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22 de julho de 2011

X-Men: Primeira Classe (2011)

Um filme de Matthew Vaughn com James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon e Nicholas Hoult.

Criar adaptações não é a tarefa mais fácil do mundo, pois os detalhes são muitos nos meios veiculados da história. A criação do último filme - mas ao mesmo tempo o primeiro capítulo - da saga X-Men vai contra muitos dos detalhes das adaptações das HQs e dos filmes anteriores. Mas funciona tão bem que o verdadeiro erro parece se encontrar nos primeiros filmes dos mutantes, enquanto a história original se concentra mais em X-Men: Primeira Classe. Mudando a história mundial com a influência dos heróis, colocando foco no drama pessoal de personagens esquecidos e mostrando, com mais atenção, a baalha entre mutantes para a aniquilação da raça humana, o filme se torna uma ótima surpresa desse ano.
X-Men: Primeira Classe é um relato do começo da liga dos mutantes. Erik Lensherr (Bill Milner) é um jovem judeu que vive num campo de concentração no meio da Segunda Guerra Mundial. A diferença entre ele e os outros é que ele consegue controlar qualquer objeto de metal. Sabendo disso, Sebastian Shaw (Kevin Bacon), decide usar os poderes do garoto para seus negócios. Nos Estados Unidos, o jovem Charles Xavier (Laurence Belcher) conhece Raven Darkholme (Morgan Lily) e ambos decidem procurar mais mutantes, já que o garoto pode ler mentes e a menina se transforma em outras pessoas. Os três crescem e, após tornarem-se aliados, Erik, Charles e Raven (Michael Fassbender, James McAvoy e Jennifer Lawrence, respectivamente crescidos) unem forças para tentar impedir uma ameaça de outra aliança.
Um grande acerto do filme é o tom de uma guerra iminente que beira cada cena. Além de cenas que mostram a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, ainda há um confronto entre protagonistas e antagonistas com poderes. A preparação dos personagens, a edição das cenas, o envolvimento da CIA e o preconceito com os mutantes são exemplos de uma reação em cadeia que resulta no grande embate final. Até os créditos finais, mostrando uma célula mutante como se estivesse sendo vista nos anos 50, é um acerto. A revolta entre seres-humanos com mutantes é um fator bem explorado: a crendice da normalidade, até então, estava prestes a mudar. Em outro filme da franquia, mais especificamente O Confronto Final, a luta entre as duas raças chega a seu ápice, com personagens conhecidos tendo que perder seus poderes em virtude de não aguentar a pressão social em cima deles apenas pelo problema de ser diferente. Mas aqui há um aprofundamento melhor no problema de ser diferente pela personagem de Jennifer Lawrence. Por possuir o corpo coberto de escamas azuis, ela se acha uma aberração, tendo que conviver com sua forma humana para não se olhar no espelho e se ver azul e feia, para os padrões humanos. Aos poucos, ela começa a conviver com sua aparência de uma forma com maior aceitação, vendo que seus poderes a fizeram bonita do modo que é. O preconceito entre os mutantes também fica claro na forma em que cada um lida ao encontrar um igual. Charles quase pula de felicidade ao ver que não é o único anormal ao encontrar Raven. Erik quase morre por uma reação incrédula ao ver Emma Frost e Azazel. Sebastian apenas ri ao constatar que o menino que domesticou possui poderes igual a ele.
James McAvoy, que sempre prova o quão bom ator é, está ótimo na obra. Porém, perde apenas para seu parceiro de cena, o forte e obstinado Michael Fassbender. Enquanto McAvoy cria uma atmosfera descontraída e familiar para contrução de seu personagem, Fassbender usa o ódio e a vingança como motores principais, se tornando um alvo muito mais interessante para motivação e ação. Por mais que a amizade ainda exista entre os dois, é aqui que percebe a principal batalha entre aqueles que viriam a ser Professor Xavier e Magneto: um pretende conviver com os humanos, outro pretende destruí-los. A aliança principal - que consegue lembrar a Primeira Guerra Mundial - contra a aliança dos vilões é só um subterfúgio para a obtenção do poder para o garoto traumatizado, disposto a tudo para vingar a morte da mãe. Mas para o menino que possuiu tudo, a luta é uma batalha para aceitação. Outro personagem que é bem caracterizado no longa-metragem é o de Nicholas Hoult, que enfrenta o mesmo problema de Raven por ter pés grandes. E isso, ele tenta consertar com sua inteligência e suas fórmulas. O preconceito não surge apenas dos humanos, já que os mutantes não estavam satisfeitos com sua forma. Foi o preconceito do Charles, enraizado em sua humanização, que fez Raven assumir sua forma humana por tantos anos de sua vida, e não se aceitar em parte alguma.
Se X-Men: Primeira Classe fosse o primeiro filme da franquia, ele funcionaria tranquilamente. Mas após assumirmos a antipatia entre Xavier e Magneto e a falta de afeto entre Mística e Xavier, é difícil desconstruir essa imagem pré-concebida para um a outra, antes da grande batalha começar. Mas tudo essas explicações são perdidas em meio à riqueza de detalhes do filme. A caracterização de cada ambiente e de cada personagem é mágica. Conseguimos observar as características vilanescas pelo olhar e pelos movimentos de bela January Jones, e Jason Flemyng não precisaria ser vemelho para o público perceber a maldade exalada por ele. Até Mística, que em outros filmes parece muito mais mortal por suas facetas, aqui se adapta com a inocência de Jennifer Lawrence, até na maquiagem azul que cobre seu corpo inteiro. A edição e a trilha sonora são outros diferenciais. Ver o treinamento dos personagens na mansão de Charles, observar as diferentes visões subjetivas entre russos e americanos numa batalha nuclear, encarar a cena final que varia entre um Kevin Bacon paralisado e um James McAvoy sofrendo, ambos na mesma posição mas em situações diferentes, o filme consegue prender, isso com toda certeza. Por falar nisso, Kevin Bacon é outro destaque no longa-metragem, se entregando em todas as suas decisões e fazendo um personagem detestável.
É difícil, após criar uma franquia, manter as continuações no mesmo nível de expectativa do primeiro. Um exemplo é a recentemente finalizada série Harry Potter, que teve seus altos e baixos nos filmes seguintes ao primeiro, mas anteriores ao sétimo. Outras mantém o mesmo sentimento em cada parte lançada nos cinema, como O Senhor dos Anéis, que combina ação e drama em todos os seus três capítulos. E há aqueles que conseguem criar tanto um filme esquecível e mediano antes de criar uma grande obra-prima e ressuscitar uma saga. O melhor exemplo disso, até então, era Batman: O Cavaleiro das Trevas, que ressuscitou as aventuras do homem-morcego para um outro nível. Mas X-Men: Primeira Classe faz uma tarefa parecida. Conta o começo dos mutantes, muda a história, coloca focos em personagens com alto desempenho e consegue ser o melhor filme da franquia. Até agora.
NOTA: 9

