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1 de novembro de 2010

Má Educação (2004)

Um filme de Almodóvar com Gael García Bernal e Fele Martínez.

Acho que eu nunca fiquei com tanta vontade de ver um filme por tanto tempo. Em 2004, na época em que eu ia ao cinema ver comédias por livre e espontânea vontade e minha lista de atores se resumia a Brad Pitt e Adam Sandler, eu li uma sinopse de Má Educação e juro que devo ter espumado para tentar ver o mais recente filme do gênio que era Almodóvar. Só após 6 anos de vontade é que fui ver algo que considerava ser o filme mais esperado da minha vida e, como qualquer coisa que se espera por bastante tempo, me decepcionei em partes. Mas mesmo se eu tivesse passado anos e anos remoendo expectativas sobre Réquiem Para Um Sonho ou Menina de Ouro, aposto que eles não teriam o mesmo impacto que tiveram sobre mim da primeira vez que eu assisti. Mas só digo isso: com ou sem expectativa, valeu a pena esperar esses anos, assim como vale a pena assistir essa obra.
Em Madrid, Enrique Goded (Fele Martínez) é um cineasta que está tendo um bloqueio criativo e não consegue achar inspirações para um filme. Até que num dia, um jovem chamado Ignacio Rodriguez (Gael García Bernal) bate em sua porta, apresentando-lhe uma história chamada "A Visita". Tudo correria bem se Ignacio não fosse um amigo de infância de Enrique, e, ainda mais, seu primeiro amor. Quando Enrique começa a ler o roteiro, ele vê que boa parte é baseada na estória de amor que os dois viveram na juventude e de como essa paixão foi interrompida pelo professor de literatura dos dois, o padre Manolo (Daniel Giménez Cacho), que molestava Ignacio. Enrique, então, decide usar o roteiro de Ignacio, mas descobre que uma parte dele ainda tem os mesmos sentimentos de sua adolescência.
Nada mais esperado do que uma atuação esplêndida. Sou fã de Gael García Bernal e ele ficou perfeito sendo um ator interpretando um ator que queria interpretar um travesti. Aliás, nada mais esperado de um filme almodóvoriano do que o travestismo. Voltando a Bernal, ele praticamente rouba a maioria da cena da obra, mas tenho que admitir que gostei do trabalho de Daniel Giménez, que fez um padre tão obcecado que me parecia real a denúncia que Almodóvar construiu de uma forma tão aberta e louca. A fotografia é excelente.
A trama é algo que merece uma ressalva a mais. Almodóvar simplesmente não quer falar de um modo clichê e cheio de lições sobre o homossexualismo, a pedofilia e a religião, e sim do modo que ele acha mais adequado. É como se ele estivesse apenas colocando mais lenha na fogueira ao fazer um filme que mostra um filme onde um padre mata um travesti. E o padre que assiste essa calúnia contra a Igreja só quer saber do garoto que ele molestava quando criança. Ele força o extremo a ser considerado normal na sociedade de hoje. Além de tudo, ele ainda traz uma mistura entre realidade e fantasia. Dá para criar um esquema interessante entre a história de Ignacio, Juan e Enrique, de como um queria ser o outro através de uma história, e de como a mente humana é algo complicado e complexo ao ponto de renegar uma paixão, de aumentar uma impossível e de fazer tudo para que uma dê certo.
É um filme extremamente passional, e eu fui querendo ver uma crítica à religião e homofobia. Há realmente uma grande investida de Almodóvar nesses pontos, ainda mais contra o tradicionalismo e os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja, mas tudo no filme é movido por paixão. O bom de Má Educação é que ele não retrata a paixão tradicional, e sim uma paixão triplamente proibida. O resto fica por conta do excelente Gael García Bernal e de todo o roteiro de Almodóvar. E merece ser conferido imediatamente.
NOTA: 8

2 comentários:

renatocinema disse...

Almodovar é gênio. Ele só me deixou triste com seu trabalho na literatura. O livro "Fogo nas Entranhas" é muito abaixo do que eu esperava. Os filmes sempre são bons. O meu predileto é "Matador".

Emmanuela disse...

Eu adorei o blog, vou seguir e divulgar no meu blog.

Sobre "Má Educação", não digo que é um maravilhoso filme só porque sou admiradora do trabalho de Almodóvar. É um filme dramático, pungente e ainda extremamente sensual. Nós podemos facilmente sentir a vibração.