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31 de dezembro de 2010

A Vida É Bela (1997)

Um filme de Roberto Benigni com Roberto Benigni e Nicoletta Braschi.

Vários filmes trabalham de um aspecto histórico e cruel com a segunda guerra mundial, que é ótima pra tudo isso, trabalhando com a mancha na história do mundo que foi Hitler de modo irônico, denunciador ou crítico. Apenas no tempo de um piscar de olhos, nomes como O Pianista, Bastardos Inglórios ou A Lista de Schindler brilham na minha cabeça, utilizando em primeiro ou segundo plano, de um jeito significativo, a guerra. A Vida É Bela é um diferenciador de tudo isso porque a segunda guerra está lá, importante como sempre, atrapalhando a vida dos judeus e de quem os nazistas não considerassem dignos do mundo evoluído. Mas é uma história principalmente de amor. O pudor utilizado nas cenas torna o filme algo assistível para todos, mas que não perde seu peso na categoria em que foi feita.
Na Itália dos anos 40, Guido (Roberto Benigni) vai morar com seu tio e seu amigo na cidade grande, com o sonho de abrir uma livraria. Mas, chegando à cidade, ele se depara inúmeras vezes com Dora (Nicoletta Braschi), uma professora da escola local, por quem se apaixona perdidamente. Alguns anos depois de a história de amor dos dois se concretizarem, há a perseguição dos judeus na europa. A partir daí, Guido, Dora e o filho deles são levados e separados num campo de concentração. Desde então Guido, para proteger o filho do mundo e sua crueldade, faz o menino acreditar que ambos estão vivendo uma grande brincadeira.
Sei o sentimento de vários brasileiros frustrados ao acompanhar com tanta força o Oscar de 99 e torcer tanto para um filme nacional conquistar a tão desejada estatueta de ouro em alguma categoria. Justiça foi feita, quem ganhou o melhor filme estrangeiro não foi o emocionante Central do Brasil, mas sim o tão emocionante quanto A Vida É Bela. A película italiana tem um enfoque especial na relação familiar super protetora, que é mostrada lindamente no longa de Benigni. A segunda guerra serve para mostrar quão longe o ser humano pode ir pelo seu instinto a ponto de zombar com tudo e com todos, sofrer duplamente num dos piores lugares imagináveis, fingir mortes alheias sem derramar lágrimas apenas para manter viva as chagas de uma fantasia que pode se extinguir com qualquer movimento explícito, afinal um campo de concentração está imergido num mundo de violência e preconceito. A obra premiada traz valores já perdidos por meio de um amor onde os outros só veem cinzas e destruição.
Roberto Benigni se mostra um excelente ator - e diretor - no filme, no meio de seus momentos de criatividade ao criar inúmeras situações inesperadas para mostrar a graça de uma vida ingênua e nova na segunda guerra mundial. A obra nos pega de jeito em seu fim, pois além de fazer piadas do nível d'Os Trapalhões com seu protagonista, ele se mostra com um coração enorme ao esconder o mundo de uma alma, e de enfrentar o mundo por outra. A comoção do filme se dá pelo que Guido nos trouxe o filme inteiro, e não por apenas um momento triste que chega a seu ápice. Nicoletta Braschi, que é a esposa de Benigni também na vida real, tem uma força bonita no filme. É difícil ver algo além do brilhantismo do ator-diretor, que rouba a cena em todas as suas deixas, mas Nicoletta apresenta uma veracidade nos gestos sem igual.
A Vida É Bela é, parafraseando, belo. Me sinto diminuindo a verdade, belíssimo. O mágico do filme é mostrar, sem qualquer realidade, a brincadeira arquitetada por um pai para não deixar o filho preocupado, e para continuar provando para sua mulher, trancafiada há um muro de distância, o quanto o coração ainda bate por ela. É a importância de sentimentos que as pessoas já esqueceram nos dias de hoje. Como um fato histórico, A Vida É Bela é inútil, mas como um romance, não há melhor.
NOTA: 9

28 de dezembro de 2010

A Rede Social (2010)

Um filme de David Fincher com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield e Justin Timberlake.

