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30 de setembro de 2010

Adeus, Lenin! (2003)

Um filme de Wolfgang Becker com Daniel Brühl e Katrin Sass.

O cinema alemão só vem me presenteando. Embora eu tenha visto pouco até agora, e só tenha visto os mais populares da cena contemporânea, sinto que não vou me decepcionar se me deparar com outra película alemã. Primeiramente, com Corra, Lola, Corra, que apresentou algo parecido com o que os Estados Unidos fizeram em Efeito Borboleta. Após isso, a vida conturbada de Christiane F. e dos adolescentes manipulados d'A Onda, todos beirando o drama profundo. E ainda temos A Vida Dos Outros, o drama típico entre os sistemas capitalista e socialista, numa batalha constante. Adeus, Lenin! quis utilizar dessa batalha através de uma crítica bem humorada e original, mas completamente imparcial.
Christine Kerner (Katrin Sass) é uma mulher batalhadora, completamente socialista, que escreve cartas de reclamação para acabar com os pequenos problemas de sua sociedade igualitária. Porém, ao ver o filho Alex Kerner (Daniel Brühl) numa passeata a favor do capitalismo, ela entra em coma, exatamente no momento em que houve a queda do muro de Berlim. 8 meses depois, ela desperta de seu profundo descanso numa Alemanha totalmente mudada. Como o médico diz que ela não deve sofrer fortes emoções, Alex decide esconder dela sobre a junção das Alemanhas e todo o mundo capitalista que o país se tornou, criando um próprio mundo socialista na casa enquanto ela está de cama.
O roteiro é brilhante, bem original e nos preenche com situações dramáticas e engraçadas durante o filme. Assim como o francês A Culpa É Do Fidel!, que aborda o comunismo aos olhos de uma garota de 9 anos, Adeus, Lenin! se cria através de uma mentira e ganha graça por ter sido feito aos olhos ingênuos de um socialismo com os dias contados, que ficou aprisionado num quarto minúsculo enquanto o capitalismo apenas ganha força pelo mundo. Com todos os seus jogos, o filme quase me convenceu que a Coca-Cola é uma bebida socialista. Além de todas essas alfinetadas sobre o sistema dominante e todas as mentiras para o sistema em extinção, há uma comoção bonita que faz o filme ser classificado como drama, que é o quão longe iria um filho por sua mãe, já que ela é toda a referência que ele teve durante sua vida. Toda a sua criação do mundo ideal é bonita se visar a reação.
A atuação é mediana para cima. Em nenhum momento ela caiu drasticamente, mas foram poucos os que eu me surpreendi. Daniel Brühl conseguiu levar o filme longe, mas sua atuação não chega a ser memorável, se eu me lembrar dessa película provavelmente é pelo roteiro. Katrin Sass é uma das melhores, sua face bondosa e toda a sua atitude cansada foram boas o bastante para arrancar minhas risadas à medida que os acontecimentos ocorriam. Chulpan Khamatova, que interpretou Lara, também merece uma ressalva. A trilha sonora, composta exclusivamente por Yann Tiersen, é magnífica.
Com um roteiro inovador e diferente do proposto atualmente pelas superproduções, Adeus, Lenin! consegue entreter durante toda a sua bela história sobre mentira, história essa que traz teias que a ligam com a corrupção e desigualdade do capitalismo, a tolice e as falhas de um socialismo puro e a essência de um laço familiar bem forte, forte o bastante para criar um mundo novo num mundo novo.
NOTA: 8

28 de setembro de 2010

O Último Exorcismo (2010)

Um filme de Daniel Stamm com Patrick Fabian e Ashley Evelyn Bell.

O marketing é um troço bastante traiçoeiro. Eu me lembro de quando ia estreiar Se Beber, Não Case por estas bandas. Eu via a propaganda desse filme em todo o lugar e quando eu vi, me decepcionei. Talvez pelas minhas expectativas altas ou pela falta do meu senso de humor, o que a propaganda promovia era o filme mais engraçado da minha vida e eu não dei risada alguma durante a sessão. O Último Exorcismo é ainda pior. Se Beber, Não Case é divertidinho, tem uma estória coerente e é a fórmula da diversão e das boas risadas, coisa que o mundo fez ao contrário de mim. O Último Exorcismo chega a ser um dos piores filmes que eu já vi na vida, com todas as suas fórmulas batidas e marketing excessivo.
Cotton Marcus (Patrick Fabian) é um padre que faz exorcismos. Mas quando ele vê uma criança morta graças a tentativa de exorcismo, ele decide provar como as técnicas exorcistas são falsas através de um documentário. Para isso, ele e sua equipe vão até a casa de Louis Sweetzer (Louis Herthum) para "exorcizarem" Nell Sweetzer (Ashley Evelyn Bell), sua filha. Eles, então, realizam uma sessão falsa de exorcismo e após verem Nell normal, acham que está tudo bem e que os demônios não passavam de fanatismos religiosos. Mas após alguns incidentes, o ceticismo deles é posto em jogo para mostrar o mal dentro de Nell.
O que eu vi no filme foi uma reciclagem de ideias que deram certo, e essa reciclagem deu muito errado, acho que por uma falta de originalidade e por algumas falhas durante a sessão. Tem toda aquela trama d'O Exorcista no ar, com uma ideia à Bruxa de Blair, com a essência de O Bebê De Rosemary e um suspense que já foi vivenciado em Atividade Paranormal. E aí vai o que deu errado: o ceticismo foi uma faca de dois gumes. Por um lado, estragou o fim do filme. De outro, conseguiu criar certa dúvida entre a possessão da menina até o desfecho. Ah, outra coisa: se você finge que vai fazer um documentário, músicas não surgem do nada. Nem quando está no clímax do clímax. Respirações ofegantes já fazem seu trabalho aí.
A atuação é bem mediana. Comecei gostando de Patrick Fabian no início, mas todo aquele ceticismo babaca criou certa descrença nele. E sua última cena foi péssima. No momento que era para e ter medo, eu ri. Ashley Evelyn Bell me pareceu mais uma criança especial do que uma menina normal e virgem. Mas gostei de suas cenas possuídas porque ela conseguiu fazer um suspense sem precisar de efeitos, apenas com contorcionismo e cuspe, já que aquilo que eu vi não pode ser considerado vômito. Raramente vejo fotografias boas em falsos documentários, em que a câmera treme mais que os assustados.
O Último Exorcismo não se parece nada com um falso documentário já que eles criavam cenas tão falsas e erros tão feios que só conseguiam um afastamento cada vez maior da plateia. Acho que só se parece com o amadorismo. Porém, a ideia é boa: quando um filme que não tenha mortes explícitas e nem efeitos exagerados me assustar, como ocorreu nessa película, pra este eu dou uma nota ótima. Já vou avisando, a cena que mais me assustou foi o pôster do cinema. Cheio de marketing, efeitos e ainda é gratuito.
NOTA: 2

