Pages

10 de fevereiro de 2011

Demônio (2010)

Um filme de John Erick Dowdle com Chris Messina.

Um filme, no máximo, claustrofóbico. Atinge sua missão, que é assustar e não lotar salas de cinema. Consegue estabelecer metáforas fortes entre o céu e o inferno. Cria uma atmosfera tensa que começa a rondar todo o filme, desde seu início vertiginoso que mostra várias visões de uma cidade mergulhada num terror diário que muitos deixam passar por um dia a dia corrido, até a hora em que os créditos começam a subir por uma tela negra, que aparece e assombra o espectador em curtos momentos durante toda a sessão, para encobrir o terror do filme e aumentar a tensão. Mas não mantém tudo isso até o final. Começa belíssimamente promissor, através de planos-sequências bem elaborados, mostrando cenas entre uma cidade invertida em vidro e em água e de como várias pessoas começam a se interligar em apenas um minuto vivido no mesmo ambiente. O problema é que o ritmo cai drasticamente ao tirar o suspense para misturar com uma crendice descartável.
Num dia praticamente normal, um suicídio é cometido num arranha-céu. No mesmo dia, no mesmo prédio, cinco pessoas tem os destinos unidos a ficarem presas num elevador: Um vendedor insistente, nervoso e desbocado (Geoffrey Arend); um mecânico calado, contido e misterioso (Logan Marshall-Green); uma moça jovem, bonita e perigosa (Bojana Novakovic); uma velha senhora irritada (Jenny O'Hara) e um segurança claustrofóbico e descontrolado (Bokeem Woodbine). Embora a situação seja até banal, os outros seguranças começam a ficar preocupados, principalmente ao ver que o elevador tem curtos-circuitos constantes e que nada funciona nele como deveria. Após o primeiro homicídio, eles cogitam a ideia de que o demônio está no elevador no corpo de uma das pessoas e prestes a mandar as outras quatro para o inferno. A vida de todos fica na mão do detetive Bowden (Chris Messina), um homem amargurado pela morte misteriosa da mulher e do filho, e que afoga suas mágoas no álcool.
Consegue mostrar sem exagero, ao meu ver, uma situação desconfortável que acaba virando uma luta por sobrevivência. Ao ter de se conviver com um desconhecido pelo mínimo de tempo que seja, dá para se esperar qualquer coisa. Não se dá para confiar em ninguém hoje em dia. E quando cinco pessoas duvidosas entram em um elevador que não sai mais do lugar? O filme é bem feito nesse ponto. A trama se completa aos poucos e até faz um suspense bem-vindo e agradável. As mortes começam a servir de base para uma trama ainda maior num espaço ainda menor que o de costume. Entre lutas para salvar a si próprio, vemos o quanto a situação no elevador é delicada ao longo da trama. Os constantes curto-circuitos criam meios alternativos de se ver o que acontece dentro de um cubículo apertado, e nada no escuro é muito agradável para se olhar. As cenas que se seguem após os apagões são dignas de um M. Night Shyamalan da era de O Sexto Sentido e de Corpo Fechado.
A atmosfera mais assustadora do filme vai pelo fato do elevador carregar a trama toda. Isso ele consegue, mas as cenas fora dele, mostrando uma busca policial guiada por crenças, são inacreditáveis, até mesmo para um filme de terror. Eu percebi alguma xenofobia no meio do filme? Alguém me explica porque todos os americanos aparecem como céticos seguidores da razão, - durante todo o filme, os personagens do elevador mal sabem do que acontece lá dentro, nem em pensamento - mas um mexicano aparece como um segurança religioso e fervoroso? E a partir daí só surgem mais e mais patetices ao misturar uma fé cega a uma situação aterrorizante. No elevador, há uma luta para se viver, o que aprofunda cada vez mais os personagens nele por mostrar a verdadeira personalidade de todos. Isso traz o espectador para a tensão criada, ainda mais quando há um jogo feito na película: quem é o demônio? Tudo fica escuro, não se pode ter certeza de nada, não se pode confiar em nada e em ninguém. E o filme não colabora a ponto de dar dicas de quem é o diabo ali. Incrível como o filme consegue se dividir nesses dois extremos, dentro e fora do elevador. Enquanto fora tudo parece ser mais descartável, dentro tudo se torna até mais crível e denso, mesmo que demônios estejam envolvidos. Há uma boa atuação de Logan Marshall-Green, de Bokeem Woodbine e de Geoffrey Arend, que fez um dos personagens mais irritantes que já vi.
Tudo no filme é movido a tensão. Os diferentes planos retratados por John Erick Dowdle aumentam uma expectativa do filme. A fotografia traz tons escuros bastante turbulentos em meio a uma iluminação nada convencional de um elevador em pane. Há duas atmosferas principais no filme inteiro: enquanto o lado de dentro tenta criar um bom filme de suspense e terror em meio a cenas de abrir a boca, embora em parte previsíveis, o lado de fora do elevador insiste em querer colocar razão num filme que não deveria tê-la e misturar uma drama policial com um thriller. Pode não ser um filmes mais indicados do gênero e muito menos o melhor dele que se apresentou nos últimos anos, mas ele cumpre a proposta, entretem até o último minuto, nem que ele seja o mais falso possível. E, convenhamos, Demônio é o melhor projeto que envolveu Shyamalan nesses últimos anos.
NOTA: 6

4 comentários:

Alan Raspante disse...

Então, gosto da sinopse e tenho sim, curiosidade. Mas só de pensar que pode ser perca de tempo me desanima!

Enfim, quem sabe um dia... eu veja D:

Cristiano Contreiras disse...

Todo mundo detonou este, mas preciso conferir! sem grandes expectativas. abs

Anônimo disse...

Coitado do Ramirez...
Se tiver tempo, tente ler a resenha que escrevi sobre "Demônio". As notas estão iguais hahuahaha.
Abraços

Anônimo disse...

Coitado do Ramirez...
Se tiver tempo, tente ler a resenha que escrevi sobre "Demônio". As notas estão iguais hahuahaha.
Abraços