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21 de junho de 2013

Minha Mãe É Uma Peça (2013)

Um filme de André Pellenz com Paulo Gustavo, Suely Franco, Mariana Xavier e Rodrigo Pandolfo.

Eu, como faço parte de uma minúscula parcela do teatro desse grande Brasil artista, não concordo de maneira nenhuma na transferência de algumas peças para a telona. Há, claro, várias exceções - a maioria provém de obras de Nelson Rodrigues, que se provaram ótimos filmes. Mas o que vemos atualmente é uma epidemia da transformação da comicidade em cinema, ao meu ver, de forma desnecessária, descentralizando o povo do teatro para as telonas. As últimas divulgações de filmes baseados em peças se mostram comédias fraquíssimas, algumas que ainda não passam nem de trailers não empolgam nem o espectador.

Não foi grande surpresa, porém, ver que o filme do ótimo Paulo Gustavo, Minha Mãe é uma Peça, baseado em sua peça homônima, é uma da também minúscula parcela de comédias que funcionam. Dona Hermínia (Paulo Gustavo) é uma mãe como qualquer outra, a narração em off inicial frisa isso muito bem. A atarefada dona de casa tem três filhos: Garib (Bruno Bebbiano), o filho criado e casado; Marcelina (Mariana Xavier), a filha que mais dá trabalho; e Juliano (Rodrigo Pandolfo), o doce e meigo filho caçula. Quando Hermínia ouve uma conversa, ela não aguenta a pressão dos filhos e vai para a casa de sua tia Zélia (Suely Franco).

O roteiro é mais do que desnecessário. O filme inteiro é costurado, dividido em pequena esquetes de humor, o que não caracteriza um filme, caracteriza um grande stand-up baseado em memórias mais cômicas do que emotivas. Os flashes de memória só servem separadamente, já que qualquer ligação entre eles dói e não se encaixa. A desculpa dada pelo longa-metragem é a construção da história do cotidiano materno, o que até funciona como plano de fundo para algumas histórias de crescimento. Outras, como a relação com as vizinhas ou até a descoberta da morte familiar são completamente desnecessárias e causam um efeito destoante ou até mesmo ridículo.

O filme, inegavelmente, é de Paulo Gustavo. O brilho deve se deve a sua experiência nos palcos fazendo seu monólogo. A caracterização do ator como mulher é incrível, sem forçar a barra. Por mais que a caracterização do bóbis seja um tanto quanto exagerada, até mesmo sem eles Paulo Gustavo é verossímil. Muitos falam que ele é a única coisa engraçada do filme. Discordo com veemência. Ingrid Guimarães, Samantha Schmütz, Alexandra Richter, Rodrigo Pandolfo e Mariana Xavier têm um desempenho excelente e uma veia cômica que ajuda a levar as cenas sem o astro. Herson Capri e Suely Franco parece que são mecanizados, como se só servissem para apoio, e Bruno Bebbiano fica abaixo da linha do mediano. Vale apontar também atores como Mônica Martelli, mais do que má aproveitada pela fita. Vale ressaltar que a peça desta última (Os homens são de Marte... E é pra lá que eu vou!) também está programada pra virar filme.

Paulo Gustavo é um ator ótimo, seu programa 220 Volts e as peças em seu currículo são provas disso. Minha Mãe é uma Peça é mais uma destas provas do talento do comediante. Por mais que a comédia nacional seja uma das que mais me fez rir neste ano de 2013, não posso retirar minha certeza inicial: é um filme que deveria continuar nos teatros.

NOTA: 6

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