Um filme de Martin Scorcese com Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo.
Loucura. É a polêmica cinematográfica utilizada para se explorar qualquer problema humano. Ele se suicidou? Era louco. Matou a mãe e o pai com uma caneta Bic? Tinha sérios problemas mentais. Ateou fogo na casa do vizinho porque ele não disse bom dia? Deveria ser internado urgentemente. A Ilha Do Medo trabalha a loucura de um modo bastante peculiar e com uma visão já utilizada, mas eficaz e incrivelmente imprevisível. Através de reviravoltas, temos uma visão completamente confusa e nova da loucura. Será que é? Ou será que não é? O filme de Scorcese é um imenso ponto de interrogação na cabeça de quem assiste, coisa de louco, literalmente. Mas, afinal, depois da sessão, uma pergunta fica acesa: como definir a loucura em uma sociedade que dita as regras através de um padrão do "normal"?
Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) é um agente federal dos Estados Unidos contratado para investigar o sumiço de uma paciente da Ilha do Medo, clínica feita para doentes mentais localizada em Massachusetts. Ele, junto com seu parceiro Chuck Aule (Mark Ruffalo), vão a ilha para tentar achar a perigosa Rachel Solando (Emily Mortimer). O que eles não contavam é que a ilha é cercada de mistérios, como um diretor que chega a ser tão louco quanto os pacientes e um farol que esconde perigos inimagináveis. Ao tentar ir embora, os dois ficam presos na ilha graças a um furacão e têm de ficar na clínica por tempo indeterminado.
É um ótimo ensaio sobre a loucura baseado em dois fatos bastante controversos, mas ambos inquestionáveis se levados a fundo, já que os propagadores desse fato realmente acreditam no que falam. Um fala sobre a loucura de um modo passivo, de modo a incentivar a fantasia que as doenças criam na mente dos atingidos a fim de que se observe algum resultado positivo no combate contra a loucura. O outro é baseado na teoria da conspiração na mente de quem é atingido - será mesmo? - pela suposta doença mental que os impede de pensar a sério, uma teoria cheia de métodos medievais utilizados como um resultado eficaz. Até que parte da teoria chega a ser loucura? Uma fala da obra retrata isso: "Se alguém nos rotula loucos, não há escapatória. Negações ou defesas, coisas completamente normais, são consideradas sintomas da doença". O filme, em seu clímax, é aprofundado demais na loucura, que chega a atormentar os mais desavisados. Afinal, como contestar uma verdade universal através de falas duvidosas de uma pessoa "incapaz"?
O filme, retratado em 1954, ainda chega a ser muito atual. Do modo que o mundo anda, não há o que pode diferenciar um devaneio de uma pessoa insana ou um ato de maldade de um não-psicopata. Teorias contraditórias chegam a ser loucura. Como você vai duvidar do que acabou de ser fornecido a você nas telas onde o filme estiver passando? Martin Scorcese usa a artimanha que deu vida ao filme, a loucura. Através dos ouvidos da loucura, você acredita no que quiser. Vemos, no surpreendente fim, que não há uma divisão do tempo e como a loucura chega a ser furada com a realidade. Mas e a realidade, que conseguiu ser quebrada com a loucura? Não há um meio termo entre o normal e o louco para decidir o que acreditar e o que não acreditar? Outro ponto muito comentado no filme é a globalização incansável e evidente. Muitos pacientes amam a Ilha do Medo pois ela é o porto seguro deles, outros, por não conseguir acompanhar o passo rápido entre guerras mundiais, bombas atômicas, armas de fogo, corridas armamentistas, nazismo, entre outros, se enclausuram na clínica através do medo na forma da loucura. A Ilha do Medo está aí, é um refúgio para aquelas pessoas que apresentam risco para a sociedade, mas elas próprias têm medo dessa sociedade que as despreza. Um medo recíproco cria o local surreal e perdido.
Gosto das atuações de Leonardo DiCaprio, mas nesse ano ele me pareceu meio repetido. Tanto em Ilha do Medo quanto A Origem, ele é um protagonista perturbado pelas memórias inquietantes de sua falecida esposa, mas que aparece tanto em sua vida que chega a ser um segundo ser habitando no corpo dele. De um modo ou de outro, ainda consegue segurar o filme com certa simpatia, ainda mais que ele é a alavanca principal para a obra ter funcionado do modo que funcionou. Mark Ruffalo é outro, não chega a roubar a cena por sempre se mostrar em segundo plano e não ter tantas deixas como DiCaprio, mas continua um ótimo ator, do início ao fim. Achei Ilha do Medo diferente pois, do modo que foi filmado, até conseguiu parecer um pouco de um filme antigo. Os diversos planos utilizados na filmagem e a viva fotografia me deram essa impressão.
Scorcese, ao criar Ilha do Medo quis dar vida a um livro longe onde explora com afinco o thriller psicológico e reviravoltas abrasadas pelo ritmo incansável, do modo que acontecem as atividades. Por mais que não esteja acostumado ao suspense, achei uma sessão agradável. Ao recriar, a partir do livro homônimo, personagens tão impotentes em suportar o peso da realidade, um clima tão assombroso quanto o descrito na obra, delírios tão reais e realidade tão delirantes, consegue fazer um dos filmes mais perturbadores de 2010, por mais que as suposições se quebrem no fim imprevisivelmente previsível.
NOTA: 8
4 comentários:
Acho um grande filme! Filmaço mesmo e surpreendente! Não achei a trama previsível, o tom psicológico e o roteiro cheio de camadas prendem, instiga. Temos uma ATUAÇÃO VISCERAL de DiCaprio - é triste ver que o filme, e ele, foi subestimado. Pra mim, ele deveria ganhar o Oscar por esse filme. Acho seu personagem semelhante em poucos aspectos com o do filme "A Origem", mas os tons comportamentais e a personalidade é diferente...e DiCaprio está muito bem mesmo.
Scorsese alia o suspense com um roteiro que mescla com a trilha sonora perturbadora e consegue convencer!
nota 9,5!
Pra mim, ao lado de A Origem, é o melhor filme do ano!
Muito se fala sobre a previsibilidade do roteiro, mas em seu oposto está a atuação de Di Caprio e a boa direção de Scorsese.
Eu gostei muito de "A Ilha do Medo", um filme impactante de belíssimas imagens com um roteiro que aguça os sentidos de quem observa. Leonardo DiCaprio sempre me agrada. Se Scorsese o adotou como uma espécie de "novo Robert De Niro", não podemos duvidar de suas capacidades.
Que texto difícil de ler. Vc deveria fazer parágrafos.
Eles não servem só pra separar ideias, mas também pra dar descanso ao leitor e tempo de raciocínio.
Paragráfo faz parte de estilística.
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