26 de setembro de 2010

Tudo Sobre Minha Mãe (1999)

Um filme de Almodóvar com Cecilia Roth, Penélope Cruz e Marisa Paredes.

Adoro quando eu conheço as marcas de um diretor. Tarantino, por exemplo, gosta de usar suas referências a cultura pop e cores vivas em seus filmes. Stanley Kubrick gostava de um terror psicológico com um misto de confusão e dúvida em suas obras enigmáticas. E não há como negar que um filme é de Hitchcock quando você vê as maiores variações de um thriller que mexe com a mente. O estilo de Almodóvar é o meu favorito, porque foge de qualquer risca clichê que vemos atualmente. Ele não finaliza situações, não se empenha em criar cenas de estofo se forem desnecessárias, utiliza-se de uma fotografia espetacular e isso faz com que ele crie tantas cenas quanto possível em menos de duas horas, deixando o filme com um gostinho de "quero mais" e conseguindo caracterizar e trabalhar mais a essência dos personagens.
Manuela (Cecilia Roth) vive em Madrid com seu filho, um aspirante a escritor, e trabalha na doação de órgãos. Na noite do aniversário de 17 anos de seu filho, ela o leva para ver "Um Bonde Chamado Desejo", estrelada pela atriz Huma Rojo (Marisa Paredes). Após a peça, o filho tenta pegar um autógrafo da atriz, mas é atropelado e morre. Em profunda depressão e em luto por seu filho, Manuela decide que o pai dele deveria saber da morte e vai à Barcelona contar-lhe do acontecido. Mas no caminho, ao invés de encontrar com o pai, Lola (Toni Cantó), ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), um amigo de velhos tempos, além de conhecer a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.
Entrou na lista das melhores atuações que eu já vi. Para terem uma ideia, a mais insossa do filme é Penélope Cruz. Cecilia Roth está absolutamente fantástica, me senti no lugar dela durante todo o filme e o poder de comoção que ela tem é incrível. Marisa Paredes é outra que me chamou a atenção, esplêndida. Tenho que dizer o quanto gostei de Antonia San Juan por mais exagerada que fosse sua atuação, a explicação se dá por ser um travesti estabanado e exibido, além de dar todo o humor do filme. A fotografia é belíssima. Uma coisa que pensei em atribuir foi o fato do filme explorar o perfeccionismo no travestismo, a cena de Toni Cantó chorando é linda.
É um ótimo roteiro. Uma situação nova é explorada em cada cena que se passa, só aumentando a dor de Manuela e a tensão do público. E todo o relato da vida infeliz e interligada dos personagens é viciante, por menos simpatizantes que sejam. Almodóvar criou personagens únicos em seus defeitos e qualidades que cativam o público facilmente com seus jargões. Ainda mais: além de ser uma história triste, Antonia San Juan promove um show de humor tal que barra qualquer comédia escrachada atual.
Tudo Sobre Minha Mãe é divertido, com uma história surreal e instigante. Consegue emocionar e fazer rir sem perder o seu caráter. Consegue criar estereotipos sem se utilizar de clichês. Consegue ter aquele visual de filme independente e agradar a todos, além de ter uma fotografia que nem uma câmera amadora estragaria. E tudo, o modo que a história é contada, seus protagonistas e coadjuvantes, tudo, tudo, tudo, é pra se olhar e dizer: esse aí é um Almodóvar. E um dos melhores de Almodóvar.
NOTA: 9

25 de setembro de 2010

A Onda (2008)

Um filme de Dennis Gansel com Jürgen Vogel e Cristina Do Rego.

Filmes que mexem com o psicológico humano são bons na maioria das vezes. Quando o filme começa a retratar uma patologia extremamente exagerada, ele perde todo o efeito que poderia ganhar explorando a realidade do nosso pensamento. A Onda trabalha exatamente com o real. Após um dos maiores episódios de crueldade humana do nosso planeta, comandado pelo Führer na Segunda Guerra Mundial, quem seria o povo menos propício a desenvolver um novo nazismo? Os alemães, tão prejudicados com essa guerra, que rende preconceitos até hoje. E são eles as vítimas do fascismo pregrado através de uma lição de autocracia no filme. Ninguém está imune à manipulação de nossa mente fraca e influenciável.
Na Alemanha, em temo atuais, o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) se vê numa situação de improviso: na semana de projetos de sua escola, após ele perder o tema sobre anarquia, ele tem de dar aulas sobre autocracia. No meio de uma aula, um aluno afirma que uma nova ditadura na Alemanha atual seria impossível,  já que todos estão bem mais avançados agora do que no século passado. Com isso, Rainer cria uma ideologia para tentar criar um projeto de união em sua sala, mas sua ideologia acaba se convertendo em uma vertente fascista. Mesmo com alguns alunos o alertando sobre o perigo desse trabalho, como Karo (Jennifer Ulrich), ele só vê o quão instável os estudantes se tornaram quando a situação já está praticamente irreversível.
É uma roteiro bacana, explora a condição de pior do ser humano e a fragilidade através das relações sociais. Vemos no filme que Tim, o menino sem amigos, é o mais obsessivo por toda a teoria d'A Onda pois a tem como uma referência para ser igual aos outros jovens, coisa que, na mente dele, nunca foi. O que A Onda retrata é a idolatria cega que era usada nos tempos de Hitler e foi usada em um projeto escolar. E a afirmação do início do filme se torna equívoca: não estamos ainda tão desenvolvidos mentalmente do que estávamos no século passado se as pessoas são tão frágeis para serem induzidas através de poucas ordens para criar e seguir uma teoria viciosa. Uma ditadura ainda pode ser estabelecida nos dias de hoje.
Ninguém no filme foi bom o suficiente para eu verter lágrimas de adoração ou procurar uma filmografia específica. Mas gostei de Jürgen Vogel em boa parte do filme, só que ele me deu a impressão de não ter muita expressão. Jennifer Ulrich estava ótima no começo, mas no fim ela teve uma regressão imensa. Se alguém se sobressaiu, foi Cristina do Rego, ao menos no fim. Em sua apresentação ela se mostrou de forma tão normal que não merece ressalva, mas no desfecho ela foi ótima. Gostei da fotografia e da trilha sonora.
É um filme capaz, ainda mais que foi baseado em fatos reais. De técnica, não se difere de muitos outros, mas o roteiro cria uma expectativa nessa pérola alemã que é correspondida a medida que os 106 minutos vão passando. Foi um belo fim, embora previsível. Mas como toda coisa previsível, foi verdadeiro o bastante para dar a credibilidade que o filme precisa. Para mim, A Onda é uma experiência fascinante e chocante do psicológico do homem, uma mistura interessante da essência de Ensaio Sobre A Cegueira com todo aquele jovianismo rebelde, inconsequente e perturbado, se manipulado da maneira correta, que foi mostrado em Tiros Em Columbine.
NOTA: 8

