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15 de julho de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (2011)

Um filme de David Yates com Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint e Alan Rickman.

Tudo acaba aqui. Em 10 anos, o bruxo mais famoso do mundo cresceu na frente de fãs e espectadores da saga mais lucrativa da história. E a legião de fanáticos pelas histórias de Harry Potter enfrentaram ontem, mais especificamente hoje nas primeiras horas da manhã, uma confusão e horas de espera em filas do mundo todo para poder assistir o último capítulo da saga. E posso dizer que não saíram decepcionados. Os fãs xiitas gostaram da história assim como em qualquer outro filme, por mais que a adaptação não tenha se saído aos moldes mais fieis do livro. E os espectadores 'trouxas' se encantam facilmente pelo universo de magia que agora tem uma utilização incrível dos efeitos especiais e decidiu mostrar personagens coadjuvantes em cenas épicas. David Yates novamente acerta na direção de Harry Potter e faz, do último capítulo da história, um dos melhores e memoráveis.
Após destruírem algumas horcruxes de Lord Voldemort (Ralph Fiennes), os três amigos Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger (Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson) ainda precisam localizar mais quatro pedaços da alma do lorde das trevas para, enfim, derrotá-lo. Mas a batalha fica cada vez mais difícil, já que Voldemort roubou a Varinha das Varinhas do falecido Alvo Dumbledore (Michael Gambon) e é seguido pelos comensais da morte, um bando de bruxos perversos que não titubeia em usar magia negra. Ao mesmo tempo, Severus Snape (Alan Rickman) assume a direção da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Porém, ele não conta com uma rebelião dos ainda simpatizantes pela causa de Harry Potter.
Se em Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 David Yates fez uma coisa parecida com um "road movie", com personagens andarilhos alternando por visuais estonteantes em montanhas e rios, apostando muito mais no drama pessoal dos três protagonistas, a Parte 2 virou um filme de guerra, e isso fica claro nos primeiros momentos da trama, alternando entre o antagonista e o protagonista da série. O primeiro capítulo do fim mostra, enquanto há uma alternância de cenário, um foco exclusivo em Harry, Rony e Hermione apenas, o que deu uma chance grande para a explicação dos motivos e dos dramas entre relacionamentos de amizade e amor dos trio principal. O segundo capítulo aposta em algo mais amplo. Outros personagens que não possuíam muito destaque na trama acabaram assumindo maior participação na história, seja pela firmeza que os atores encarnaram em seus pequenos momentos de glória, seja porque o roteiro exigia uma explicação melhor da motivação de algum caráter. Um grande exemplo de alguém que consegue atiçar a atenção do público é Maggie Smith, encenando sua personagem Minerva McGonagall. Em apenas uma sequência de feitiços, transfigurações e numa quebra da dureza de sua personagem para encurtar seu distanciamento com o espectador, ela mostra para que veio.
O fato no filme é que ninguém fica de fora. Até os que menos aparecem surgem em seus melhores momentos para emocionar fãs sedentos por algo acima das expectativas do último capítulo. Natalia Tena e David Thewlis aparecem em apenas uma cena, mas o movimento que fazem demonstrando o amor entre seus personagens - a metamorfomaga Ninfadora Tonks e o lobisomem Remus Lupin - é um encanto. O foco mudou. Daniel Radcliffe consegue mais atenção do que nos outros filmes, e sua atuação realmente melhora nesse último filme. Sua veia dramática se conecta mais fácil com o público, e é ele que carrega o drama de toda a trama, ele é o ponto de encontro de todos os sentimentos. Rupert Grint e Emma Watson continuam fazendo um ótimo trabalho. Ao passar dos anos, o trio se tornou mais competente e evoluiu em suas interpretações. Agora o trabalho dos três é emocionar, e não aparecerem como carinhas bonitas, inteligentes e engraçadas. Aliás, falando na melhora óbvia dos personagens, o filme aposta em outra coisa: a nostalgia. Nos momentos finais, a tristeza do fim contagia ao mesmo tempo em que flashbacks surgem caracterizando imagens de outros filmes. Isso sem contar em óbvias referências aos outros filmes da saga, que trazem uma memória dolorosa e confortante ao espectador.
Por melhor que o trio esteja, ele ainda é ofuscado em algumas cenas pela experiência ou pelas ações de outros. Ralph Fiennes, por exemplo, continua ótimo em sua odiosa caricatura de Voldemort. Helena Bonham Carter é um personagem tão maldosamente engraçado que é uma diversão vê-la em cena, com sua voz irritante e movimentos firmes. Um personagem que, finalmente, achou um espaço para se sobressair em cena foi Matthew Lewis, o subestimado Neville Longbottom. Nas cenas em que ele aparece liderando um grupo é difícil perder a imagem do garoto medroso do primeiro filme. E quando ele chega no seu auge, com uma pequena ajuda da edição de arte, em movimentos em câmera lenta para captar todo o ocorrido, a plateia vibra. E há, finalmente, o personagem que rouba a cena. No caso, esse papel ficou com Alan Rickman. Depois de 10 anos interpretando o sombrio professor Severus Snape, o homem sem emoção que ri apenas para acentuar seu sarcasmo, Rickman atinge um grau de extrema importância para a trama, encarnando numa interpretação dolorosa que o transforma de vilão para herói em uma fração de segundos. Vê-lo chorar, quebrando toda a amargura do seu personagem, é belo.
David Yates faz um trabalho incrível. Uma edição impecável acompanhando cada segundo da trama, mudando as cenas para a subjetividade de determinado personagem na hora mais oportuna, às vezes contrastando os ambientes, às vezes complementando o que faltava em um no subsequente. A trilha sonora do ótimo Alexandre Desplat acentua os momentos de ação da trama, levando os espectadores a uma experiência única assistindo e sentindo ao mesmo tempo, com os altos e baixos de sua música. E a fotografia, que agora adquire um tom mais claro do que no primeiro capítulo, é responsável pela beleza dos cenários e dos efeitos visuais. Os feitiços se tornam cada vez mais reais. E as cenas da penseira, que aparecem como que pintadas por uma tinta, são grandiosas, cobertas por uma iluminação diferente da observada no resto do filme. Talvez o único pecado, além da diferença das atuações, seja o ritmo corrido. É aqui que As Relíquias da Morte - Parte 2 se difere da Parte 1. Enquanto o primeiro capítulo do fim mostrava detalhadamente, sem precisar correr, a destruição de uma horcrux, apostando apenas no teor melodramático das relações e num visual lindo, o segundo capítulo mostra, apressadamente, o que ocorre para a saga poder dar um fim em pouco mais de duas horas.
Filme feito para arrancar lágrimas. Seja no final, um salto no tempo desnecessário para buscar a nostalgia do primeiro filme da série, seja em detalhes pequenos que surgem nas maiores cenas, seja num resultado de todas as atuações, seja nesse desfecho da saga que acaba com outros 7 capítulos mágicos. Depois de Chris Columbus, Alfonso Cuarón e Mike Newell assumirem a direção dos primeiros capítulos dessa franquia de altos e baixos, é David Yates quem comanda o elenco para um desfecho digno do que foi Harry Potter. Um belo filme feito para agradar a adultos e crianças, a fãs e a simples espectadores, a bruxos e a trouxas.
NOTA: 9

