Um filme de Sam Mendes com Kevin Spacey e Anette Bening.
Beleza Americana é um filme sobre beleza. Bem, agora só falta dizer que é americana. É. OK, são dois tipos de beleza durante o filme: a beleza estereotipada que a mídia insiste em promover, a beleza de um casamento de fachada, a beleza de uma menina vulgar no estilo Lolita que transa até com um vaso de flores. A segunda beleza é a beleza que o filme insiste em mostrar nas coisas simples, como um saco plástico voando, que, por incrível que pareça, é o ponto alto do filme. E o mais incrível de tudo é que até os sacos plásticos ficam encantadores ao meio de tanta chatice num só filme. Boa parte da obra é bem clichê, mas a intenção do filme era criticar exatamente isso. Então fiquei com a dúvida no fim: o clichê foi proposital ou uma falta de criatividade?
Lester Burnham (Kevin Spacey) é um homem de família bem sucedido, trabalha numa empresa que lhe paga bem e é casado com uma corretora, Carolyn Burnham (Anette Bening). O único problema é que sua vida é um inferno. Ele trabalha há mais de 10 anos na empresa no seu mesmo trabalho maçante, sem promoções ou aumentos e sua mulher é uma controladora que não se submete às práticas sexuais com o marido. E por fim, ele ainda se apaixona amorosa e sexualmente pela melhor amiga de sua filha, Angela Hayes (Mena Suvari), uma garota fútil e clichê ao extremo, cuja única preocupação é não ser normal. Ele está tão interessado na garota que até se esquece de sua filha, Jane Burnham (Tora Birch), que se apaixona pelo novo vizinho.
No pôster está escrito "look closer...", em português "olhe mais perto...", expressão que pode servir para os dois tipos de beleza que Sam Mendes expõe na película. Temos a beleza superficial, que é bela no exterior mas é podre na estrutura, e o olhar mais de perto significa não ter uma simples visão falsa sobre algo que parece ser belo. Algo interessante nessa beleza é que ela sempre era retratada por rosas no filme, tanto as rosas que a mãe Carolyn insistia em cultivar no seu jardim quanto as rosas que apareciam quando Angela aparecia em cena. O outro significado pode ser um outro olhar para a segunda beleza, a verdadeira beleza que aparece através de pássaros mortos e mendigos morrendo congelados, coisas tão horríveis se olhadas pela primeira vez, mas se olhadas de perto vemos que elas transbordam o belo sem precisar da falsidade das rosas.
A atuação está ótima. Gostei bastante de Anette Bening, de Tora Birch e de Kevin Spacey, convincentes do começo ao fim. Outro aspecto interessante é a narrativa invertida, como em Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde o narrador, na obra Kevin Spacey, começa contando a todos sobre a morte dele, o que na teoria tiraria a tensão existente, mas não é isso o que acontece. Embora ele comece o filme dizendo que vai morrer em menos de um ano, embora na época ele obviamente não sabia disso, tudo é cheio de surpresas, e essa sua narrativa ainda trás um humor. Cinco minutos após o início temos Kevin Spacey novamente, tomando banho, enquanto a narrativa fala: "Olha eu aí, me masturbando. Patético. Mas esse vai ser o ponto alto do meu dia".
Beleza Americana trás a moral do não julgue um livro pela capa através da vida clichê, explorando desde a adolescente puta até o veterano homofóbico do exército. E trás isso belíssimamente, independente de seus enquadramentos ou ângulos utilizados, independente do estereotipo que o filme trouxe. Não me engano dizendo que o filme é clichê, pois é isso que ele quer denunciar, o clichê da beleza americana. Tudo é proposital. Só seria uma obra completa se não fosse a crise de meia-idade de Kevin Spacey, que causou uma quebra na visão do filme. Tirando isso, ele mereceu seus Oscars.
NOTA: 9
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