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29 de julho de 2013

Spring Breakers (2012)

Um filme de Harmony Korine com Selena Gomez, James Franco, Vanessa Hudgens, Ashley Benson, Rachel Korine.

Harmony Korine não é um dos diretores mais conhecidos do cinema. Talvez muitas pessoas tenham visto Kids, que tem o roteiro de Korine. O diretor é conhecido por filmes mais pesados, como Gummo, Trash Humpers ou Mr. Lonely, mostrando uma parcela social diferente do que estamos acostumados com as fórmulas Hollywoodianas e até mesmo se afastando delas. O que podemos esperar quando um elenco relativamente composto por cantoras pop da Disney e gente mais do que conhecida de um diretor que nunca tinha feito isso?

Candy (Vanessa Hudgens), Brit (Ashley Benson), Cotty (Rachel Korine) e Faith (Selena Gomez) são boas amigas desde o primário. Elas estudam na mesma universidade e se veem presas nas férias de verão. É tudo a mesma coisa, as quatro precisam respirar novos ares. O dinheiro, porém, é curto e elas não conseguem fazer nada com o que possuem.

Daí surge a primeira ideia: porque não começar essas férias de verão com a máxima energia? Candy, Brit e Cotty resolvem roubar uma lanchonete e, assim, fugir para a Califórnia. Faith, uma menina que frequenta a igreja com constância, não sabe dos planos até as amigas aparecerem com o dinheiro (há de se falar, antes disso, da perfeição de Harmony Korine com seu único plano ilustrando o assalto, já que um carro roda a lanchonete e tudo o que vemos durante o tenso minuto que se segue são duas meninas encapuzadas através das janelas de vidro).

Já convencidas do roubo, as quatro amigas começam a viver na Califórnia um sonho que não existia na universidade. O sonho não é inteiramente sensorial, é de vivência. O que vemos é o sujo, o clichê e o escrachado. É sexo barato, é droga, é bebedeira, é tudo aquilo que relacionamos instintivamente a uma imensa festa da qual não é agradável se ver nada. A ironia da narrativa já se inicia a partir deste ponto. Tudo se dá por parte das ligações entre as meninas e as famílias, em especial Faith, que possui uma ligação com a casa. Enquanto a menina descreve para os pais o sonho que é estar na Califórnia, as imagens da noite retratam um pesadelo bêbado.

Faith, a única que mostra um pouco de consciência, também possui uma grande parte de sua personalidade baseada na hipocrisia. O conflito entre o conhecido e o desconhecido é o que transforma a menina, muitas vezes podemos observar que a construção da personagem é feita apenas em imagens de um passado que não se deixa ir embora. Eu não achei que fosse dizer isso aqui ou em alguma outra crítica, mas ainda bem que Harmony Korine me fez morder a língua: Selena Gomez tem uma atuação muito boa mesmo. Talvez por ser a única com algo a mais na fita, ela se sobressaia em relação aos outros, e é graças a ela que o longa-metragem tem um choque. Não creio que valha a pena falar muito sobre as outras, que conseguiram se livrar de bons esterótipos e criaram personagens tão vazias quanto as férias de verão, mas é bom ressaltar a transformação de James Franco em Alien.

Spring Breakers chega ao seu final com um ponto de interrogação. O que é que Harmony Korine quis falar dessa vez? Não sei se é a teoria certa e não sei se isso fica claro a todos, mas é óbvio para mim que o filme inteiro fala sobre o que as férias de verão realmente são: vazio existencial preenchido com ilusão. Uma pausa que tenta dizer que a vida não precisa ser o ano inteiro, mas aquele curto mês de ócio. A maioria consegue perceber isso e volta para a sua vida como se nada tivesse acontecido - é assim que conseguimos distinguir os personagens. Quando uns voltam para suas casas, é como se eles nunca tivessem existido. As férias viram apenas uma paisagem distante numa janela intocável do ônibus. O retrato dessa vez é de quem não faz distinção das vidas para as férias de verão. São as meninas que vão a todo lugar de biquíni. São os traficantes e a falta de respeito. São os diálogos vazios que parecem querer dizer mais do que são. E tudo isso é resumido no caráter brilhante de uma canção de Britney Spears.

Spring break forever, bitches!

NOTA: 9

4 de julho de 2013

A Casa Vermelha (2012)

Um filme de Alyx Duncan com Lee Stuart e Jia Meng Stuart.

Filme visto no 2º Festival Internacional de Cinema de Brasília, Mostra Competitiva.

Na minha experiência minúscula como crítico de cinema, percebo que tema recorrente em filmes é o amor. Mas, assim como os filmes, muitas formas de amor vem de maneira interpretada. Amor interpretado não é amor real, por mais que alguns realmente se aproximem ou até cheguem no ápice de fazer um olhar emocionar a plateia. Alguns dizem que amor não depende só de interpretação, eu digo que depende sim. Um diretor, editor, roteirista, músico podem fazer obras belíssimas de transformar um cinema em rios de lágrimas. Amor na vida real só necessita de um casal.

A Casa Vermelha é um quase documentário feito por Alyx Duncan, a filha de Lee Stuart e a enteada de Jia Meng Stuart, os dois astros da fita. O casal mora em Nova Zelândia, mas Jia vem de uma família chinesa. Desde complicações em sua terra, ela e o filho pequeno vieram a Nova Zelândia e conheceram Lee. Muitos anos depois, os pais de Jia passam por complicações e ela tem de voltar a China e passar algum tempo longe de seu marido.

