Pages

23 de junho de 2011

Água Para Elefantes (2011)

Um filme de Francis Lawrence com Robert Pattinson, Reese Witherspoon e Christoph Waltz.

A vida é o maior espetáculo da Terra. Em materiais humanos é que achamos a emoção e as ações necessárias para se enfrentar diversas situações cotidianas. E é aí que se encontra a força motriz de Água Para Elefantes, o novo filme de Francis Lawrence, o também diretor de Eu Sou A Lenda e Constantine. Os personagens se encontram num lugar-comum chamado realidade, os sentimentos e as ações são tão verdadeiras em sincronia com a história que quase se pode ver o amor e o ódio virarem personagens na tela. O rancor, a submissão e a piedade não ficam longe, e tudo isso é feito de um modo tão manipulador que, por mais que os personagens tornem-se irritantes ou insatisfatórios ao longo da trama, tudo é baseado inteiramente numa vida real circense. E esse é o maior trunfo de Água Para Elefantes: as emoções.
Jacob Jankowski (Robert Pattinson) é um jovem que vive nos anos 30, no auge da Grande Depressão. A crise acaba levando seus pais à falência e, quando eles morrem num acidente de carro, Jacob se vê obrigado a largar a faculdade de medicina veterinária por não conseguir se sustentar. Desolado e confuso, ele sai em busca de alguma razão para continuar sua jornada imprevisível. E é aí, em seu caminho, que ele acaba parando num trem do circo de August Rosenbluth (Christoph Waltz), um homem carismático, porém cruel. E é nesse circo que Jacob acaba encontrando o amor de sua vida: Marlena Rosenbluth (Reese Witherspoon), a encantadora de cavalos e a mulher de August.
A vivência de Jacob só começa após um choque em sua vida: a morte de seus pais. Com isso ele, sozinho, começa a andar com as próprias pernas e enfrentar os efeitos da crise de 29 nos Estados Unidos. O circo se torna sua verdadeira casa e é lá que ele aprende a veterinária que não conseguiu aprender cursando uma universidade. Cuidando diariamente de cavalos e leões, ele aprende a prática de sua teoria. Antes, Jacob não vivera o bastante, apenas vira como é a vida. Agora, que entra num negócio arriscado como a vida circense, ele vive e conhece os mistérios da vida. Ao se apaixonar por Marlena, Jacob vive a parte arriscada de sua existência. Por mais que mantenha certa afeição por August, sua paixão por Marlena ainda é mais forte. E a chegada da atração principal do espetáculo, a elefanta Rosie, significa o estopim para o amor entre Jacob e Marlena se tornar realidade. Tudo isso é bonito e gera grande comoção no público, mas o problema dessa grande emoção é o mesmo problema do protagonista antes de entrar no circo: tudo está apenas nas páginas. Enquanto o livro de Sara Gruen narra uma tocante paixão nos cenários do circo, a obra adaptada de Francis Lawrence funciona apenas pela caracterização do cenário, pois a falsa paixão é que toma lugar na verdade.
Enquanto as relações fervilham sentimentalismo nas cenas, o principal relacionamento não funciona. August e Marlena formam um típico casal conturbado, que não se amam mas se suportam, e isso fica crível. Jacob e Rosie criam laços de amizade pelo treinamento e pela convivência, o que é perfeitamente normal. Jacob e os outros artistas circenses adquirem uma amizade ainda maior. Mas Jacob e Marlena não funcionam juntos como um casal. Em certos momentos, onde Robert Pattinson mostra timidez por estar perto demais da mulher do chefe, até se acredita na relação de ambos. Mas no geral, nem Pattinson nem Witherspoon tem química o bastante para convencer o espectador de que aquilo é um amor. Se ambos ficassem olhando para o outro, em silêncio, não sairiam faíscas, muito menos algo que demonstrasse uma paixão verdadeira. O amor aqui só é mostrado em forma de palavras e carícias, mas nada de atos reais. E isso, drasticamente, diminui a beleza do filme.
A narrativa em off, feita por Hal Holbrook que interpreta Jacob Jankowski já ancião, é constituída em flashbacks e a representação do passado e do ambiente circense é feita belissimamente. E é a partir dessa narrativa que se afirma, a vida é realmente o maior espetáculo da Terra. Num turbilhão de amores, paixões e relacionamentos, a vida é que vale a pena na sessão. A vida, no caso, um coletivo de emoções confusas e impensadas, que atingem seu objetivo em cena. Os atores, que dão vida a esses sentimentos, ficam de lado graças às emoções. Robert Pattinson prova aqui que tem o que é preciso para sair da zona de conforto de um vampiro sem expressões faciais, e traz toda a compaixão em sua vida sofrida. A fotografia, que prefere os tons escuros em cena para trazer uma distinção entre a atualidade e os anos 30, auxilia Pattinson nesse trabalho. Reese Witherspoon é a razoável do filme. Sua personagem é muito arrogante, por mais passional que seja em seus atos e seja delicada nos movimentos. A timidez de Pattinson e a independência de Witherspoon, por mais que façam um contraste, não combinam. Ainda bem que, em cenas que ambos aparecem juntos, Christoph Waltz aparece para acabar com tanta superficialidade. Ele interpreta magistralmente seu personagem, alternando entre a fúria e a docilidade, se tornando amigavelmente assustador em cena. E isso lembra muitíssimo seu personagem em Bastardos Inglórios, o que acabou lhe rendendo um Oscar no ano.
Água Para Elefantes é um passatempo agradável. As condições da vida no circo são mostradas sem rodeios, os personagens possuem motivação necessária, o roteiro está bem adaptado e isso poderia render um filme imperdível. O pecado está em apostar mais num romance, assim como a obra literária, do que num drama, já que a veia dramática do filme - numa relação entre Christoph Waltz e a elefanta Rosie - é que se sobressai diante do casal principal. As emoções estão no auge dessa obra, é apenas uma pena que o foco tenha sido o elo mais fraco da composição.
NOTA: 7