22 de setembro de 2010

A Culpa É Do Fidel! (2006)

Um filme de Julie Gavras com Nina Kervel e Julie Depardieu.

Lindo. Julie Gavras criou um filme ótimo com opiniões de esquerda contra as de direita sem favorecer lado algum e consegue misturar isso com a infantilidade de uma criança que tem de aprender a ser adulta. Além de tudo, é inovador. Não há aquela história de um homem tendo que lutar contra o capitalismo selvagem para escolher o belo comunismo. Há uma menina que é influenciada pelos dois lados, cuja mente egoísta só vê o que é bom para o próprio mundo, e o filme vai trabalhando com o despertar de uma mente que teve tudo para não favorecer nem o "belo comunismo" ou o "capitalismo selvagem".
Anna de la Mesa (Nina Kervel) é uma menina de 9 anos que vive em sua confortável rotina de garota rica. Ela mora em uma casa grande com um belo jardim, tem uma empregada e estuda num colégio católico. Porém, após o tio morrer e os pais viajarem para o Chile, Anna se vê cercada de mudanças: sua empregada, uma cubana anti comunista, é despedida, ela sai de sua casa para um apartamento minúsculo com apenas um banheiro e tem de dividir o quarto com seu irmão. Além disso, ela tem de sair das aulas de religião fornecidas pela escola e a casa sempre está frequentada por "barbudos". Desse modo, Anna tem de aprender a conviver com seus pais comunistas, sempre querendo que eles voltem para a vida capitalista de antes.
Eu adorei tudo nesse filme, de cabo a rabo. O roteiro é fantástico, novo e consegue criar uma lógica inteligente com situações cotidianas sérias que chegam a ser hilárias por serem vivenciadas por uma menina tão nova. O humor e o segredo de A Culpa É Do Fidel! ficam por conta de vários déjà vus que Anna tem entre o capitalismo e o comunismo, e com o despertar de uma mente ingênua de uma criança que leva tudo ao pé da letra. E ele dá um gosto de quero mais com as aventuras dessa pequena parisiense que aprende a mudar de estilo de vida tão rapidamente, assim como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. O mais bonito do filme é que, após uma lição inteira de comunismo, Anna o acolhe da forma mais rápida possível: através de um convite simples, um convite que se tornou possível através de muitas eleições, discussões, acontecimentos, abortos, abaixo-assinados e depois de muita insistência na mente cômoda da menina.
Nina Kervel leva boa parte do filme em suas costas. Julie Depardieu e Stefano Accorsi estão ótimos, mas nada se compara à inteligente garota que teve uma atuação impecável durante os 100 minutos de sessão. Claro que não posso esquecer de Benjamin Feiullet, o hiperativo François de la Mesa, tão pequeno e tão encantador quanto Nina. E tudo no filme era uma promoção de como se cativar: a trilha sonora lenta e doce, a bela fotografia de momentos de tédio e de lições capitalistas da menina ou de lições comunistas dos pais, até o cenário foi propício para criar o ambiente aconchegante que foi o filme.
É um filme independente que comove todos e tudo através de uma situação que seria incômoda na vida real mas se torna um aperitivo para a plateia que vai ver. E o filme ainda faz mais: cria uma discussão atual entre dois sistemas distintos sem favoritismo, cria um gosto diferente de ver uma atuação tão boa por uma atriz tão pequena e desconhecida, relembram princípios perdidos na atualidade que deveriam ser relembrados para um mundo melhor e criticam implicitamente o radicalismo do comunismo ao gritar ao mundo que Mickey Mouse é um fascista. É um filme fascinante.
NOTA: 10

21 de setembro de 2010

Nine (2009)

Um filme de Rob Marshall com Daniel Day-Lewis, Kate Hudson, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Judi Dench e Marion Cotillard.

