances McDormand e William H. Macy. E é disso que o cinema está precisando atualmente, novos risos com críticas implícitas ao nosso chato cotidiano corriqueiro, e não comédias com personagens estereotipados com piadas fáceis.
NOTA: 9

4 de outubro de 2010

Os Vampiros Que Se Mordam (2010)

Um filme de Aaron Seltzer com Jenn Proske.

Estou cansado de comédias se elas não forem bem feitas. A primeira vez que eu vi Todo Mundo Em Pânico, eu morri de rir. Claro, todo aquele terror que era divulgado nos filmes mais assustadores sendo satirizado entre cenas de nojo e sexo eram hilários quando a fórmula da paródia era a novidade da comédia. Depois, começou a forçar a barra. Após todos os filmes da franquia Todo Mundo Em Pânico, tivemos outras paródias, como Super Heróis e Espartalhões. E agora temos Os Vampiros Que Se Mordam, que segue a mesma lógica de seus antecessores. E digo que, se o ramo da comédia continuar assim entre as maiores promoções, eu tenho pena do futuro dos filmes feitos para rir.
Becca (Jenn Proske) é uma garota normal que está dividida entre dois garotos: o vampiro Edward (Matt Lanter) ou o lobisomem Jacob (Chris Riggi). Uma paródia de toda a saga Crepúsculo, além de se utilizar de outros ícones pop como Gossip Girl e Lady GaGa.
Acho que a atuação de Jenn Proske é que salva o filme. Imitando todos os trejeitos de Kristen Stewart na saga original, é realmente engraçado ver todos os tiques de Bella sendo parodiados por Becca. Os outros atores ficam entre o riso e o forçado, já que o filme se utiliza de muito clichê e de várias piadas feitas exclusivamente para o público norte-americana para tentar trazer a tona o humor enterrada por eles. E, em como toda trama de comédia escrachada, os personagens surgem em frações de segundos para desaparecerem rapidamente, só há a utilização deles para uma ou duas piadas de uma forma totalmente descartável.
Entre uma fórmula escrachada do humor e piadas sem graça, aqui está Os Vampiros Que Se Mordam, já que ele é necessariamente feito apenas disso. Como atualmente os filmes de comédia estão divididos entre os clichês de Adam Sandler e Jim Carrey e os clichês de sátiras feitos pelos mesmos roteiristas de Todo Mundo Em Pânico (começo a acreditar que são os únicos que existem no mundo para criar tantos rótulos e tantos filmes repetitivos), o melhor atualmente é procurar um drama ou romance, até alguém reinventar a fórmula do riso.
NOTA: 1

2 de outubro de 2010

Vanilla Sky (2001)

Um filme de Cameron Crowe com Tom Cruise, Cameron Diaz e Penélope Cruz.