Facebook. Atualmente mais de 500 milhões de pessoas tem. Fácil você identificar isso, hoje em dia na maioria dos sites que você entra há uma propaganda do facebook, ou então quadradinhos com um "F" num fundo azul, te levando à página do facebook do dono. Eu ainda não sou uma dos seguidores do facebook, mas estou inclinado após o estrondoso A Rede Social, o novo longa de David Fincher, diretor também do Clube da Luta e d'O Curioso Caso de Benjamin Button. Fincher foi meu primeiro motivo de ver o filme. Depois foi a avaliação. O filme, que já tinha estreiado nos Estados Unidos, teve um sucesso de crítica imensa por lá, chegando a pontuação de 93 em sites populares, mesmo com 1 mês após a estreia.
Numa noite de 2003, na faculdade de Harvard, Mark Zuckenberg (Jesse Eisenberg) leva um fora de sua namorada, Erica Albright (Rooney Mara). Alguns minutos depois ele fala mal dela no seu blog e decide criar um site comparando as meninas das universidades locais, se tornando um sucesso estrondoso em poucas horas. Esse sucesso traz certo interesse em Zuckenberg, dando a ele a oportunidade de criar um site de relacionamento apenas das universidades. Junto com seu amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield), eles criam o TheFacebook, site que também vira sucesso. Atualmente, Zuckenberg é o mais jovem bilionário do mundo e seu Facebook se tornou o tabajara dos sites de relacionamento. A Rede Social é a visão de todos os ângulos da história entre a criação e o sucesso do website.
É incrível a capacidade de David Fincher para criar obras desse peso, até mesmo quando o assunto chega a ser maçante. Por mais que seja a rede social mais utilizada no mundo, a estória do facebook poderia não ter o mesmo sucesso em outras mãos, do mesmo modo que a película de Fincher não seria um estouro se o filme falasse do myspace. Em certo momento do filme, o protagonista diz que está checando o número de usuários do facebook na Bósnia Herzegovina. A resposta da interlocutora diz muito, "Uau, não há ruas asfaltadas por lá, mas as pessoas têm facebook". É um filme atual, com as marcas características da globalização e com personagens que carregam carapaças já conhecidas nas costas. O ritmo incontrolável, intensamente levado por Jesse Eisenberg até o desfecho, e a transição entre histórias pós e pró criação do website deu muito certo, trazendo uma carga emocional altíssima para o que poderia ter sido um documentário frio sobre o mundo empresarial e as batalhas sofridas por um jovem estudante de Harvard para criar um dos maiores sites de relacionamento existentes.
Outro fator para o sucesso do longa foi Jesse Eisenberg. Desde o início já conhecemos o lado nerd e desbocadamente sincero de seu personagem, o que o traz a característica de babaca logo cedo. Essa palavra pode resumir o jovem bilionário dono do facebook que nos é mostrado nas telas. Mas é um babaca tão caricato, cheio de manias, que é impossível não adquirir certa simpatia pelo evidentemente simples e inofensivo Mark Zuckenberg e suas frases frenéticas e longas que parecem estranhas no mundo dos negócios. E ao mesmo tempo que há essa simpatia no fim, o resto da duração ele se torna um dos babacas mais odiosos da tela, tornando-se, paralelamente, o vilão e o mestre das relações sociais. Zuckenberg é apenas um estudante, babaca, claro, que tem problemas de relacionamento e por isso cria um site de relacionamento que se torna estrondoso. Do mesmo lado, temos Andrew Garfield, que faz um personagem cheio de extremos e sensibilidade e deveria ser mostrado como vilão na visão do "protagonista", mas se mostra às vezes o verdadeiro protagonista.
O novo drama de Fincher tem seus pontos baixos, claro. Com uma história de linearidade alterada, personagens com estereotipos bem executados e fatos cabeludos de uma empresa super bem sucedida, a obra corria o risco de virar um clichê, e dos grandes. Ainda bem que o filme chega um pouco além disso. O ponto culminante do filme são os ótimos personagens que seguimos, mostrando seus lados humanos à flor da pele. Mark Zuckenberg é quase um Cidadão Kane do século 21. Divertido e cativante, tudo de A Rede Social deveria ser visto por todos os 500 milhões de amigos existentes no facebook e adorado. Ou então, muitíssimo odiado.
NOTA: 8

13 de dezembro de 2010

Selo Dardos



Bem, o Crítica Mecânica acaba de ser premiado pelo companheiro Luiz Santiago do blog parceiro Cinebulição com o prêmio Selo Dardos.
O prêmio é um reconhecimento pelo interesse no conteúdo dos blogs premiados e um destaque aos blogueiros por essa transmissão de valores. Só tenho que agradecer ao Luiz Eduardo, que viu essas características aqui no blog e indicou ao Selo Dardos.