Musicais são lindos quando bem cantados. Nine é um musical que beira entre a essência do cabaret francês com um pop chiclete de hoje em dia, com vozes bonitas como a de Fergie e de Marion Cotillard, e outras nem tão bonitas mas que ficam na cabeça, como a de Kate Hudson. E mesmo com esses altos e baixos tão distintos, é um ótimo musical, com belos figurinos, fotografias, coreografias e trilha sonora. Porém não achei a história tão bem trabalhada. Por tentar colocar explicações em formas de lembranças dentro das músicas, comprometeu um pouco com o andamento da história ao invés de experimentar uma onda inovadora. Além do mais, embora com esse elenco perfeito, muitos personagens beiram o clichê total que estraga atuações fácil, fácil.
Nine é a história de Guido Contini (Daniel Day-Lewis), um cineasta que já passou de sua época de sucesso e cujos últimos filmes fracassaram na indústria cinematográfica italiana. Porém, querendo burlar o destino, ele começa a promover freneticamente seu próximo filme, Italia. Mas ele tem um bloqueio e não consegue escrever, pois começa a entrar numa crise existencial graças as várias mulheres de sua vida, como sua falecida mãe (Sophia Loren), sua esposa Luisa Contini (Marion Cotillard) e sua amante Carla Albanese (Penélope Cruz).
A trilha sonora é cheia de vozes femininas, vemos que quando Daniel Day-Lewis canta no seu ápice dramático algo que foi criado no filme é quebrado pela voz grossa dele. Mas no geral, são músicas boas. Vemos toda a intenção que Marion Cotillard canta em seus dois solos. Sophia Loren canta belíssimamente, mas com intenções demais, tornando sua canção escrachadamente bonita. As outras músicas são bonitas a seu modo. Judi Dench cantando igual uma cafetina sobre Folies Bergère e Fergie com sua magia sobre ser italiano. E, claro, Kate Hudson exalando toda a sensualidade e fúria de uma modelo em preto e branco "Contini is Cinema Italiano".
Adorei Marion Cotillard, além de ter uma linda voz, é uma ótima atriz. Ficou perfeita. Sophia Loren e Judi Dench também estavam ótimas, mais Judi que Sophia. Gostaria de ter visto mais um pouco de Fergie e da Nicole Kidman, elas conseguiram me convencer no pouco que apareceram. Tentei mesmo gostar de Daniel Day-Lewis e Kate Hudson, mas os personagens deles não me convenceram hora alguma, talvez por serem demais estereotipados em filmes de comédia. Aconteceu o mesmo com Penélope Cruz, mas o fim de sua atuação também foi o cume dela. O roteiro se perdeu em meio a tantas músicas, a tanto brilho, a tantas cores e a tantas lembranças.
Durante todos os sotaques arrastados, os figurinos apertados e a canções tristes e animadas, Nine só consegue passar uma coisa com seu roteiro esquecido: como ser italiano é uma canalhice sem fim, cuja sina é magoar todos ao redor. Com toda certeza eles queriam passar mais, isso eu não tenho dúvida. Mas se você faz um musical, é importante se focar na história mais do que nas músicas. Adoro musicais bem cantados quando você vê que eles desenlaçam uma história, não a complicam.
NOTA: 6

15 de setembro de 2010

Eu, Christiane F. - 13 Anos, Drogada e Prostítuida (1981)

Um filme de Uli Edel com Nadja Brunckhorst e Thomas Haustein.

Por amor, algumas pessoas tem um final feliz para sempre. Outras acabam com amizades para ter o que acreditam ser o sonho da vida. Outras morrem juntas e abraçadas. Ainda há quem consista em se tornar vampiro por uma paixão. Christiane F. se droga e se prostituí por amor. Não foram as drogas que acabaram com a vida dela, foi uma paixão. As drogas foram apenas consequências disso. Christiane F. - 13 Anos tem um aspecto muito interessante: é a forma de todo aquele sentimento adolescente que ela tem com todo aquele preconceito por parte dos seus amigos drogados. Adicione ainda mais o sentimento de "Eu sou imortal". Isso é o que observamos em Christiane F., isso é o que observamos nos jovens de hoje que acabam com suas vidas entrando num mundo de pó branco.
Christiane (Nadja Brunckhorst) é uma menina de 13 anos que vive apenas com sua mãe. Como toda jovem, ela quer sair, ver o mundo e curtir com suas amigas, longe dos olhos de sua família. Nisso, ela mente para sua  mãe para ir à Sound, uma das boates mais modernas de toda Europa. Nada que ninguém não tenha feito. Porém, na boate, ela conhece Detlef (Thomas Haustein), um jovem que, para Christiane, é o menino mais legal do mundo. Quando ela descobre que ele se droga, ela começa com o LSD e outras drogas, até chegar no ponto de injetar heroína. E, como todo viciado, uma vez que o dinheiro acaba, ela acaba arranjando outros meios para conseguir suas drogas, entrando, além do mundo das drogas, no mundo da prostituição.
Pra quem não sabe, Christiane F. é baseado numa história real, da verdadeira Christiane F. A verdadeira conseguiu sair da prostituição, mas ainda se droga até hoje. É realmente um caminho sem volta. Não falo isso porque eu aprendi num folheto educacional ou porque eu quero que quem leia isto não se drogue. É porque é a verdade. Bem, gosto bastante da história de Christiane F. Não chega a ser cruel se comparado a outros filmes atualmente. Não chega a ser bonito, pessoas que dormem no seu próprio vômito não é algo bonito. Chega a ser verdadeiro e só, e com toda certeza dá para se aprender muito com sua história caótica. Vamos melhorar a frase: toda a parte das drogas é verdadeira, tem partes que não me convencem mesmo, nem que estejam iguais a história da verdadeira Christiane.
A atuação só gira em torno de Nadja e Thomas, e como a atuação de Thomas foi um pouco falha, Nadja teve que carregar consigo as emoções inteiras do filme. Ela consegue agir com boa naturalidade no início e no meio, até entrar num ápice dramático no fim. É uma boa atuação, pena que seja só 50% do filme inteiro. A parte técnica ocorre completamente num cenário escuro com roupas pesadas (quando há roupas) e uma fotografia não muito boa. Eu achei necessário, senão o ambiente do consumo de drogas não seria efetivamente real, em um lugar com cores vivas e quentes. Mas chega uma hora que, mesmo com o DVD original em mãos e sem qualquer falha na qualidade de algo baixado, o escuro fica maçante de se ver, e esse escuro é retratado o filme inteiro.
Christiane F. - 13 Anos é um filme necessário. Existem outros filmes que mostram as drogas: uns mostram um lado totalmente exagerado delas. Outros mostram o quanto fumar, cheirar e picar é legal e te deixa doidão. Esta pérola do cinema alemão não é nem um nem outro. É a verdade. Qualquer um que se pica pela primeira vez vomita. Qualquer um que injeta demais tem uma overdose. Qualquer um que se injeta muito não consegue distinguir veias. E esse era - e ainda é - o mundo de Christiane F. e de todos que entraram no mundo das drogas e nunca mais conseguem sair. Pena que um roteiro tão bom não tenha se saído bem na transição entre as páginas e as telas.
NOTA: 7

14 de setembro de 2010

Nosso Lar (2010)

Um filme de Wagner de Assis com Renato Prieto.

