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5 de novembro de 2010

A Professora De Piano (2001)

Um filme de Michael Haneke com Isabelle Huppert e Benoît Magimel.

A mente humana é algo ótimo para ser trabalhado, e quando trabalhado bem se torna algo perturbadoramente marcante. Esse é A Professora de Piano, trabalhando com a mente anti-social de uma humana que se priva das emoções, mas que ao simples contato delas se torna bastante instável. E observamos na obra ainda toda a imprevisibilidade que Haneke usa em sua protagonista/antagonista, pois a mente doentia da professora é uma surpresa a cada segundo que se passa. Não esquecendo que, se um filme se torna tocante a esse ponto, é porque tanto o roteiro é bem feito e mostra o que quer retratar através de esquemas, metáforas ou situações explícitas ou implícitas para o entendimento quanto a atuação é excelente para poder trazer personagens tão complexos e obscuros para apenas uma película.
Erika Kohut (Isabelle Huppert) é uma professora de piano para jovens seletos. Suas atitudes são um tanto quanto peculiares, pois ela ainda mora com a mãe apesar de já ter 40, e ainda divide o quarto com esta, embora tenha um só para ela. Ela não bebe, não tem amigos e muito menos sentimentos, se tornando uma pessoa sisuda e antipática ao ser vista pelos outros. Além disso, Erika é uma praticante do voyeurismo, já que frequenta peep-shows e sex shops. Num dia, ela começa a dar aulas para Walter Klemmer (Benoît Magimel), um aluno que se interessa por ela, e por isso traz apenas músicas de Schubert para tentar impressionar a mestra. Mas quando o relacionamento dos dois avança a um certo patamar, Walter conhece um lado da professora que ninguém tinha visto antes.
Isabelle Huppert está magnífica. Embora sua personagem não deixe transparecer os sentimentos, ela consegue fazer uma caricatura desse ser sem extrapolá-lo ou minimizá-lo. E sua faceta na cena final do filme exprime um dos momentos mais perturbadores e sentimentais que eu já vi. Não coloco Benoît Magimel no mesmo patamar de sua mestra, ainda mais porque a atuação de Isabelle foi bem mais consistente que a dele, mas ele consegue convencer durante todos os 130 minutos aproximados da sessão. A fotografia prega por cenas simples e frias, deixando o filme tão natural e tão angustiante ao mesmo tempo que o resultado é um soco na mente. A trilha sonora é fantástica e deixa o longa ainda mais verossímil, ao fazer um contraste entre a agressividade dos sonetos de Schubert e a calma nas situações.
O roteiro é incrível. É a exploração de um único ser humano imprevisível, com perturbações sérias, assim como todos tem em algum aspecto. O problema da personagem de Isabelle Huppert era seus sentimentos, que a tornavam numa mulher desinteressante com características únicas, como ir a um drive-in apenas para ver a prática sexual. Ao se deparar com o personagem de Benoît Magimel, ela começa a deixar seus sentimentos transparecerem um pouco, pois ela percebe alguém tão imprevisível quanto ela que, gradativamente, vai tomando o que pertencia a ela: o controle da situação. Graças a isso, surgem as surpresas para ela poder controlá-lo, que se dá na forma do masoquismo e do estupro. Após isso, ela tem uma batalha feroz em si, ou fica com o que quer, que é o controle da situação e sua vida fria, ou se deixa levar pelos sentimentos desconhecidos que começam a controlar seu corpo. E, após a frase de Benoît, "ferida de amor não dói" e após o desfecho arrebatador, fica claro o que ela escolheu, já que a ferida de amor nela realmente doía, e seu controle da situação foi apunhalar seu coração.
Primeiramente, pensei em dar 1 para o filme, pois o vi sem intenções, o que tornou o filme estranho. Revendo-o, vi que merecia muito mais, afinal ele trata de uma maneira diferente na narração e simplíssima na técnica da psicologia. O verdadeiro choque realmente se dá por tudo ser tão normal no filme e termos que tratar com uma mulher psicótica, que corta a mão de uma aluna por inveja e que bate na mãe e tenta aliciá-la na mesma noite, uma mulher com práticas masoquistas perturbadoras. A Professora de Piano é um filme super angustiante, não se deixe levar pelas maçantes músicas de piano do incansável começo, pois quando a psicanálise começa, nada mais a pára.
NOTA: 10

Um comentário:

chuck large disse...

lembro de ter visto algumas cenas deste filme em uma exibição noturna na Tv Cultura, e só. Preciso vê-lo com certa urgência, tenho muita curiosidade!

Gabriel, "Nome próprio" é sim, baseado em "Máquina de Pimball" e senão me engano também em "Vida de gato".

Abs ;)