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10 de maio de 2011

As Coisas Impossíveis do Amor (2009)

Um filme de Don Roos com Natalie Portman, Scott Cohen, Charlie Tahan e Lisa Kudrow.

Cria-se uma imagem bacana quando uma situação vista como tabu é invertida para a visão de quem a sofre. Mas para isso deve haver uma manipulação extremamente bem-feita, de forma a nos sensibilizarmos com as outras posições e reavaliarmos os preconceitos de outrora para um caso já condenado se transformar em algo modelável e defensável. E esse é o caso de As Coisas Impossíveis do Amor, o novo filme de Don Roos com a recente ganhadora do Oscar, Natalie Portman, que transforma a amante numa pessoa e inverte a situação de adultério, denunciando assim a instabilidade das relações consagradas como o casamento e os laços familiares.
A história mostra a vida da advogada Emilia Greenleaf (Natalie Portman) que consegue uma vaga como sócia num escritório de advocacia, trabalhando junto com Jack Woolf (Scott Cohen). Ambos acabam por se apaixonar, mas Jack, por ser um homem casado, tem de se decidir entre a mulher atual, Carolyn Woolf (Lisa Kudrow) e a amante. Após se decidir por Emilia, ocorrem as complicações do divórcio e a dificuldade de integração entre a nova mulher e o enteado William (Charlie Tahan). Além disso, uma tragédia acontece e abala a situação emocional do novo casal.
Como o amor, um elo forte entre duas pessoas, acaba enfraquecendo até a própria convivência social? Como o amor junta uns e separa outros? Isso consegue resumir bem as relações problemáticas da obra. Enquanto um filho morre de ciúmes por não ter uma relação diária com a figura paterna, - um complexo de Édipo invertido numa linguagem contemporânea de adultério - a ex-mulher acaba por ter uma fúria não resolvida do ex-marido, e resolve descontar isso por meio de restrições entre o enteado e a madrasta. Isso sem falar na família da amante. O amor é uma faca de dois gumes e o filme mostra isso com clareza. Ao mesmo tempo em que ele gera uma vida, o excesso amoroso ainda pode matar uma. E com essa morte, gerar mais outra graças a uma relação de interdependência extrema. Ao mesmo tempo em que uma paixão destrói relações, ela pode reconciliá-las, por meio da importância do amor em relação ao alvo de tamanhas emoções. E o que dizer do amor à segunda vista? Qual é a impossibilidade de poder se apaixonar de novo por uma mesma pessoa?
O diretor Don Roos acaba por transformar o filme, que tinha uma característica de personagens que poderiam resultar numa tremenda comédia familiar, num drama melancólico, expresso através de cenas tristes com um Central Park num clima frio servindo como fundo das relações gélidas mostradas na tela. Não é raro ocorrer um silêncio pela falta de intimidade com as palavras ou uma fotografia clara, mas com elementos escuros e lentos se sobressair ao resto. Certas cenas ainda possuem uma edição para deixar a morbidez ainda mais viva. A personagem de Natalie Portman, aqui numa atuação digníssima, exala um nervosismo o tempo inteiro já que vive uma situação constrangedora, mas não pode fazer nada para mudá-la pois percebe o orgulho quebrado de um divórcio e o preconceito contra a famosa "destruidora de lares". Aqui, para a simpatia do público se tornar contrária ao senso comum, os personagens de Portman e Kudrow invertem de personalidades: enquanto Emilia é a vítima da história inteira, Carolyn se mostra a vilã autoritária e ditadora, com ordens restritas para o controle do divórcio. Além do mais, o carisma de Emilia ainda é conferido pelo seu drama interior, resultado de uma situação muitíssimo semelhante à do filme Reencontrando a Felicidade. Charlie Tahan e Scott Cohen fazem um bom trabalho aqui, por mais que o elenco feminino se sobressaia.
A amargura e a depressão se encontram no fim do arco-íris de felicidade e amor. Num filme de atuações excelentes em personagens lânguidos, com todas as figuras em tela gerando um maior estado de descontentamento com situações e com uma direção que não deixa o ritmo cair, por meio de lembranças vivas e relacionamentos conturbados, As Coisas Impossíveis do Amor é um filme de convivência. A convivência entre um homem e uma mulher, um marido e uma esposa, um casal divorciado, um filho e os pais, um enteado e uma madrasta, a dor de uma separação, o sofrimento de um luto, a alegria de um casamento, a felicidade de uma união. Mas, ruim ou não, é bom não se esquecer que tudo foi gerado pelo grande, poderoso e melancólico amor.
NOTA: 8

3 comentários:

Alan Raspante disse...

Li apenas trechos do seu texto, pois quero muito conferir a obra e formar a minha opinião sobre ela. Estava na esperanç de ver esse filme no cinema, uma pena que veio direto para o DVD. Vou vê-lo em breve, com certeza!

[]s

Angélica campos disse...

Adoro suas críticas. Você é um excelente escritor! Adoraria saber seu sobrenome, para usar suas palavras em citações

Ana Cláudia disse...

O filme é excelente, ótimas atuações, tema muito intenso... Chorei do inicio ao fim!! Recomendo!!