Nunca mais dou pontos para filmes nacionais por piedade, agora que já vi o que eles são capazes de fazer. De um modo como Nosso Lar foi filmado, dava para se criar o novo Harry Potter em terras brasileiras. Nosso Lar é simplesmente um show do efeitos, que foram bem utilizados, aleluia. O problema é que eu não estou acostumado a ver efeitos assim em filmes nacionais, por isso me pareceu que era um filme dublado que eu estava vendo. É melhor eu me acostumar logo, pois após uma pérola como essa, a indústria cinematográfica brasileira promete.
Depois de sua morte, André Luíz (Renato Prieto) vai parar em outra dimensão chamada Umbral, uma espécie de purgatório. No ápice de sua dor espiritual, ele pede a Deus para que Ele lhe dê uma chance. Nisso, quando ele acorda, ele para em Nosso Lar, uma espécie de cidade dos espíritos que flutua sobre a dimensão terrena. Embora tudo em Nosso Lar seja bonito, pacífico e funcione perfeitamente, André Luiz não desiste de uma tarefa que ele não quer deixar para depois: reencontrar a família para avisar sobre sua vida após a morte.
É um ótimo roteiro. Conseguiu passar a lição que queria, sobre o mundo seguindo uma doutrina espírita. É uma lição bem clichê para os dias de hoje, realmente, mas ainda consegue emocionar. Toda aquela paz de espírito promovida pelo filme foi perfeitamente colocada em prática, ainda mais quando as cenas alternavam entre André Luiz aprendendo a ser uma pessoa melhor e o lago de Nosso Lar que tinha uma orquestra tocando a cada dia. É bonito e é maçante ao mesmo tempo. Uma coisa que gostei no filme foi o fato de conseguirem divulgar as respostas do espiritismo para todas as perguntas já citadas, sobre o que acreditam sobre a vida após a morte. Isso cria dúvidas, já que eles conseguem estabelecer tantos pontos que outras religiões mal levantam. Bem, só não é recomendado para aqueles ateus convictos que não conseguem aceitar alguma outra opinião.
A atuação, para mim, foi uma coisa morta. E, bem, eu já vi vários atores bons no Brasil, então a péssima atuação não é um ponto a se desculpar. Todos eles estavam tão sérios o tempo inteiro, com aquela expressão estereotipada de "sou mais zen e superior que você", ah, me dava sono o tempo inteiro. Mas mesmo com a atuação danificada, Nosso Lar ainda é uma diversão emocionante. E ainda conseguiram passar toda a mensagem através de, não só atuação, mas de gestos e locais. Uma ótima fotografia, acho que uma das melhores dos filmes brasileiros.
Após tantos filmes brasileiros medianos, parece que nosso cinema dá realmente certo, embora tenha uma febre religiosa aparecendo nos últimos anos. Parece que os filmes nacionais com maior estreia nesses anos foram Nosso Lar e Chico Xavier, ambos de 2010, ambos espíritas. Mas não reclamo de nada, é bem melhor vendo o cinema crescer com assuntos duvidosos e que não agradam a toda a população do que ver aqueles filmes com um visual independente que falam sobre um assunto que agrada a maioria com comédias. É só uma questão de tempo para termos superproduções dramáticas brasileiras, se a indústria souber aproveitar todo o seu potencial. E Nosso Lar foi um bom começo para esse longo caminho.
NOTA: 6

A Menina Que Brincava Com Fogo (2009)

Um filme de Daniel Alfredson com Michael Nyqvist e Noomi Rapace.

Achei uma continuação boa. É bem difícil comparar esse com Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, já que as histórias trazem coisas bastante diferentes. O primeiro trazia um mistério que assolava uma ilha e os personagens principais foram trazidos para lá por acaso. O segundo traz a história de um dos protagonistas, que já envolve um lado mais passado com um thriller atual. Devo dizer que o primeiro é uma boa pedida para quem goste de ação e mistério, enquanto o segundo já tem uma história cheia de suspense, o resto fica em decidir qual o seu gênero preferido.
Lisbeth Salander (Noomi Rapace) é uma hacker antissocial e considerada mentalmente incapaz que acaba de dar um golpe para ficar rica. Mas a súbita riqueza não a livra dos problemas. Após o assassinato de seu tutor e de dois jornalistas, ela é procurada por toda a Suécia por crimes que ela aparentemente cometeu, já que uma pistola foi encontrada com suas digitais numa das cenas do crime. Mas Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), amigo de Lisbeth, não acredita que ela tenha sido culpada e que se os policiais continuarem no encalço de Lisbeth, eles é que terão de tomar cuidado com ela. A partir daí, ele começa uma investigação sobre o passado de Lisbeth para poder provar sua inocência.
Sabe, Lisbeth Salander é uma antissocial, uma fumante, uma hacker, uma incendiária, uma pessoa extremamente violenta, uma menina que sofreu e ainda sofre dos mais diversos abusos. Não há como não se encantar com a história dela, ainda mais com a ótima atuação de Noomi Rapace. Michael Nyqvist ainda pode ser considerado um bom ator, mas parece que ele perdeu um pouco de sua interpretação na passagem entre os filmes, está cada vez mais sem expressão. Espero que isto não ocorra em A Rainha Do Castelo De Ar, último filme da trilogia Millenium. Gostei bastante da fotografia e da direção, Daniel Alfredson utilizou um modo de filmagem bem mais simpático do que Niels Arden Oplev pelo que pude captar.
Embora os aspectos técnicos do filme sejam bem superiores ao primeiro, o roteiro deste é superior àquele. A Menina Que Brincava Com Fogo é recheado com cenas que são, inicialmente, são improváveis de ocorrer. As explicações do livro deixam as situações bem mais possíveis, mas como o filme não teve o tempo do livro e cortou várias explicações, ele apenas confirmou a impossibilidade das cenas apresentadas. Eu li o livro, mas quem não leu espero que me explique como Lisbeth Salander passou uma noite inteira enterrada e com uma bala alojada na cabeça e ainda saiu viva. Além disso, o filme cria situações que se perdem na trama principal e não apresentam qualquer tipo de continuação.
Como falei no início, são filmes bastante distintos. Mas os dois tem uma coisa em comum: se gostas de Lisbeth, vai adorar os filmes. Mikael Blomkvist, ao meu ver, era para ser o principal da história, mas Lisbeth Salander acaba roubando a cena definitivamente - e deixando o roteiro infinitamente melhor. A história fica muito mais interessante quando contada sobre a turbulenta árvore genealógica de uma menina violenta que usa maquiagem pesada e muitos piercings do que sobre a vida de amante de um jornalista de uma revista independente, ainda mais quando esse jornalista não tem expressão facial.
NOTA: 7