Mas isso não morre aí. Há algumas regras para os blogs que forem indicados com o prêmio:
1. Exibir a imagem do selo;
2. Linkar o blog de quem recebeu a premiação;
3. Escolher 3 blogs com temáticas semelhantes para serem indicados ao Selo Dardos;
4. Avisar aos escolhidos.

Bem, bem, bem, os meus 3 indicados fazem por merecer com blogs atualizados e com postagens interessantes, valem mais que uma visita:
1. Apimentário
2. MaDame Lumière
3. Cinema - A Arte Da Emoção

Não sou uma pessoa que segue muitos blogs e a maioria dos que eu sigo já foram indicados e, bem, não vou ficar a madrugada procurando blogs com temática parecida enquanto tenho uma lista aqui de ótimos já premiados, ainda mais considerando a velocidade da minha internet. Pois bem, dou então uma segunda indicação ao Apimentário e premio, merecidamente, o MaDame Lumière e o Cinema - A Arte Da Emoção, todos com textos que valem muito a pena ler.
Parabéns aos novos indicados e um obrigado novamente ao Cinebulição, que me indicou.

11 de dezembro de 2010

Educação (2009)

Um filme de Lone Scherfig com Carey Mulligan, Alfred Molina e Peter Sarsgaard.

Um roteiro super simples com atuações super simpáticas e uma fotografia muito agradável, seguida de uma trilha sonora belíssima. E uma ideia assim deu tão certo, não faço ideia como. Já faz algum tempo que estou querendo conferir o aclamadíssimo Educação, mas porque todos falam e não porque o roteiro me cativou. A ideia me parece simples demais e sem qualquer aprofundamento, idiotice minha pensar assim. É um retrato já colocado tantas vezes em voga que parecia algo que já tinha visto, mas é mais que isso. É o peso da educação numa sociedade moralista e patriarcal, é a única chance de ascensão social para uma mulher na Inglaterra dos anos 60, é o sacrifício da diversão para um martírio que é o estudo incansável até uma faculdade conceituada pelo povo britânico. E é a desbanalização de uma história de amor muitas vezes já cansativa de tanto que é apresentada.
Jenny (Carey Mulligan) estuda numa escola conservadora ao extremo, tira as melhores notas da classe, faz parte da orquestra de sua escola tocando violoncelo e se esforça ao máximo para poder entrar em Oxford. Todas essas tarefas são observadas atentamente por seu pai Jack (Alfred Molina), que só pensa no esforço da filha para poder entrar na universidade; não deixando, assim, um espaço de tempo para Jenny ouvir jazz e falar francês, suas únicas obsessões. Num dia, Jenny conhece David (Peter Sarsgaard), a personificação da maravilhosa vida que tanto queria: um homem culto que frequenta concertos de jazz, vai a leilões de obras de arte, tem amigos interessantes e viaja pelo mundo. A partir de seus encontros com o homem, Jenny entra num dilema em sua vida entre sua educação tediosa e uma vida que sempre quis, regada a diversão.
A atuação é estupenda. Peter Sarsgaard faz um homem cativante do começo ao fim do filme. Gostei muito da atuação de Alfred Molina, que sempre alegra os filmes que faz, e criou um pai rigoroso e preocupado com um humor irônico pra década atual, mas com uma veracidade incrível pra década de 60. Cara Seymour, que faz a mãe de Jenny, Marjorie, também está ótima no papel da mãe passiva. É o retrato da mulher bem sucedida, que se casa com uma educação, virando dona-de-casa. O inverso de seu papel seria Helen, interpretada por Rosamund Pike, uma mulher elegantíssima, amiga de David, mas com nenhuma educação aparente, vivendo a base de uma vida de glamour e jóias. O inegável é que a maior atuação do filme é da novata Carey Mulligan, indicada para o Oscar de melhor atriz. Tendo que carregar um papel tão caricato nas costas, ela o faz com maestria, levando o filme com uma simplicidade e leveza dignos. Sua Jenny beira o auge dos sentimentos de uma adolescente inconformada com sua vida.
O filme traz uma lição um pouco moralista, concordo, mas necessária. Quanto vale uma educação? Vale uma fuga de uma vida árdua para obter sucesso, uma fuga sem volta? Vale um confronto direto com uma sociedade machista que não dá valor as mulheres, um confronto até com a sociedade feminina passiva da época, que se submete às vontades masculinas? Vale uma vida jogada fora? Vale um amor? A educação é a coisa mais importante da vida das meninas interessadas em Oxford, que planejam uma vida incrivelmente tediosa (esse é o retrato que eu faço da vida que Jenny planeja: uma vida em Paris, fumando um cigarro e escutando jazz sem qualquer atrativo a mais). O amor acaba com a vida de uma adolescente inocente e ingênua aos poucos, que é facilmente influenciada quando lhe oferecem uma vida diferente da que vive. E é tão fácil aceitar essa proposta, o difícil é se arrepender depois que a sedução se torna um pesadelo e querer voltar para um lugar em que ela cuspiu por ir contra suas vontades passageiras.
Educação é belíssimo, simples, divertido. Nenhuma cena pode ser jogada fora como foi a vida e os sonhos de Jenny. Outro aspecto interessante é o desperdício dos sonhos da menina. Enquanto, nas cenas finais, David se mostra capaz de fazer sexo com facilidade com qualquer uma e levar a Paris qualquer menina, Jenny ainda queria se guardar virgem para alguém especial. Impossível depois que tudo já está feito. O que resta para ela é tentar reconstruir seus sonhos quebrados num passado sombrio, o que ela consegue fazer ao fingir que nunca foi à França, ao esquecer esses resquícios de sua, então, curta vida. A obra é o peso da educação na tela, e o peso do amor. Colocando os dois numa balança, quem será que ganha? O que me responde isso é o diálogo da ótima Olivia Williams, que faz professora de Jenny, ao dizer que nenhuma jóia ia arruinar a vida de nenhuma garota naquela sala, senão o anel na mão esquerda da protagonista. A fotografia e a trilha sonora do filme se completam nas cenas magníficas nos subúrbios de Londres ou em ruelas de Paris.
Um belo filme com belas atuações com um belo roteiro. Esclarece simplesmente sua lição nos primeiros momentos explorando a inocência de uma jovem de 17 anos, que não experimentou o amor em sua vida. É um retrato excelente da década de 60, uma década cheia de submissão e rigor, passividade e farsas, sonhos, desejos e rompimentos, brigas e desinteresses. Mas além de tudo, uma década onde a educação era mais que necessária.
NOTA: 9