6 comentários:

Natalia Xavier disse...

Gostei dessa sensação corrida. a ação está durante todo o filme, embora é bem verdade que contrasta mto com a primeira parte do filme.

Alan Rickman foi fantastico. Severo Snape é um dos grandes personagens que Rowling traçou e David Yates conseguiu expor isto neste ultimo filme de maneira espetacular.

Algumas coisas achei desnecessárias no filme, o que deprecia um pouco. Por exemplo, vc me explica porque o Voldemort abraçou o Draco? hahahaha

Fora isso, não tem como sair do cinema decepcionado. A historia por si só cativa, a nostalgia que o fim dá já é um choro natural a parte. Amei.

Bjs

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Vi que você tinha publicado mais cedo, mas não li antes porque não queria "me contaminar" antes de escrever o meu. Mas pô, como a gente encarou algumas coisas de modo muito parecido! Gostei disso!

Adorei o teu texto. Está em par com o filme.

Abração!

renatocinema disse...

Não tenho como escapar.....final de semana que vem irei assistir a conclusão da saga.

Mas, o filme dele que mais me agradou ainda foi o terceiro, ou seja, faz muito tempo.

Porém, obrigatório ver a conclusão do bruxinho no cinema.

Andrew Magalhães M. Santiago disse...

Gabriel,

Ainda não vi o último filme do bruxo que superou Merlin em popularidade. Já assisti a todos os outros e espero que Relíquias da Morte - Parte II seja o melhor de todos para que a saga termine em grande estilo.

Rodrigo Mendes disse...

Gostei de seu texto Gabriel.
Agora que acabou Harry Potter me restou ficar olhando até o final dos créditos...

Mas podemos rever sempre. A série é muito divertida e fez das minhas matinês, manhãs adoráveis!

Abs.
Rodrigo

Anônimo disse...

Mal estreou o filme nas telonas e já estou ansioso para te-lo em minha coleção de Blu-rays.
Cada crítica que você escreve, Gabriel, um outro padrão de qualidade é atingido.
É muito legal você comentar sobre a fotografia dos filmes!
Abraços!