10 de setembro de 2010

O Grande Desafio (2007)


Um filme de Denzel Washington com Denzel Washington e Forest Whitaker.

Um filme me cansa se ele usa a mesma história de superação sem mudar o roteiro. Preciosa, por exemplo, é um filme brilhante para mim, mas não passou do estereotipo de histórias de superação. Acho que só vejo o brilhantismo porque ela enfrentou coisas para caramba e porque foi um retrato verdadeiro, sem nenhuma bondade humana que aparece na última hora. Um Sonho Possível é outro filme de superação que utiliza o preconceito como base, mas no fim se resume no futebol americano e na atuação de Sandra Bullock. O Grande Desafio é outro desses filmes: com a mesma história sobre superação e preconceito. Não nego que é uma moral que todos precisamos aprender. Mas a indústria cinematográfica não inova nessas histórias, é tudo tão paradigmado que eu consigo prever a história 10 minutos antes de acontecer.
Num Estados Unidos racista do início do século XX, o mestre de debates Melvin Tolson (Denzel Washington) leciona num colégio para negros e tem em seu time de debatedores Henry Lowe (Nate Parker) um jovem que não sabe controlar seus instintos; Samantha Booke (Jurnee Smollett), uma aluna dedicada a ser a primeira negra do time de debates do colégio Wiley; e James Farmer Jr. (Denzel Whitaker), o filho do maior pastor da cidade, James Farmer (Forest Whitaker). Juntos, o time de debatedores sai pelo país contra escolas de afro-americanos e acaba conseguindo mais do que vitórias para a sua escola: conseguem se superar cada vez mais e mudar a realidade preconceituosa que há em volta deles.
É uma boa atuação no fim das contas. Denzel Washington, Denzel Whitaker e Jurnee Smollett estão bons, nada a mais sobre eles. Nate Parker é que se encontra em melhor estado que os colegas, talvez pela maior polêmica que envolvia o personagem dele - polêmica essa que não conseguiu salvar Denzel Washington. E Forest Whitaker é a melhor do filme inteiro. Pessoas que fazem cristãos fervorosos conseguem boa parte dos meus votos quando começam a gritar coisas sem sentido sobre a Bíblia. Gostei da trilha sonora.
Não consigo mesmo é gostar do roteiro. OK, usaram o debate para poderem mesclar o preconceito com a educação com uma moral de filmes da Disney. Acho isso até interessante, mas não há muita inovação por aí. Acho que os bons dramas me estragaram, não consigo mais ver graça nesses filmes. De qualquer maneira, se O Grande Desafio merece algum crédito é por ser baseado em fatos reais, o que o torna melhor e pior do que se fosse feito as coxas para apenas uma lição a mais no mundo. Por falar nisso, alguém já percebeu que todos os filmes baseados em fatos reais acabam com uma narrativa e com um texto? Se alguém achar algum que não acabe assim, me avise, estou precisando ver.
É um filme assistível, perfeito para ter sobre o que falar no fim de semana, ótimo para se gerar discussões e polêmicas, e além disso o filme tem vários conflitos originados de um central, não consegui dividir ele em apenas um núcleo já que a tensão é envolvente durante as 2 horas de sessão. Mas é preferível ver algum outro que passe a mensagem de uma forma diferente. Sabe, tantos clichês assim acabam com a minha diversão cinematográfica do fim de semana.
NOTA: 7

7 de setembro de 2010

Meninos Não Choram (1999)

Um filme de Kimberly Pierce com Hilary Swank e Chloë Sevigny.

É um filme fácil que poderia ser muito melhor aproveitado, assim como À Espera De Um Milagre, um clássico e um ótimo filme, mas não tem muito potencial para virarem algo. Mas a diferença que há em Meninos Não Choram é que foi baseado em fatos reais, o que deixa sua crítica ainda mais forte e sua pouca exploração adequada, já que o maior objetivo foi reproduzir a vida de Teena/Brandon sem alteração de detalhes. Tirando isso, ótima atuação. Dá até gosto de assistir um filme assim.
Teena Brandon (Hilary Swank) sofre de crise de identidade sexual e sai pelas ruas com uma aparência masculinizada e com a identidade de Brandon Teena. Numa dessas noitadas, ele vai parar numa pequena cidade onde conhece Lana (Chloë Sevigny) e John (Peter Sarsgaard), criando vínculos que acreditava verdadeiros. Mas quando a verdade é revelada e descobre-se que ele na verdade é ela, toda a história muda. Seus amigos se tornam muito mais violentos do que costumavam ser e suas amigas se transformam em fofoqueiras de cidade grande, porém ainda com esperança de ter um verdadeiro amor, figura essa que viu em Lana.
Gosto demais desse filme porque é um retrato exato da realidade de hoje em dia: cruel e altamente homofóbica. Claro, com tantas paradas do orgulho gay que ocorrem aí atualmente, ainda há quem não abra a cabeça. Mas o que existe tanto em Meninos Não Choram quanto em O Segredo De Brokeback Mountain é a falta de caricatura do gay. O gay não é uma figura exageradamente afeminada como se mostra incansavelmente em Priscilla - A Rainha Do Deserto e sim uma pessoa qualquer, sem hormônios a mais e naturalidade de menos. A história real de Brandon Teena mostra exatamente isso, o preconceito altamente explícito em qualquer detalhe da trama, e a fuga de uma garota confusa de sua realidade para não aturar as consequências dos intolerantes.
Ótima atuação, nenhuma outra atriz conseguiria fazer com tanta maestria esta transsexualidade quanto Hilary Swank. Isso, claro, em minha opinião. Até porque de um ponto de vista ela realmente tem traços característicos bem masculinos. E toda a caracterização que ela criou em cima desse caso foram perfeitos. Chloë Sevigny também foi ótima, não tanto quanto Hilary Swank, mas boa o bastante para conseguir emocionar os corações mais fracos de uma sala. Nada de especial em fotografia, mas gostei da trilha sonora.
É chocante, é trágico, é real. É Meninos Não Choram, a história de uma menina que queria ser um menino, mas estava cercada de amigos cegos e preconceituosos para, ao invés de apoiá-la, tratarem-na como a visão homofóbica diz que ela deveria ser tratada. Quando a mãe de Lana diz: "Eu não quero isto na minha casa", foi o bastante para perceber como anda nossa sociedade super falsa e 'cabeça aberta'.
NOTA: 8

