Um filme de Pelin Esmer com Olgun Şimşek e Nilay Erdönmez.
Filme visto no 2º Festival Internacional de Cinema de Brasília, Mostra Competitiva.
O Mirante é um filme turco de 2012 que apareceu no Brasil para participação em festivais. É duvidoso que ele consiga um público maior em alguma sala comercial, por mais que ele seja bem mais fácil do que alguns filmes que circulam atualmente, como Elena ou Cosmópolis. A fórmula hollywoodiana não para de ser usada no filme, que consegue se manter artístico ao utilizar o maniqueísmo, mas nunca explicitá-lo.
Nihad (Olgun Şimşek) trabalha em um mirante, vigiando áreas verdes em montanhas de cima de uma torre de onde consegue ver tudo: as estradas, as pessoas, a fumaça, os ônibus que passam nessas estradas... Nesses ônibus existe uma atendente chamada Seher (Nilay Erdönmez), uma moça que estudava numa boa faculdade e vivia com os pais, mas por uma infelicidade hedionda, viu-se desesperada para sair do ambiente familiar e conseguir trabalhar em algum lugar. Os dois têm seus próprios fantasmas e, quando se juntam, acabam tendo de enfrentá-los frente a frente.
A fotografia é eficaz o bastante para os momentos contemplativos de silêncio, onde observamos muitas imagens estáticas de natureza - provindas da relação guarda/ambiente, representada por Nihad. A câmera parada também é usada para o núcleo de Seher, onde o ambiente praticamente engole a personagem ao colocá-la minúscula em relação a toda a sala. O close não é tanto utilizado no filme, o que mais vale é a observação de uma cena por inteiro.
Observação é o aspecto que mais ganha em todo o longa. Seja em observação psicológica, natural ou comparativa, até mesmo metafórica. A falta de observação de um o levou a ser o homem que tudo vê, mas que nada pode. Ações não são o forte de Nihad, o personagem prefere a vida enclausurado, tendo de se contentar apenas consigo mesmo, sem nunca ter de enfrentar o passado. A comunicação direta do personagem apenas se dá com um ser-humano físico perto do desfecho do longa-metragem: até lá, as poucas falas de Nihad são feitas por um rádio, cheio de estática. O silêncio ganha.
Quanto a observação, mais uma vez, podemos destacar Seher como a observação óbvia do espectador. Seu lado jovem é simples de ser visto, é fácil de ser identificado. O relance já é o bastante para descobrir o que a jovem passou, mas relance algum é suficiente para descrever as cenas presenciadas pela personagem. Ela está marcada, isso fica claro em seu olhar - seja medo, seja nojo, seja desespero.
Desespero, desespero. O desespero vem da solidão de dois humanos ou da companhia de dois solitários? A cena final, um embate entre homem e mulher, humano e natureza, é o verdadeiro ganho do filme após seus exatos 100 minutos de duração. O Mirante não é um filme acessível, mas creiam: é um filme que pede para ser observado, ainda mais quando ninguém olha pra ele.
NOTA: 8
Nenhum comentário:
Postar um comentário