8 comentários:

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Você gostou bem mais do filme do que eu. Entendo todos os seus argumentos, mas para mim, a obra é bem menos válida. Legal você falar o Pattinson, raramente as críticas tocam no desempenho dele nesse papel.

Não gosto da Reese Witherspoon. ¬¬

Acho o Waltz um ator maravilhoso, mas se ele não fugir do estigma de vilão, ele vai ficar carimbado pra vida inteira. O que acha disso?

renatocinema disse...

Tenho visto tantos comentários sobre esse filme e mesmo assim ele não me atraiu.

Gostei de sua visão realista sobre o trabalho do casal de protagonistas. Acho eles apenas atores medianos.


Robert Pattinson não me convence..apesar de alguns amigos dizerem o contrário.

Verei o filme, quando sair em locadora, nada mais.

Não vou ao cinema, no tempo corrido que tenho, para assistir passatempos agradáveis. Prefiro filmes marcantes.

Abraços

Rafael W. disse...

Pattinson não é mau ator, é apenas aquele personagem na Saga Crepúsculo que o prejudica, de tão ruim que é. Acho que ele tem potencial, sim.

Quanto ao filme, me interesso por ele, apesar de parecer um dramalhão.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Cristiano Contreiras disse...

Filme lindo, belo e com um roteiro que emociona. É interessante a fotografia, a técnica, a trilha sonora de James Newton Howard que cativa, é emocional. Robert Pattinson, pasmem!, aqui concebe sua atuação mais expressiva que é impossível não olharmos só pra ele em cena, hipnótico mesmo. Waltz é um belo ator, isso é perceptível, na forma como cria seu 'vilão-mor' que fragiliza a pobre Reese Witherspoon que tem sua competência sempre. Gosto muito do filme, me surpreendeu! E é fiel ao livro que fora adaptado.

cleber eldridge disse...

Eu não conferi e confesso não estar com muita vontade de fazer.

Anônimo disse...

Do ponto de vista técnico, "Água Para Elefantes" é perfeito! Mas, acho que, do ponto de vista do roteiro, o filme deixa muito a dever, especialmente no seu ato final, totalmente apressado...

Alan Raspante disse...

Tenho curiosidade em ver para conferir a parte técnica já que me parece ser muito boa, porém, não estou com grandes expectativas.

[]s

Andinhu S. de Souza disse...

É bom, porém a sub-trama é mais interessante que a principal. O Elefante emociona mais que o casal que tem uma história apressada e mais desenvolvida. Trilha e Fotografia ótima. Talvez possa até ser um dos finalistas do Oscar Indiscreto nesse quesito
Nota 6.0