O fim de um filme pode ferrar com tudo. É isso que eu tenho para falar de Vanilla Sky. Eu estava vendo uma obra prima em meus olhos, com muita confusão durante o rumo que as coisas tomaram. E essa confusão me fazia feliz, assim como eu fiquei feliz e confuso vendo Donnie Darko e Magnólia. Então, 20 minutos antes do fim, resolvem explicar tudo, tudo sobre o filme, ao invés de criar um fim tão enigmático quanto o resto. E essa explicação cuspida é que fez a obra prima que era o céu de baunilha de Monet e todas as suas metáforas durante o filme despencarem assim como Tom Cruise. O filme te faz pensar para que você consiga acompanhá-lo. Não é preciso pensar, já que o fim dele te explica tudo.
David Aames (Tom Cruise) tem uma vida incrível. Tem 51% das ações de sua própria empresa, é rico e mantém uma amizade colorida com Juliana Gianni (Cameron Diaz). Porém, durante uma festa, ele conhece Sofia Serrano (Penélope Cruz), e essa jovem modifica sua visão sobre o mundo. Ele passa a noite na casa dela rindo, fazendo caricaturas um do outro e descobrindo o amor. Quando ele pretende voltar para casa, Juliana aparece e oferece uma carona. No meio do caminho ela tem uma crise de ciúmes, dizendo o quanto ela queria que eles fossem mais que amigos e que ela apenas significava uma amante para ele. Nisso, ela joga o carro a 120km/h de uma ponte e se suicida, mas David não morre, entrando em coma e tendo sua face desfigurada e fraturas no braço e na mandíbula. Quando David volta do coma, ele começa a ter dificuldades para distinguir realidade, memórias e sonhos.
O roteiro é ótimo e original em partes, já que essa ideia de misturar realidade e sonho já foi explorada em outros filmes como A Origem, Donnie Darko, Oito E Meio e ainda temos o filme em que Vanilla Sky foi baseado, Abre Los Ojos. Mas aposto que o filme teria dado certo se não tivesse aquele desfecho horrível. Se a cena do elevador não aparecesse para explicar as coisas, o filme até se sairia um pouco melhor. Ele tem umas sacadas geniais, eu comecei a prestar atenção e ver mensagens em tudo. Isso me lembra, por falar em Abre Los Ojos, eu ainda não conferi, mas muita gente diz que é bem melhor que a cópia que foi Vanilla Sky. E lendo a sinopse na net, descobri que também há uma Sofia no filme espanhol, e adivinhem por quem ela é interpretada...? Isso mesmo, Penélope Cruz. Novamente.
Acho que perdi a hora em que Tom Cruise parou de ter uma atuação realmente boa e começou a sorrir sem parar nos seus filmes de ação. Observei sua seriedade em Magnólia e De Olhos Bem Fechados. Em Vanilla Sky ele traz uma pouco dessa seriedade que ele mantinha nos seus filmes do século passado e seu sorrisinho de galanteador da década passada. E que continua nessa década. Ao menos ele não usava armas ou pulava prédios. Gostei de Cameron Diaz em sua crise de ciúmes, embora tenha durado uns 3 minutos. Penélope Cruz foi, sem surpresa alguma, a melhor do filme, embora ainda faltasse alguma coisa nela. Uma boa atuação, mas não se compara a outros trabalhos. Adorei a fotografia e adorei igualmente a trilha sonora. Bom figurino também, acho que vale uma ressalva.
O que consigo falar do filme? Supervalorizado. É. Eu estava até com medo de não entender Vanilla Sky antes, já que tinham várias discussões sobre o que era o filme, que milhares de pessoas não tinham entendido. Seguindo a cronologia, você consegue desvendar a verdade uma meia hora antes do filme acabar. Mas como alguém vai fazer um resuminho todo no fim e acabar com toda a lógica criada pelo espectador, acho que nem vale a pena pensar. Tinha tudo para ser um filme bom e alegrar meu fim de semana, independente de ser um remake de um filme europeu. Mas não conseguiu se salvar nem com o bom roteiro nem com a atuação em peso.
NOTA: 6

A Chave Mestra (2005)

Um filme de Ian Softley com Kate Hudson.

É um bom suspense, mas se você procura algum filme de terror que te deixe morrendo de medo por sustos e situações doentias, esse não é o filme certo. A Chave Mestra é um filme que fala mais sobre fé do que qualquer coisa, e pra mim isso que o difere de outros filmes de suspense que trabalham com o irreal, pois esse usa a religião e os rituais de magia como base. E o que filme traz de irreal, ele consegue explicar usando a fé, ao contrário de outros que criam situações de um horror macabro, mas sem a necessidade de explicar intenções ou o que acontece de mal.
Caroline Ellis (Kate Hudson) pretende fazer escola de enfermagem, mas não tem dinheiro suficiente para isso. Por isso, ela faz bicos como acompanhante de doentes terminais. Num desses trabalhos, ela descobre o anúncio de Violet Devereaux (Gena Rowlands), uma senhora cujo marido, Ben Devereaux (John Hurt), teve um derrame. Os dois moram numa região isolada de Nova Orleans onde a misticidade está em todo ar. Caroline, como cética, não acredita em nada do que lhe é imposto sobre as magias e os sobrenaturais. Quando ela chega na casa, Violet lhe dá uma chave mestra, que abre todas as portas da casa. Num dia, ela acha uma porta escondida no porão com artefatos da religião hudu e começa sua dúvida sobre o que é real e o que é irreal.
Não consigo gostar de Kate Hudson. Sua única expressão e sua ceticidade acabaram com sua atuação no filme, embora a voz fria que ela usava ficasse perfeita quando ela se dirigia à Gena Rowland, e no fim sua expressão de morta veio a calhar. Gena Rowland conseguiu ser melhor que ela em tudo. O filme teve uma fotografia bela. Toda a crença que o filme trouxe a tona é interessantíssima, o fato de tudo só ferir se você acreditar. Você só se assusta com um filme de horror se você acredita naquilo que se passa, por isso os trash são mais comédia do que qualquer outra coisa. O grande problema do roteiro é o fato de Kate Hudson ser uma cética e não acreditar em nada do que lhe falam, e então se submeter a um mundo de magia com apenas alguns objetos.
É um bom filme para se ver, realmente recomendo, ainda mais que não é tão longo e não vai ocupar tanto tempo. E ainda consegue se explicar com uma lógica sobre todos os fatos ocorridos durante a sessão. E um excepcional: o fim não é assim tão previsível e chega a ser bom. O problema é que vira um contraste entre a fé proposta durante o filme e o pânico que ocorre no fim. É um filme completinho e fechadinho, o que faltou foi a credibilidade, tanto na atuação de Kate Hudson quanto na situação proposta pela película. Mesmo assim, A Chave Mestra ainda consegue gerar discussões tanto filosóficas quanto religiosas se não for visto como um filme de terror.
NOTA: 6

