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15 de junho de 2013

O Grande Gatsby (2013)

Um filme de Baz Luhrmann com Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan e Joel Edgerton.

Fama, riqueza, dinheiro e luxo. Todo mundo já quis alguma dessas coisas na vida, e na maioria das vezes a razão é unicamente pessoal. Uma vida melhor, mais preguiçosa, menos dura, onde o tempo seria melhor aproveitado para muitas outras coisas. E é nesse quesito que a vida se torna ambígua. Sendo riqueza e prosperidade as maiores virtudes para um homem alcançar, de que adianta a busca pela fortuna se apenas uma parte dela é aproveitada com a vida? Claro, há o outro lado, o espírito. Renunciando todos os fatores que acabamos de falar para alimentar a alma, não existe garantia de um outro lado que não seja a fé, essa sem certeza de muitas coisas.

As frases acimas são generalizações extremistas. Há muito mais do que o dinheiro ou a ascese. E é nesse quesito que entra a escolha, o maior trunfo desta quarta adaptação do livro de F. Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby. Nick Carraway (Tobey Maguire) é um jovem sulista que se vê na grande selva de pedra, a Nova York dos anos 20. Ele apenas conhece sua prima Daisy (Carey Mulligan) e seu marido, Tom Buchanan (Jeol Edgerton) na cidade, e não é muito de interagir com todos. Aos poucos, porém, ele vai se aproximando de seu misterioso vizinho, um homem rico que faz festas a desconhecidos todas as noites. Esse homem é Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), e Nick mal podia prever a reviravolta em que ele entraria com esse novo relacionamento.

Baz Luhrmann é conhecido por seu ritmo rápido, por uma direção de arte com cores gritantes e por seus romances que tentam atingir o épico ao máximo. O Grande Gatsby não fica diferente, mas isso auxilia o filme, faz ele ganhar uma personalidade que não teria se fosse traduzido no cinema por meio do drama usual. Não existe uma representação tão interativa para as festas imensas de Gatsby se não fosse pela montagem de Baz. Por falar em interação, o 3D é desnecessário para a experiência visual. Vale muito mais a pena ver a incessante Nova York com a visão do diretor, iluminada e com uma rapidez de acontecimentos imensa.

A atuação não é incapaz de levar o filme. Vemos isso na versatilidade do ator mais esquecido das premiações, o grande Leonardo DiCaprio que, mais uma vez, insere um personagem bem característicos em trejeitos. Por Gatsby ser um leão em uma jaula, são duas personalidades que ele tem de fazer a toda cena: a máscara e o rabo de seu leão. A inquietude em seus dedos enquanto o sorriso verdadeiro permanece em seu rosto, uma verdadeira representação da arma de Chekhov. Em nível de excelência, após Leonardo DiCaprio está a mesma ambiguidade do desconforto - e dessa vez, de uma forma muito mais sutil - com Joel Edgerton. Enquanto Gatsby não aparece, é Edgerton que segura o filme nas costas de jogador de pólo, sempre com uma dupla intenção que não faz questão de esconder do público. O que os dois têm em comum? Algo que poderia ser mal interpretado, mas que aqui é essencial: carisma. O acerto de um significa o erro do outro, mas é muito custoso para entendermos o que é isso. A cena entre os dois e o que ela representa é, verdadeiramente, o ápice da fita, até a calmaria que precede os momentos finais.

Tobey Maguire não faz um bom trabalho, infelizmente, e por ser o protagonista isso até prejudica o andamento da fita. A repetição parece ser seu maior trunfo - e não é um quesito tão bom assim. Isla Fisher é o outro elo distante da fita que não surpreende. O resto do elenco não se sobressai a Edgerton ou DiCaprio, mas faz o bom trabalho que os acompanha na carreira. Jason Clarke é a maior prova disso. Os trejeitos do tolo mecânico são divertidos quando sabemos de toda a história que ele carrega em suas costas. Elizabeth Debicki é a estreante da vez, que consegue dar vida e encantamento a sua Jordan Baker.

Necessito de um parágrafo para a personagem de Carey Mulligan por sua ligação. Ela é, ninguém menos do que Daisy Buchanan, personagem fundamental na fita. Sua entrada desde o começo é feita para nos dar a mesma sensação literária: entusiasmo, surpresa, paixão. Daisy tem movimentos leves, suaves, e seu figurino (grande jogada no filme inteiro!) a acompanha nisso. Ela, como os dois homens citados anteriormente, também tem seu duplo sentido. E a percepção dele no espectador talvez seja a maior surpresa do filme e o único ato digno de causar nojo. O romance entre o casal é bem ilustrado pela trilha sonora diversa, que mescla artistas contemporâneos (como Lana Del Rey, The XX e Beyoncé) com a música dos anos 20. As letras, de qualquer forma, sempre tem um lado para se falar do épico romance entre Jay e Daisy, são letras proféticas, as quais ninguém dá ouvidos.

O roteiro, porém, é o maior pecado. Quando lemos a obra literária, o filme é muito mais do que festa, máfia ou amor. É sobre o ser-humano, o que não fica muito claro no filme. Há aqueles momentos de clareza, a maioria em seu final, mas quando necessitamos uma explicação sobre o que está sendo tratado em tela, esta passa correndo em um minuto ou menos. O Grande Gatsby não tem um foco, apenas uma história de amor que parece ser menor do que é do modo grandioso que é tratado.

A grandiosidade de Baz Luhrmann estraga seu próprio filme, por diminuir o drama dos personagens. Sua tentativa de fazer uma segunda versão de Moulin Rouge (sim, tudo está lá: o escritor narrador, o romance supervalorizado e impossível, a rapidez no movimento, a apresentação de Daisy que se assemelha à Satine) não dá certo no total. Ao fim, a fita vale a pena e é uma das grandes adaptações do livro pro cinema. O que fica, porém, não é nenhuma lição grandiosa ou algo que faz jus à obre de Fitzgerald. É que seguindo o farol verde, vai ter muita, muita festa.

NOTA: 7

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