O filme é quase um documentário porque, graças a algumas entrevistas recentes da diretora, percebemos que a construção do conflito é falsa e não aconteceu na vida real. O cinema-verdade não é tão verdadeiro assim. Tal situação, porém, dá sentido ao título do filme, assim como cria grandes interpretações do verdadeiro porquê de A Casa Vermelha ser um grande filme sobre o amor.

O que é um lar? É consenso artístico que lar não é sinônimo de casa. Lar é onde o conforto está, a segurança está, o bom está. Lar não é necessariamente família, não é necessariamente aconchego. A casa vermelha, que dá nome ao longa, é um espaço pequeno. Não é o sonho de ambição de muitas pessoas - e Lee deixa claro isso ao falar da intromissão de turistas nas ilhas neo-zelandesas. A casa é só o suficiente para dois corações em dois corpos diferentes poderem viver sem qualquer problema. A casa, porém, nada mais é do que um espaço físico.

Eu posso e você também pode contar quantas vezes falam um "eu te amo" em A Casa Vermelha. Uma vez. Apenas uma vez, na voz de Jia, com o sotaque chinês ao falar inglês para a compreensão do marido. Enquanto Jia e Lee não fazem esforço para mostrar a fita o que é a vida que levam, o título cai por terra. A casa vermelha nunca foi um lar: o parceiro é que sempre foi o bastante para ser a morada do outro.

1 de julho de 2013

Don Jon (2012)

Um filme de Joseph Gordon-Levitt com Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson e Julianne Moore.

Filme visto no 2º Festival Internacional de Cinema de Brasília, Mostra Competitiva.


Há uma hora em que os gêneros saturam. Inovação é necessária, mas repetição é cansativo. Comédias já tinham dado hora pras comédias românticas, que ultimamente deram mais espaço para comédias independentes como Pequena Miss Sunshine, Juno, (500) Dias Com Ela e 50/50. Experiente nesse quesito, até mesmo por ter protagonizado dois dos filmes exemplificados, o sempre bem-vindo Joseph Gordon-Levitt resolve dar as caras em sua estreia na direção para nos dar mais uma comédia alternativa, que foge um pouco do ritmo comercial. Mas... já não acabamos de ver isso na sessão anterior?

Johnny Martello (Joseph Gordon-Levitt) é um americano vindo de família tradicional. Mora sozinho, trabalha como bartender, vai à missa aos domingos, se confessa, almoça com a família, sai com os amigos, transa com muitas mulheres... e é um verdadeiro viciado em pornografia. Tão viciado que só o barulho do computador ligando já consegue deixar o protagonista de pau duro. Sua satisfação com o pornô gera insatisfação na vida real, pois o sexo neste não atinge as expectativas do que é visto online. Quando ele conhece Barbara Sugarman (Scarlett Johansson), uma mulher nota 10, ele começa a se perguntar: seria ela minha cura?

O foco do filme é a discussão mais do que já utilizada de qualidade contra aparência. Nem tudo que é belo é satisfatório o suficiente. O exemplo disso é literal, a sempre bela (e nem sempre boa) Scarlett Johansson. Numa atuação boa, por mais que um tanto exagerada (seu sotaque é imperdível, eu precisava encaixar isso no texto), ela é o verdadeiro exemplo de personagem fetiche, mas que não contribui para manter o nível do filme, já que ela beira a ficção numa comédia que possui como base o naturalismo e a veracidade. A falta de personalidade não auxilia na primeira impressão.

Julianne Moore, por outro lado, faz um trabalho excelente e, ao invés de criar situações antagônicas, é um grande suporte para a comicidade da fita. Alguns traços de sua Esther assemelham-se muito com o que a atriz fez em Minhas Mães e Meu Pai, mas enquanto conhecemos cada vez mais a experiência que molda a personagem, mais diferenças vão surgindo.

O que faz a fita ganhar o espectador é a veracidade que ninguém naquela sala quer admitir: todo mundo vê pornô. Não adianta, espectador, um dia você já abriu o Xvideos, nem que por curiosidade. E o vício traz não a assimilação, mas o humor da identificação em alguma situação. Seja a família, - que cria o ambiente mais sufocante da sessão - sejam os relacionamentos. Chega um ponto que ver Joseph Gordon-Levitt pegando um lenço de papel ou ouvir o barulho do computador ligando chega a ser cômico por si próprio.

E, óbvio, não posso deixar de citar o ator/diretor/protagonista/parceiro do Batman (opa!). Um debut acima da média para qualquer um que comece. O tom jocoso ganha o espectador nas cenas cotidianas ou nas mais irreverentes, como as múltiplas confissões. E sim, Gordon-Levitt tem um carisma que preenche o vazio existencial de um vicio ou o vazio de uma sala de cinema silenciosa.

Don Jon ganha o público por ser pequeno, um episódio não especial no cotidiano de alguém. E ainda consegue trazer um desfecho inesperado, mas muito satisfatório. O roteiro não chega a ser muito pensado, mas é tão bem amarrado que não posso criticá-lo apenas por não crescer para outros horizontes. O que posso criticar é que Don Jon não possui personalidade. De resto, vale muito a pena sentar na cadeira do cinema, relaxar e gozar.

NOTA: 7