6 comentários:

renatocinema disse...

Adoro seus textos. Meu amigo você possui o blog que mais me agrada em conteúdo. Parabéns.

Sobre X-Men só posso concordar: adaptações sempre são complicadas. Eu que amo quadrinhos e cinema sei bem disso.

Seu comentário "se X-Men: Primeira Classe fosse o primeiro filme da franquia, ele funcionaria tranquilamente. Mas após assumirmos a antipatia entre Xavier e Magneto e a falta de afeto entre Mística e Xavier, é difícil desconstruir essa imagem pré-concebida para um a outra, antes da grande batalha começar." disse tudo o que penso sobre X-Men - Primeira Classe.

Seu texto esta magistral.

Kamila disse...

"X-Men: Primeira Classe" é uma das mais agradáveis surpresas do ano. Um filme muito bem escrito, com motivações claras e bem definidas, uma direção consistente e atuações ótimas. Virou o filme definitivo dessa série!!

Adecio Moreira Jr. disse...

Eu já falei e repito que o filme tem uma coisa que sempre é bem vindo em filmes desse gênero: é humanizado, sem levar a coisa toda pro lado maniqueísta de bem contra o mal (apesar de quase cair nisso com o personagem de Kevin Bacon).

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Meu caro, é exatamente isso. Concordo com tudo o que você escreveu, tendo uma leve discordância quando você diz sobre as personagens já enraizadas que não conseguem mudar... Não sei, mas pra mim, Mística e Magneto por exemplo alcançaram um outro nível de personagens...

Quando escrevi sobre esse filme no CINEBULIÇÃO, fui pelo mesmo caminho que você: esse filme trouxe novo fôlego à desgastada franquia, especialmente após o PÉSSIMO "Wolwerine".

McAvoy e Fassbender são estupendos. E o Nicholas Hoult me impressionou muito também...

Rodrigo Mendes disse...

Sempre digo que é o filme mais classe A sa série mutante-marvel!
Primeira classe mesmo! Pela primeira vez eu curti.
Abs.
Rodrigo

Andinhu S. de Souza disse...

Que bom que vc tbm gostou. Eu simplesmente amei. Adoro esse modo da série X-men retratar o preconceito e a posição social em meio as diferenças. O filme tem cenas tão poderosas, tão bem feitas, tão emocionantes, junto com trilha, direção de Vaungh, que tem se mostrado um excelente diretor, atuações, e um roteiro esperto que não nos permite desgrudar os olhos.

O melhor filme de 2011 até o momento.