[REC] 2 - Possuídos (2010)

Um filme de Jaume Balaguéro e Paco Plaza com Manuela Velasco.

Você quis dizer: Como Acabar Com Um Filme. [REC] 2 é, como eu falei em Jogos Mortais 6, uma tentativa frustrada de tentar ser um sucesso como seu predecessor. [REC] foi, realmente, um dos melhores de terror que eu vi na última década, usando um roteiro original e uma técnica de filmagem à Bruxa de Blair. Vou dizer para vocês o segredo dos filmes de terror. O ápice de um filme é quando ele passa uma ideia de interação com o espectador ou utiliza meios diários e inovadores para poder assustar e criar fobias com coisas do dia a dia. Um filme de terror regride quando colocam uma possessão demoníaca dentro dele. Em 40 anos, conto nos dedos de uma mão os filmes bons que tem possessão demoníaca, e [REC] 2 não entra aí.
Enquanto a réporter Ángela Vidal (Manuela Velasco) e seu câmera estão sofrendo dentro de um prédio com várias pessoas infectadas por um vírus mortal, uma equipe de resgate é formada para identificar sobreviventes na quarentena e para conseguir uma vacina da terrível doença. Porém, quando os infectados começam a aparecer, o médico se revela um padre, cujo único objetivo é coletar a amostra de sangue da primeira menina infectada. Com tudo isso, descobre-se que não é um vírus que está atormentando as ruas de Barcelona e sim um demônio.
Tem três linhas bem paralelas sobre o roteiro de um filme. Tem a linha do real, que é quando as coisas do filme podem acontecer. Após o real, temos a mais tênue: a linha do duvidoso, o que não sabemos se realmente pode acontecer. [REC] conseguiu atingir esse patamar, assim como outros grandes sucessos. E mais embaixo, temos a linha da desgraça, ou do surreal, quando tem tantas informações tão absurdas dentro de um filme que ele deixa de ser duvidoso e vira ridículo. Isso é [REC] 2. Eu sentia vontade de rir vendo o filme cair na frente dos meus olhos. E, claro, sem nenhuma inovação. Os diretores dos filmes de terror estão apostando pouco.
Manuela Vidal é a única atriz capaz desse filme, já que metade dos atores estava modificado em máscaras de sangue e se comunicava por urros. E a outra metade se escondia atrás de uma câmera esquizofrênica. Nisso, só sobram dois atores em potencial: o padre, cuja atuação foi extremamente desnecessária, e Manuela Vidal, que só apareceu durante os últimos 20 minutos de filme. Uma boa maquiagem, pra não dizer que minha ida ao cinema foi tão ruim assim.
[REC] 2 é um reflexo embaçado de [REC], só que com uma tentativa de aumentar a trama e o suspense. É, não foi uma das mais felizes. Se ele estreiou em primeiro lugar na Espanha foi porque gostaram do primeiro capítulo desse show de horrores figurativos. Aposto que [REC] 3 vai ser um reflexo perfeito do segundo com uma visão turva do primeiro. Outra desgraça, não recomendo nem este nem as próximas continuações, apenas vejam o primeiro para poderem se assustar um pouco.
NOTA: 3

6 de setembro de 2010

Jogos Mortais 6 (2009)

Um filme de Kevin Greutert com Betsy Russell e Tobin Bell.