Piaf - Um Hino Ao Amor (2007)

Um filme de Oliver Dahan com Marion Cotillard e Gérard Depardieu.

Em alguns filmes, eu me esqueço do roteiro e só vejo a atuação, tendo que ver o filme novamente para poder verificar o que eu perdi na estória. Björk me fez chorar em sua obra prima Dançando No Escuro. Eu senti toda a fúria de Nicole Kidman em Dogville e em sua excelente Virginia Woolf de As Horas. Ri demais com Cecilia Roth em Tudo Sobre Minha Mãe. Não imagino uma melhor Clementine de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças do que foi Kate Winslet. A estreia de Mo'nique no ano passado em Preciosa deu o que falar. Adoro conferir, sempre que posso, a brilhante Hilary Swank em Menina de Ouro ou no também premiado Meninos Não Choram. E Julianne Moore, posso dizer que sua atuação em Ensaio Sobre A Cegueira foi acima de qualquer expectativa. Piaf é a obra prima de Marion Cotillard, e é realmente uma obra prima que não ocorre duas vezes no mundo.
Desde pequena, Edith Piaf (Marion Cotillard) sofre. O filme narra sua história desde quando era criança, quando tinha que viver nas ruas francesas com sua mãe cantora. Após isso, o pai foi buscá-la e a deixou na casa da avó, que é um cabaret, onde ela teve convivências diárias com a vida de um bordel. Edith ficou cega mas se curou milagrosamente por uma oração à Santa Teresa, a tornando uma mulher religiosa desde então. Quando o pai vai buscá-la, ela começa a cantar para poder ganhar sua vida no mundo, se tornando a francesa com o vozeirão que ela foi. Além disso, toda a vida pública de Edith foi explorada para mostrar os caprichos e a polêmica que ela sofria.
Como falei, a atuação é impecável. Única. Conheci o trabalho de Marion Cotillard com sua pequena participação em A Origem, deste ano. A partir daí, vi Nine, um musical do ano passado em que ela cantou lindamente. E sua atuação só ia crescendo. Agora, com Piaf - Um Hino Ao Amor, ela chegou ao auge. Toda a modificação que a atriz sofreu foi incrível, desde Piaf em sua época de cantora de cabarés até a Piaf de 47, na véspera de sua morte. Parece que Edith Piaf desceu em Marion Cotillard nesse filme, todos os trejeitos que ela usava durante sua cantoria lembram a francesa. A fotografia e o figurino estão incríveis. Acima deles eu coloco a maquiagem e a trilha sonora, que ficaram fantásticas.
Além de ter uma atuação indescritível, o roteiro ainda é simpaticíssimo e emocionante. Cada história é uma história, e mesmo Edith Piaf sendo orgulhosa e cheia de caprichos, sua estória é linda, até chegar ao ponto de  lotar um show em sua primeira apresentação após um desmaio. O fim, com Edith cantando sua bela Non, Je Ne Regrette Rien, foi perfeito, a música combinando com toda a sua vida. As duas e longas horas do filme se passam num minuto em meio a sua beleza e todo o sofrimento de Edith Piaf.
Piaf - Um Hino Ao Amor é uma beleza com suas músicas cativantes, seu cenário encantador e seu roteiro delicioso. Mas a fama do filme é gerada por aquela que conseguiu transmitir o sofrimento da polêmica cantora francesa, aquele que utilizava das doenças, do movimento dos ombros, do cabelo, das roupas, das mãos, do quadril, de tudo, para ser Edith Piaf. Ovaciono as duas mulheres no filme, tanto Edith Piaf quanto Marion Cotillard.
NOTA: 9