7 de dezembro de 2010

Planeta Terror (2007)

Um filme de Robert Rodriguez com Bruce Willis e Rose McGowan.

Enquanto Tarantino em sua parte cria uma atmosfera brincalhona usando sua técnica já vista nos filmes anteriores, Robert Rodriguez cria o cúmulo do trash. As falhas colocadas ao longo do filme para serem caracterizadas como um filme B antigo servem apenas para criar a impressão de mais mal feito ainda, enquanto em À Prova de Morte elas se parecem mais com uma sátira. O grande problema de Planeta Terror é seu exagero obsessivo. Claro, não vejo como criar um trash sem exagerar, mas este exagera tanto a cada minuto que fica tão maçante quanto os diálogos imensos de Tarantino.
Cherry Darling (Rose McGowan) é uma go-go-girl que acaba de se demitir para achar outro rumo para sua vida. Além de seu fiasco de emprego, ela ainda tem que aguentar seu ex-namorado El Wray (Freddy Rodriguez) em seu pé, tentando reatar o namoro. Enquanto eles voltam para casa, várias pessoas são transformadas em zumbis sanguinários numa base militar perto. Esses zumbis arrancam a perna de Cherry, que coloca uma metralhadora em seu lugar. Assim, os dois criam uma resistência aos zumbis para tentar salvar suas vidas e dos outros não infectados, como a dra. Dakota Block (Marley Shelton), uma anestesista que tenta sobreviver à vingança do marido.
Em meio a piadas repetitivas e um roteiro mal construído, há uma coisa que o filme consegue colocar com perfeição, que foram os personagens bem trabalhados. Realmente, eu nunca iria pensar numa go-go-girl com pernas de metralhadora para lutar contra zumbis sedentos por sangue, ou então numa anestesista que parece estar de ressaca durante o filme inteiro, que ataca seus inimigos com um kit de agulhas que ela carrega na perna. Se tem algo de divertido no filme são os diálogos. Embora alguns não se salvem ao criar certo humor negro e tentarem ser engraçados, outros são impagáveis, caracterizando bem o filme de Rodriguez. Na atuação, eu prefiro os papéis de Rose McGowan e de Marley Shelton, que fazem uma caracterização ótima dos personagens. Jeff Fahey, que faz o irmão do xerife, é outro que merece atenção, embora todo o seu diálogo pelo melhor churrasco do Texas me pareça meio forçado. Freddy Rodríguez é o que menos me chamou a atenção, talvez pelo seu personagem com uma sátira tão excessiva que me cansou, o mesmo argumento que eu uso contra o filme.
É uma mistura entre a paródia e a originalidade exagerada. Divertido para se ver e estranho para se comentar. Planeta Terror é uma mistura de trailers falsos, rolos perdidos, metralhadoras, personagens que arrancam testículos, furúnculos imensos, nojo e sexo combinados, com muito sangue, mulheres bonitas e uma ideia já batida. A intenção realmente era criar uma ideia já batida, então isso é levado em consideração. Embora no papel a ideia de Tarantino se mostre bem menos atraente para mim do que a de Rodriguez, na prática À Prova de Morte se encaixou bem melhor no quesito técnica. Direção, trilha sonora, fotografia, ângulos, enquadramentos, cenários e uma atuação bem mais convincente estão na segunda parte do projeto Grindhouse. De Robert Rodriguez só sobraram os risos de incredulidade à medida que a trama se arquiteta.
NOTA: 6

4 de dezembro de 2010

