Pages

12 de novembro de 2010

Sangue Negro (2007)

Um filme de Paul Thomas Anderson com Daniel Day-Lewis.

Juno realmente mostra a aventura de se tornar grávida com uma frieza e indiferença que Ellen Page retratou com maestria, entrando na ironia que é o mundo adolescente atual. Onde Os Fracos Não Tem Vez é uma obra prima, uma crítica forte com o ótimo Javier Bardem, um dos psicopatas mais interessantes dos últimos anos. Agora, para mim, a Academia se enganou ao eleger a película dos Coen e não a de Paul Thomas Anderson como melhor filme. Além do mais, Daniel Day-Lewis ganhou merecidamente seu prêmio de melhor ator. O que há de mais em Sangue Negro? Metáforas, metáforas e mais metáforas de um povo cuja ganância estava em estado de formação, ganância esta que resultou numa sociedade altamente etnocentrista.
Nos Estados Unidos na virada do século XIX para o século XX, logo após a guerra de secessão, um mineiro acabado tem como tarefa explorar algumas minas da Califórnia para conseguir seu ganha-pão. Logo após esse prólogo, vemos o mesmo mineiro que virou um explorador de petróleo que chega a ganhar 5.000 dólares por semana com o que ele consegue extrair. Esse mineiro é Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), um capitalista ganancioso. Quando ele é informado de uma cidade do Oeste, Little Boston, que tem um oceano de petróleo em seu subsolo, ele parte imediatamente com seu filho e sócio H.W. (Dillon Freasier) para lá. Ao chegar na cidade, Daniel logo vai comprando todos os terrenos para poder explorar pacientemente seu petróleo. Mas o que ele não espera é arranjar um conflito tão forte com a Igreja local, comandada pelo pastor Eli Sunday (Paul Dano).
Uma metáfora forte sobre o capitalismo selvagem, comandado pelo ambicioso Daniel Plainview em sua busca incessante e louca para lucrar com o petróleo, não importando quem ele derrubasse com sua cobiça e seu discurso cínico, que observamos logo no início do filme ao se caracterizar por ter um "negócio familiar", tendo o filho pré-adolescente como sócio para não precisar dividir seu lucro com ninguém. Também observamos uma crítica à igreja alienadora de Eli Sunday, o pastor mágico que cura os problemas de uma cidade cheia de crendices e costumes ligados à profecia do jovem padre. Observamos que a igreja necessita do capitalismo, da mesma forma que é inimiga deste. E o fim do filme retrata bem isso. Ao descobrir que a ligação entre a igreja e o próprio dinheiro está acabada, Daniel Plainview massacra a religião no auge da sua loucura, após renegar a última fonte de comunicação com a humanidade, que por uma ironia era seu filho mudo. É algo simples e surpreendente, utilizando duas fontes de usura atuais numa guerra existente na história dos EUA.
A atuação é, não posso dizer o ápice já que tudo no filme beira a perfeição, um dos pontos altos da película. Daniel Day-Lewis está divino, numa das melhores atuações que já vi. Suas facetas que reprimem a raiva escondida em ver toda a sua glória se desmanchando em fogo ou então reprimindo toda a sua demência e desejo que foi se acumulando silenciosamente ao longo dos anos são ótimas, o classificando como grande na sua interpretação. Paul Dano, famoso por seu papel em Pequena Miss Sunshine, está bem mais denso nesse filme. A cena em que seu personagem aparece coberto de lama após uma discussão com o petroleiro ou a que ele se faz de um amigo da indústria petrolífera para ajudar sua paróquia, todas as cenas em que o menino aparece são feitas para brilhar. A fotografia é belíssima e a trilha sonora aumenta ainda mais o clima pesado que ronda Sangue Negro, dois fatores que auxiliam bastante o andamento da história.
Sangue Negro começa com um prólogo de 15 minutos completamente silencioso, onde só podemos ouvir o barulho da natureza, uma explosão, do dinheiro numa caixa registradora e de um grito abafado de Daniel Day-Lewis. O filme termina quase 30 anos depois, numa pista de boliche onde um rico explorador de petróleo convence um padre fervoroso a se auto denominar charlatão e dizer que Deus não passa de uma superstição, tudo graças ao sistema capitalista que pode expandir a igreja deste pastor do pequeno vilarejo de Little Boston. Um ótimo filme onde tudo se liga numa teia negra como o sangue propriamente dito. Mais uma obra-prima para a filmografia de Paul Thomas Anderson, ao lado de Magnólia e Boogie Nights.
NOTA: 10

2 comentários:

renatocinema disse...

Temos gosto parecido. Adorei Sangue Negro. Sobre Som & Fúria, recomendo que tente assistir. É muito acima da média. Malucos e talentosos juntos.kkk

Cristiano Contreiras disse...

Eu acho Sangue Negro uma obra perfeita, concordo com seu ótimo texto - Day Lewis tem aqui uma atuação que impressiona, é até cruel a forma como seu personagem vai do ódio ao rancor...da ganância à soberba...e o filme é um puta retrato da vida, de mundo. Merecia o oscar de filme mesmo!

Ah, você precisa ver o filme que considero a segunda atuação de Daniel: "Meu pé esquerdo"...é marcante! e tem outro com ele muito bom também, "As bruxas de Salém". Procure, quero ler aqui, rs!

abs