Os filmes de terror andam bem mais complicados atualmente que qualquer outra coisa. Sabe, se eu for ver o segundo Piratas Do Caribe eu posso entender a história sem ver o primeiro. A minha sorte no quesito Jogos Mortais é que eu já tinha uma experiência (eu, por enquanto, só vi os Jogos Mortais pares) por isso não fiquei com uma cara de espanto enquanto se passava a história de John Kramer. Tirando isso eu gosto de Jogos Mortais, sem qualquer preconceito com as continuações compulsivas que insistem em fazer para ver se algo retoma a fórmula do sucesso primogênito. E nunca conseguirão essa façanha novamente, é algo óbvio. Só olhar para A Bruxa de Blair, [REC], O Albergue e aposto que o próximo Atividade Paranormal também entra na lista. Eu até prefiro o primeiro Jason e o primeiro Sexta-Feira 13 às continuações. Jogos Mortais não foge desse padrão, pelo contrário, ele que o criou.
Após John Kramer (Tobin Bell) ter morrido, ele passa as tarefas à sua esposa Jill Tuck (Betsy Russell), cuja missão póstuma é fazer um novo jogo com 6 pessoas, entre elas William Easton (Peter Outerbridge), o dono de uma seguradora de vida que decide injustamente o direito de viver de seus clientes. Porém, outro dos aliados de Jigsaw, Mark Hoffman (Costas Mandylor), assume o controle dos jogos.
Sempre gostei dos roteiro dessa franquia porque havia sempre uma razão pra matar. Ninguém acordava e falava: "Porra, hoje estou a fim de matar alguém", você matava certa pessoa porque ela tinha matado, ludibriado, estuprado, roubado. E fico feliz que o sexto filme continua com essa ideia. E aí eu parto para outro ponto que NUNCA ocorre em filmes de terror: inovação. Só vi 3 Jogos Mortais até agora, mas todos tem esse ponto em especial. Com vários efeitos e sem economias de banhos de sangue. E no fim sempre há uma retrospectiva com uma surpresa fatal para o "protagonista". Isso, ao invés de tornar o filme mais interessante o torna um reflexo do primeiro, além de deixá-lo previsível.
A única atuação que eu acho digna de ressalva é a de Betsy Russell, que faz um estilo vadia-viúva-vingativa. 3 V's, agora que eu percebo. Eu cansei de toda essa interpretação de um psicopata moralista que Tobin Bell faz, pra mim isso se encaixa no Hannibal, não no Jigsaw, embora tenha até dado um empurrãozinho nos primeiros filmes. Costas Mandylor me lembra demais Arnold Schwarzenegger e conseguiu ser melhor que mediano durante sua atuação. Eu gosto da maquiagem de filmes de terror, esse não fica atrás, mas não consigo enxergar nada aproveitável na fotografia.
São histórias previsíveis, Jogos Mortais poderia parar de ser um terror e se transformar apenas na história de John Kramer, pois é só isso que falta. Não vi muita razão para ter esses assassinatos nos filmes que se seguem após a morte de Jigsaw. Como a franquia vai seguir com essas continuações desnecessárias, Jogos Mortais nunca vai voltar a ser um filme tão inteligente quanto um dia já foi. E enquanto isso ocorre nas gravações para o sétimo episódio desse clichê sem fim, a nota combina com a continuação.
NOTA: 6

4 de setembro de 2010

O Porco Espinho (2009)

Um filme de Mona Achache com Josiane Balasko e Garance Le Guillermic.

Nunca tinha chorado com um filme. Imagine com o filme e com o livro juntos. O Porco Espinho é uma obra belíssima que questiona exatamente a nossa felicidade. Seus personagens são criaturas que conseguem pensar diferente dos demais e não querem viver na igualdade embora os outros vivam neste aquário ilusório sem nem perceber e é isso que os torna cultos, inteligentes - e incrivelmente infelizes. E eles tem razão para viver infelizes? Acho que o contrário que deveria ser questionado tendo em vista tudo o que o filme passa: será que nós, os peixes da "felicidade", temos razão para vivermos felizes?
Paloma Josse (Garance Le Guillermic) é uma menina de 11 anos que abomina sua existência de garota rica em sua família rica num prédio de luxo de Paris. Com várias dúvidas sobre o quão feliz é a vida dos outros que fingem a felicidade e sobre a própria felicidade, ela resolve se matar no dia em que ela completará 12 anos. No mesmo prédio dela, temos  Renée Michel (Josiane Balasko), uma viúva infeliz cuja única preocupação é manter um estereotipo de concierge para que ninguém veja que debaixo de sua couraça se esconde uma mulher culta que lê de Tolstói à Feuerbach. Mas, num dia, surge um novo morador no prédio, o senhor Kakuro Ozu (Togo Igawa), que faz com que Paloma se questione sobre o valor da vida e que Renée repense sobre sua extrema solidão.
Ótima atuação. Não sabia de quem esperar mais, da boa Josiane que leva o filme numa seriedade impecável e engraçada em certos momentos, ou da ótima Garance que consegue criar a garota esperta, questionadora e fechada em todas as suas ações. Não engoli Togo Igawa, algo na atuação dele não descia, acho que por ser macio demais e por ser o único ser pensante feliz do filme. Os diálogos, fiéis ao livro, são ótimos. É espantoso ouvir da boca de uma garota de 11 anos uma comparação entre a psicanálise e o cristianismo. Bela fotografia e excelente trilha sonora.
É um ótimo roteiro. O fato de ser baseado num livro não estragou a mágica de cada momento vivido pelas duas protagonistas que se identificam com o porco espinho: com uma proteção por fora, mas por dentro encantadoramente belas e enigmáticas. E embora ele tivesse tudo para ser um filme acabe com seus preconceitos e estereotipos, num final feliz e clichê, ele acaba sendo perturbador, e consegue ainda ser sutil com toda essa perturbação. E ainda conseguiram a façanha de equilibrar e juntar todas as partes do filme através de diálogos e ações, nada fica injustificado. Exceto o brilhante final, que fica por conta do espectador.
Certo, é um drama fácil. Mas do mesmo modo, é uma filosofia. O Porco Espinho cria situações dóceis que levam à pensamentos sobre o valor da vida e da morte, sobre a nossa felicidade infundada e sobre a nossa infelicidade gritante, que já está junto a nossa essência. Sabe, o que importa não é como se morre e sim como você estava quando morre. E você já está pronto para a morte ou ainda precisa estar preparado para essa situação natural, nem trágica nem bela?
NOTA: 9

Ilha Das Flores (1989)

Um filme de Jorge Furtado.

Eu não sou muito de falar de curtas, acho que já vi uns 9 esse ano e nunca comentei nada aqui. Mas achei que era necessário falar de Ilha Das Flores. Pra quem não conhece, é um curta de 13 minutos que passa em escolas e palestras e pode ser facilmente encontrado no Youtube. E já vou avisando: é simplesmente a verdade cuspida na nossa cara. Com apenas uma narração no estilo documentário, o filme nos leva a ver a passagem de um tomate até um depósito de lixo localizado no Porto Alegre, chamado Ilha Das Flores. E é aí que ele cospe em nós. Tudo no curta é verdadeiro em relação a desigualdade social gerada pela economia selvagem que nós temos. E, acredite se quiser, Ilha Das Flores já foi eleito o melhor curta brasileiro de 1990 e ainda consta no livro 1001 Filmes Para Se Ver Antes De Morrer. E como ele chegou lá? Acho que por mostrar a diferença entre telencéfalos altamente desenvolvidos e polegares opositores, diferença essa que se chama economia, que coloca seres humanos abaixo de porcos numa cadeia alimentar. Darwin ficaria desapontado.
NOTA: 9