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31 de dezembro de 2010

A Vida É Bela (1997)

Um filme de Roberto Benigni com Roberto Benigni e Nicoletta Braschi.

Vários filmes trabalham de um aspecto histórico e cruel com a segunda guerra mundial, que é ótima pra tudo isso, trabalhando com a mancha na história do mundo que foi Hitler de modo irônico, denunciador ou crítico. Apenas no tempo de um piscar de olhos, nomes como O Pianista, Bastardos Inglórios ou A Lista de Schindler brilham na minha cabeça, utilizando em primeiro ou segundo plano, de um jeito significativo, a guerra. A Vida É Bela é um diferenciador de tudo isso porque a segunda guerra está lá, importante como sempre, atrapalhando a vida dos judeus e de quem os nazistas não considerassem dignos do mundo evoluído. Mas é uma história principalmente de amor. O pudor utilizado nas cenas torna o filme algo assistível para todos, mas que não perde seu peso na categoria em que foi feita.
Na Itália dos anos 40, Guido (Roberto Benigni) vai morar com seu tio e seu amigo na cidade grande, com o sonho de abrir uma livraria. Mas, chegando à cidade, ele se depara inúmeras vezes com Dora (Nicoletta Braschi), uma professora da escola local, por quem se apaixona perdidamente. Alguns anos depois de a história de amor dos dois se concretizarem, há a perseguição dos judeus na europa. A partir daí, Guido, Dora e o filho deles são levados e separados num campo de concentração. Desde então Guido, para proteger o filho do mundo e sua crueldade, faz o menino acreditar que ambos estão vivendo uma grande brincadeira.
Sei o sentimento de vários brasileiros frustrados ao acompanhar com tanta força o Oscar de 99 e torcer tanto para um filme nacional conquistar a tão desejada estatueta de ouro em alguma categoria. Justiça foi feita, quem ganhou o melhor filme estrangeiro não foi o emocionante Central do Brasil, mas sim o tão emocionante quanto A Vida É Bela. A película italiana tem um enfoque especial na relação familiar super protetora, que é mostrada lindamente no longa de Benigni. A segunda guerra serve para mostrar quão longe o ser humano pode ir pelo seu instinto a ponto de zombar com tudo e com todos, sofrer duplamente num dos piores lugares imagináveis, fingir mortes alheias sem derramar lágrimas apenas para manter viva as chagas de uma fantasia que pode se extinguir com qualquer movimento explícito, afinal um campo de concentração está imergido num mundo de violência e preconceito. A obra premiada traz valores já perdidos por meio de um amor onde os outros só veem cinzas e destruição.
Roberto Benigni se mostra um excelente ator - e diretor - no filme, no meio de seus momentos de criatividade ao criar inúmeras situações inesperadas para mostrar a graça de uma vida ingênua e nova na segunda guerra mundial. A obra nos pega de jeito em seu fim, pois além de fazer piadas do nível d'Os Trapalhões com seu protagonista, ele se mostra com um coração enorme ao esconder o mundo de uma alma, e de enfrentar o mundo por outra. A comoção do filme se dá pelo que Guido nos trouxe o filme inteiro, e não por apenas um momento triste que chega a seu ápice. Nicoletta Braschi, que é a esposa de Benigni também na vida real, tem uma força bonita no filme. É difícil ver algo além do brilhantismo do ator-diretor, que rouba a cena em todas as suas deixas, mas Nicoletta apresenta uma veracidade nos gestos sem igual.
A Vida É Bela é, parafraseando, belo. Me sinto diminuindo a verdade, belíssimo. O mágico do filme é mostrar, sem qualquer realidade, a brincadeira arquitetada por um pai para não deixar o filho preocupado, e para continuar provando para sua mulher, trancafiada há um muro de distância, o quanto o coração ainda bate por ela. É a importância de sentimentos que as pessoas já esqueceram nos dias de hoje. Como um fato histórico, A Vida É Bela é inútil, mas como um romance, não há melhor.
NOTA: 9

Um comentário:

chuck large disse...

Só tenho a concordar com você, "A vida é bela" é de fato belíssimo e emocionante!