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6 de outubro de 2010

De Olhos Bem Fechados (1999)

Um filme de Stanley Kubrick com Tom Cruise e Nicole Kidman.

No mínimo, angustiante e confuso. Como todas as obras de Kubrick. Mas, novamente, achei super valorizado. Novamente, outro filme que tinha tudo para ser bom, mas não superou as expectativas. E novamente, outro filme com Tom Cruise, estou começando a achar que a culpa é dele. De Olhos Bem Fechados não chega a ser tão cativante como ele fez com O Iluminado ou Laranja Mecânica. O último filme de Stanley Kubrick poderia ter fechado sua carreira impecável com chave de ouro, mas parece que só acharam uma de bronze e não fizeram esforço para transformá-la em algo melhor. Não nego que o roteiro é envolvente e que as duas horas e meia de perfeccionismo e loucura kubrickianas valeram a pena, mas esse filme parece o fim de uma filmografia de um mestre do terror no auge de sua ousadia, e não de um Stanley Kubrick.
O filme fala sobre a relação tempestuosa do casal composto pelo médico Bill Harford (Tom Cruise) e Alice Harford (Nicole Kidman). Durante uma festa de Natal, Bill conhece duas garotas, mas precisa atender uma mulher com urgência, cancelando qualquer programa que viria depois, enquanto Alice dança a festa inteira com outro homem. Isso cria ciúmes nele e, com toda a pressão de seu marido, Alice diz que um dia flertou um marinheiro e ainda confessou que estaria disposta a largar Bill e sua filha Helena (Madison Eginton) por uma noite com ele. Após isso, Bill sai pelas ruas de Nova York na noite mais bizarra de sua vida, sem poder distinguir o que acontece de realidade ou farsa.
Gosto do roteiro porque me lembra Dom Casmurro, já que Alice não revela em momento algum se a traição realmente ocorreu. Embora todo o seu discurso leve a crer que nada aconteceu, a paranóia de Bill cria certa tensão no espectador, de forma que o público comece a ter a dúvida da traição de Alice. E o roteiro, além de toda essa dúvida saudável, ainda é louco o bastante para prender o espectador entre cenas de orgia, rituais, traição e loucura, muita loucura, embora eu o ache viajante demais. Mais do que toda essa viagem, o filme coloca questões sociais do cotidiano, como o casamento, o adultério, o machismo e a prostituição com a banalização sexual.
A atuação é bem polar. De um lado temos o clichê supervalorizado que é Tom Cruise. Embora ele tenha vários picos no filme em que a atuação realmente me surpreendeu, seus baixos o compensam. Então temos o mediano, composto pelos co-coadjuvantes do filme. E no outro lado, temos Nicole Kidman, que, embora apareça muito pouco e nessas poucas aparições apareça com pouca roupa, está magnífica. A fotografia e a filmagem estão impecáveis graças ao perfeccionismo de Stanley Kubrick em manter tudo alinhadinho para, se não criar um sucesso de interpretação ou roteiro, ter ótimo efeitos técnicos durante a sessão. E a trilha sonora é outra ponto de ressalva.
Um bom filme, não nego. Mas muitos julgam a obra por ser a última peça que Kubrick colocou no mundo como perfeita, linda, maravilhosa, um dos maiores filmes do século passado. Não vi nada disso, Kubrick apenas trabalhou o que vemos diariamente através de dúvidas sobre relações sexuais. Não é perfeita, mas bem intrigante e angustiante. Antes de escrever aqui, li uma crítica sobre o filme de uma estudante de cinema da FAAP que fala que o espectador de De Olhos Bem Fechados é um voyeur por natureza, bela definição para o efeito da obra.
NOTA: 8

4 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Considero uma pequena obra prima!

chuck large disse...

Gosto bastante do filme, pelo fato de ser o último do Kubrick e dele ter morrido antes de dar seus 'retoques' achei muito bacana, talvez é porque eu vi sem expectativas .... gostei!

...abs.

O Neto do Herculano disse...

Trabalho onírico repleto de sutilezas. Apenas o desejo, não a consumação, faz o filme desenhar seu arco narrativo. Não sei se o espectador de "De Olhos Bem Fechados" é um voyeur por natureza ou se os seus olhos também não se abrem para a realidade. Acredito que Kubrick se despediu em grande forma, apesar do casal Cruise.

Anônimo disse...

Uma bela obra de Kubrick, talvez esteja enganado, mas a coincidência do relato do sonho de Alice, onde faz sexo com vários homens enquanto outros observam, possa ser interpretado pela ótica freudiana, em que nas orgias mascaradas que Bill presenciou, sejam nada mais, que o pacto da hipocrisia social, em que por debaixo de mascáras, que escondem nossas identidades e desejos mais intimos, podemos levar a cabo, a manifestação animalesca que repousa no amago de cada ser humano, que é reprimido pela necessidade da convivência social e suas regras.