À Prova de Morte (2007)

Um filme de Quentin Tarantino com Kurt Russell, Rosario Dawson e Vanessa Ferlito.

Após 3 anos de atraso, À Prova de Morte finalmente chega ao Brasil para se juntar com sua cara metade de 2007, Planeta Terror, dirigido por Robert Rodriguez. Os dois fazem parte do projeto Grindhouse, que me pareceu uma paródia aos filmes B da 50 anos atrás. Lá vemos novamente a marca de Tarantino brilhando na tela: sua paródia é colorida e preto-e-branco, cheia de diálogos e brincadeiras com palavras, referências à cultura pop e filmes de anos atrás, cheio de explicitações de violência e sexo, com bastante sangue, lutas e mulheres gostosas. Agora o que é aproveitável do filme? Não muita coisa. Mas o filme num todo é que promove a graça com o resto: cenas subentendidas por cortes do filme propositais, como se estivéssemos vendo um filme antigo onde as cenas são cortadas abruptamente, diálogos imensos que não alterariam a ordem se fossem cortadas, golpes de kung-fu feitas por mulheres aparentemente fracas e corridas excitantes e longas.
Jungle Julia (Sydney Poitier) é uma DJ conhecida no território texano. Ela planeja um fim-de-semana inesquecível com suas amigas Arlene (Vanessa Ferlito) e Shanna (Jordan Ladd) no interior de Austin. Sua noite começa num bar de beira de estrada, onde todas bebem bastante para começar a festa com chave de ouro. Mas as garotas mal sabem que, para ter o fim-de-semana dos seus sonhos, elas precisam sobreviver a Stuntman Mike (Kurt Russell), um dublê perturbado, cuja alegria se resume a uma sangria realizada através de seu carro.
O filme é uma sátira atrativa. Dividido em duas partes, que podemos nomear a doença de Kurt Russell e a cura de Kurt Russell, o astro do filme é Kurt Russell. Isso é mostrado através das falas cada vez mais densas de seu personagem, enquanto as mulheres aparecem apenas para dizer da festa de ontem à noite, e de como ficaram 20 minutos beijando tal garoto. Tarantino as coloca como "principais-coadjuvantes" para terem aquele aspecto de aparecer apenas para ser gostosa, o que realmente era a função delas em vários filmes envolvendo carros. Os pilotos sempre são os principais, mas há uma mulher gostosa para abaixar a bandeira. Os ângulos, as transições, a fotografia, tudo é atrativo em Tarantino. Seja num plano aberto com quatro garotas em câmera lenta, seja num close em saias, metades de caras, carros ou cigarros. Há uma cena em que o celular de Abernathy (Rosario Dawson) toca a música Twisted Nerve, a mesma assobiada em Kill Bill por Daryl Hannah. Coincidências ou referências? Na atuação, Kurt Russell, Rosario Dawson e Vanessa Ferlito fazem os personagens mais memoráveis.
Carros velozes e mulheres peitudas, um acidente suspeito na cidade mais caricata dos Estados Unidos. Tarantino esfrega o clichê na tela propositalmente para que todos tenham um bom momento assistindo sua película. O desfecho do filme prova isso, após golpes contínuos de artes marciais, um pulo congelado no ar e... THE END. Se um outro diretor fosse fazer À Prova de Morte, apenas 20 minutos dessa ideia original seriam aproveitados. Mas eu não sei quanto a vocês, prefiro um trash cômico de 114 minutos desnecessários a um filme maçante de apenas meia hora.
NOTA: 8

