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21 de setembro de 2013

Amor Bandido (2012)

Um filme de Jeff Nichols com Matthew McConaughey, Tye Sheridan, Sam Shepard e Reese Witherspoon.

Mud (Assim prefiro chamar Amor Bandido, esperem que não se importem, mas a tradução brasileira conseguiu transformar mais um título em piada) é o tipo de filme que nós não vemos todo dia, e eu dirijo esta mensagem a todos: desde cinéfilos até pessoas mais ocupadas que se limitam a ver, no máximo, um filme por mês. Há uma construção no cinema contemporâneo que segue a linha fácil de criação de blockbusters, na criação de um herói, de um clímax, de uma boa diversão, de gritinhos na plateia e de risadas em bons momentos.

Jeff Nichols, diretor de Shotgun Stories e o aclamado O Abrigo (com Michael Shannon e Jessica Chastain) é um novo diretor, e bem aclamado por seu trabalho. Permitam-me dizer, rapidamente, que eu não vejo o que a maioria vê em O Abrigo, seu segundo longa-metragem, mas isso fica pra outro texto. Há, porém, um mérito que eu tenho que entregar ao filme: simplicidade. A história é fabulosa, não há uma normalidade, não há um padrão a ser seguido, não é um excerto normal em uma vida normal, e mesmo assim o diretor ganha com a simplicidade do roteiro, das cenas e da conclusão.

Mud não está nem um pouco longe dessa estética. Ele ganha sua vez por ser um pequeno conto de fadas inserido num ambiente duro, grosso, áspero. Estamos nos pântanos do Mississipi. Há uma comunidade que vive na beira do rio, vivendo das próprias águas para a subsistência. Entre essas pessoas, há a família de Ellis (Tye Sheridan). A mãe não quer mais viver na casa à beira do rio, herança de seu pai. O pai precisa viver lá, pois não sabe o que fazer na cidade grande. O menino fica dividido, e assim também ficamos. A direção acerta em nos colocar na cabeça de Ellis, uma criança de 14 anos descobrindo a adolescência com resquícios de uma infância ainda viva no interior. Enquanto a mente entra em conflito, o espectador também entra no mesmo efeito. A inocência é a verdadeira guia do olho-câmera em Mud, são poucos os momentos em que um adulto fala e é compreensível o que diz. Pegamos as irritações, os jeitos, as dúvidas e as emoções de Ellis e, à partir do momento em que o menino foge da janela de sua casa, já começamos a nos conectar com todos eles.

A história, porém, prolonga além disso e foca em outras questões - todas ainda vistas pela visão inocente de um menino que crê no mundo em que vive. Ellis e seu amigo Neckbone (Jacob Lofland) ouviram uma história e querem comprovar a veracidade. Há um barco abandonado numa ilhota e é necessário ver para crer, ou ao menos satisfazer a vontade ilimitada do adolescente. É nesse barco que mora Mud (Matthew McConaughey), um homem misterioso com necessidades simples e uma personalidade dúbia. Para um garoto, Mud é um herói. Para o outro, Mud é o vilão. Quem é Mud?

Mud passa longe de herói, da mesma forma que não é um vilão. É um simples homem em conflito com uma força mais presente do que nas outras simples pessoas que existem. Mud é um deus ex-machina para almas inocentes assim como o barco é a representação do fantástico para o perturbado e obsessivo adulto. O que mais chama a atenção é o fato do próprio Mud possuir trejeitos infantis sobre a insistência em um determinado assunto, enquanto Ellis se parece muito mais adulto do que ele em algumas cenas, apesar de sua pouca idade. Matthew McConaughey faz muito bem sua caracterização do anti-herói, com inocência em uma carapaça de rudeza. Os trabalhos de Tye Sheridan e Sam Shepard não passam despercebidos, em especial para o ator mirim. Há de se lembrar também de toda a trilha de David Wingo, essencial para a construção do amadurecimento, o real objetivo de todo o filme com suas situações justapostas e seu ritmo leve.

Mud tem um saldo mais do que positivo por ser um conto de fadas moderno, baseado num cenário impropício ao nascimento de tanas emoções conjuntas. A seriedade e a mesmice da rotina são cansáveis, os momentos de alegria são poucos, muitos momentos o filme atinge uma densidade anormal para o esperado, e mesmo assim é a prova viva de que um filme consegue reproduzir relações pessoais tão simples como amor e amizade em uma tela.

Quantos filmes te fizeram sorrir neste ano, em relação a estreias? Me lembro de três filmes que me fizeram sair leve de uma sala do cinema, com um sorriso no rosto e uma sensação além do esquecimento. Mud é um deles, e consegue tudo isso com uma simplicidade admirável.

NOTA: 9

Um comentário:

Beats For Sale disse...

Très bon film, bonne critique :)