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9 de outubro de 2010

As Horas (2002)

Um filme de Stephen Daldry com Meryl Streep, Nicole Kidman e Julianne Moore.

Bastante infeliz, essa é a verdadeira descrição da obra que foi As Horas. A infelicidade invade o filme inspirado em livro, com uma trajetória mesclada e não linear entre vidas amargas e infelizes. E é a mais pura infelicidade. Belo filme de Stephen Daldry, ele conseguiu criar uma atmosfera ainda mais densa que o livro, que é tão belo e tão triste quanto o filme. E apesar de toda a sincronia alegre que as três protagonistas insistem em fazer em vários momentos do filme, nos pensamentos suicidas, nas suas estórias de vida que as marcam, nas suas doenças, nas suas manias e nos seus traumas que cativam o público com um sentimento contagiante, tudo isso ainda consegue exalar tristeza intensa, desde os diálogos interessantes e corridos até o figurino de cores mortas.
O filme é dividido em 3 partes principais. A primeira conta sobre a história de Virginia Woolf (Nicole Kidman), uma escritora doente e depressiva, que tem ideias suicidas constantemente e isso a atrapalha a manter a calma perto das pessoas e se concentrar para escrever suas obras; a segunda ocorre 28 anos depois, em 1951, com Laura Brown (Julianne Moore), a esposa de um ex-soldado que planeja fazer uma festa para ele, mas após alguns acontecimentos do dia começa a pensar sobre toda a sua ligação conjugal; e, em 2001, um dia especial para Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora que vive em Nova York e planeja dar uma festa a seu antigo amante, Richard (Ed Harris), que ganhou um prêmio por escrever um livro sobre sua vida com a AIDS. Toda estão interligadas pelo romance Mrs. Dalloway. Virginia o escreve, Laura o lê e Clarissa o vive.
A atuação do filme é esplêndida, embora eu tenha me surpreendido negativamente com Meryl Streep. Achei que ela tiraria seu papel com maestria, mas não conseguiu me prender a sua história como as outras duas principais conseguiram. Julianne Moore realmente está ótima nesse, consegue transmitir toda a sua dor para o espectador ver quanto seu casamento é baseado em relações de submissão e um compromisso inexistente e quanto seu suicídio parece ter razão a cada hora. Nicole Kidman não fica atrás. Como Virginia Woolf, uma mulher séria e sem expressões, ela ficou ótima. Não é uma personagem muito interessante, já que ela derramava até lágrimas com relutância, mas também não é uma personagem fácil, e Nicole a tira de letra. Os figurinos de 1923 e de 1951 merecem um destaque, além da maquiagem e a da fotografia usada nos diferentes momentos do longa.
Os detalhes do roteiro para transformarem um filme que poderia ser retratado de uma maneira mais animada (assim como foi feito em Julie & Julia) em um ode à tristeza ficaram ótimos. Todas as sutilezas da câmera na hora de retratar o descanso das três moças, as tendências suicidas e lésbicas que todas apresentavam, as flores que as três agraciam de manhã e, principalmente, o romance que une a todas, são incríveis. Até os diálogos se interligam em certas horas construindo a mágica e a delicadeza da doce visão das personagens. E toda a adaptação das páginas do livro de Michael Cunningham conseguiram transmitir quase tudo que ele quis passar, embora ainda falte algo que só pode ser encontrado na literatura.
A imaginação das histórias de uma vida pública e duas vidas atormentadas no silêncio é algo ótimo. E a criação de nossa imaginação nas imensas telas de cinema pode ser ainda melhor. Todo o sofrimento de Virginia Woolf foi trazido a tona por intermédio de sua doença e da bela atuação de Nicole Kidman, que lhe rendeu um Oscar. A felicidade falsa de Clarissa Vaughn não poderia ser melhor ambientada do que na Nova York de 2001. E a esposa que chora por sua vida, assim como as outras donas-de-casa da vizinhança, não seria a mesma se não fosse Julianne Moore. Tudo no filme cheira a perfeição desde o início, assim como o sofrimento que As Horas traz.
NOTA: 10

3 comentários:

chuck large disse...

Cara, vi este filme já tem um tempo. Tenho que revê-lo, lembro bem vagamente sobre o filme, mas o essencial eu não esqueci: um puta filme, vélho!

Cristiano Contreiras disse...

Eu acho esse filme doloroso, intimista e muito denso. De uma beleza técnica e de uma emoção sufocante, um filme que não esqueço jamais. Um dos meus prediletos. Muito bom seu texto, condensa bem o teor do filme e sentidos. abraço

Anônimo disse...

Uma bela obra de Kubrick, talvez esteja enganado, mas a coincidência do relato do sonho de Alice, onde faz sexo com vários homens enquanto outros observam, possa ser interpretado pela ótica freudiana, em que nas orgias mascaradas que Bill presenciou, sejam nada mais, que o pacto da hipocrisia social, em que por debaixo de mascáras, que escondem nossas identidades e desejos mais intimos, podemos levar a cabo, a manifestação animalesca que repousa no amago de cada ser humano, que é reprimido pela necessidade da convivência social e suas regras.