1 de outubro de 2010

Menina Má.com (2006)

Um filme de David Slade com Ellen Page e Patrick Wilson.

É bem divertido para se passar uma tarde, um suspense que consegue prender e, com apenas duas pessoas, o filme é levado inteiramente. Mas é muito supervalorizado. Já ouvi tantos comentários bons desse filme e o único que eu consigo concordar é que ele apresenta uma ótima atuação, e Ellen Page está ótima. Realmente, é um bom filme sobre toda a questão da pedofilia, mas existem outros bem melhores, já que esse mostra através de placas de procurado e de fotos inexistentes. Embora isso sirva para aumentar a tensão do público, não serve para retratar o mundo frio em que homens de 40 anos estupram garotinhas de 16. E, cá entre nós, a história não tem uma motivação sólida.
Através de uma sala de bate-papo, o fotógrafo de 30 anos Jeff Kohlver (Patrick Wilson) conhece a menina de 14, Hayley Stark (Ellen Page). Os dois, para poderem se encontram, combinam numa lanchonete. Tudo ocorre perfeitamente: eles conversam sobre livros, a profissão dele e o último show do Goldfrapp, além de ele comprar para Hayley uma camiseta. Quando ela pede para ir a casa de Jeff tirar uma fotos, ele fica receoso, mas concorda. Chegando lá, ela prepara umas bebidas com uma garrafa de vodka e os serve para ela começar o "show". Mas Jeff desmaia e quando acorda vê que Hayley vasculhou sua casa inteira procurando ligações entre ele e uma menina desaparecida.
Para mim, a atuação salva o filme. Ellen Page está fantástica, não chega a ser uma atuação memorável mas chega a me fazer crer em sua história. Patrick Wilson me surpreendeu, achei ele muito bom durante a metade do filme para frente, só no começo que ele me pareceu meio travado. Adorei a trilha sonora e a fotografia. Achei o figurino espetacular em Ellen Page, pelo que eu entendi foi uma metáfora à história de Chapeuzinho Vermelho, coisa fácil de perceber pelo pôster. Mas dava para chamar o filme de A Revolta Da Chapeuzinho, onde ela se vira contra o lobo numa vingança macabra.
O roteiro é bom pela dúvida que ele causa. No início, temos a imagem de Jeff como um aliciador de meninas. No clímax do filme, temos Hayley como uma menina psicótica. E no desfecho, temos uma reviravolta. Tirando isso, nada de mais. Tem filmes muito melhores que retratam a pedofilia. Temos Mistérios Da Carne, Má Educação, Lolita e A Dúvida como exemplos (alguns que conseguem criar o aspecto pedofílico sem imagens explícitas, apenas com a dedução do público). E o fim foi péssimo. Se ele tivesse terminado uns 7 minutos antes do verdadeiro fim, eu aplaudiria. Mas terminou com Ellen Page sendo uma justiceira que gosta de castrar pedófilos. Por falar nisso, 1/3 do filme foi um diálogo maçante de Ellen Page com Patrick Wilson sobre como ela ia castrá-lo com apenas um livro de experiência.
Não há necessariamente uma mocinha e um bandido em Menina Má.com. O filme tem uma reviravolta interessante e poderia ter dado certo se fosse feito de uma outra maneira. O julgamento da película se deu praticamente pela atuação e não pelo roteiro. Foram boas metáforas, bons diálogos no geral e uma boa atuação. Mas a história se perde no meio de outras iguais que flertam um pouco mais com a ousadia da pedofilia.
NOTA: 7