1 de dezembro de 2010

Enterrado Vivo (2010)

Um filme de Rodrigo Cortés com Ryan Reynolds.

Se tem uma coisa que Enterrado Vivo deveria ser e é, com toda certeza, é agonizante. Claustrofóbico. Angustiante. Deixa o espectador com uma ânsia imensa. Consegue com clareza passar suas sensações ao espectador através de uma iluminação tensa dentro de um caixão. Não só a iluminação, já que o filme é movido por tensão. Essa tensão ajuda o filme e o faz cair, já que ele cria tanta expectativa no público que eles se esquecem de se perguntar como uma cobra entrou nas calças do Ryan Reynolds se ele estava num caixão e, claro, como ela não o picou no caminho para fora?
Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um caminhoneiro norte-americano que é mandado como empreiteiro numa missão no Iraque. Lá ele fica por 9 meses trabalhando, até que ele e o resto da empresa são alvos de um ataque, mas ele é somente sequestrado. Após o desmaio repentino, ele acorda num caixão apenas com um isqueiro, um celular com metade da bateria e pouco oxigênio. Desesperado, ele começa a contatar os seus compatriotas para que possam lhe ajudar a sair dali ao mesmo tempo que os sequestradores avisam que o resgate terá de ser pago em 90 minutos, ou ele morrerá.
O filme discute algo interessante que é o valor de uma vida. Não trabalha da maneira entrelaçada feita por 21 Gramas, mas de uma maneira bem mais simples. Observamos durante toda a sessão Ryan Reynolds ligar para os mais altos cargos de seu Estado tentando uma ajuda em seu resgate enquanto eles o tratam com total indiferença. Claro, ele é apenas um empreiteiro, um caminhoneiro, um joão-ninguém. Se fosse o presidente todas as forças americanas chegariam no Iraque sem que ele pudesse ter tempo de se contorcer. Algo que o filme tem o crédito de ser é claustrofóbico. Sua iluminação, hora feita por isqueiros e por lanternas, hora feita pela luz do celular ou por aqueles bastonetes de boate, condiz com o roteiro. Os momentos no escuro só aumentam a angústia, assim como o ambiente extremamente pequeno, dói apenas olhando o homem tentando se movimentar naquela caixa de madeira. Ryan Reynolds funciona melhor em dramas e suspenses do que em comédias, mas seus melhores momentos ficam nos seus monólogos no caixão com suas expressões impagáveis, ou em pequenos diálogos com iraquianos que improvisam no inglês. Suas facetas que transbordam sentimentos ao tentar se despedir de sua mãe e esposa não me convenceram totalmente, em geral sua interpretação está bem acima da média que os últimos filmes que eu conferi dele.
Rodrigo Cortés não deixa o ritmo do filme cair em momento algum. Primeiro cria uma atmosfera tensa nos espectadores e depois faz o que quiser com eles, pois o que mais há no filme é envolvimento. Um envolvimento claustrofóbico, angustiante, agonizante. Nos faz xingar qualquer autoridade com seu fim implacável ao mostrar o nível de preocupação atual. A cena em que o chefe da empresa, que colocou o personagem de Reynolds nisso tudo, liga para ele no caixão para fazer uma entrevista foi uma das mais tensas e miseráveis cenas que eu vi esse ano. Os 90 minutos de duração foram o mais improvável, tenso e asfixiante possível.
NOTA: 7