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24 de junho de 2013

Blancanieves (2012)

Um filme de Pablo Berger com Macarena García, Maribel Verdú, Daniel Giménez Cacho e Sergio Dorado.

Filme visto no 2º Festival Internacional de Cinema de Brasília, Mostra Competitiva.

Ainda existe alguém que possa não conhecer alguns dos famosos contos de fadas dos irmãos Grimm que, constantemente, viraram adaptações fabulosas dos estúdios Disney? Talvez Branca de Neve e os Sete Anões seja um dos mais completos e uma das mais conhecidas que se pode ter. A história todos conhecem: a princesa, perseguida por sua cruel madrasta, foge para a floresta, encontra sete anões, come uma maçã envenenada e acorda com um beijo do seu príncipe, uma bela história de amor. E mesmo quem não vê filmes de animação, poderia conferir a mesma história nas diversas adaptações que o filme original vem tendo, como Branca de Neve e o Caçador ou Espelho, Espelho Meu.

Antes de falar, porém, deste filme de Pablo Berger, preciso falar da figura constante, que é a da madrasta malvada. A época que vivemos não tem o mesmo maniqueísmo infantil dos estúdios onde os sonhos se tornam realidade. O foco deixou de ser Branca de Neve há alguns anos, enquanto a bruxa - retratada por grandes atrizes como Julia Roberts, Charlize Theron ou Maribel Verdú - ganha mais carisma, se torna um pouco mais humana nos olhos do público, e rouba a cena com uma interpretação de matar. Vale mais a pena fazer vilões do que mocinhos, e isso não se restringe a Branca de Neve. Angelina Jolie está fazendo o papel de Malévola (A Bela Adormecida) para um filme do ano que vem. Sabendo disso, comecemos Blancanieves.

Carmencita (Sofía Oria/Macarena García) é uma pequena menina infortunada. Sua mãe, Carmen de Triana (Inma Cuesta) morreu ao dar a luz, e logo depois de seu nascimento seu pai, o grande toureiro Antonio Villalta (Daniel Giménez Cacho), casou-se com uma outra mulher. O infortúnio fica ainda pior quando sua avó, dona Concha (Ángela Molina) morre e ela tem de morar com o pai desconhecido. A madrasta da menina, uma terrível e invejosa mulher chamada Encarna (Maribel Verdú), não gosta de Carmen de modo algum e faz tudo para transformar a vida da enteada em um inferno.

O filme, assim como O Artista, é uma imensa homenagem ao cinema mudo e preto e branco. Totalmente ambientado na Espanha dos anos 20, com uma direção de arte impecável (misturando elementos circenses e figurinos incríveis), a história dá uma nova roupagem para a tão conhecida fábula da Branca de Neve. A princesa não é filha de um rei, é uma simples menina filha de um famoso toureiro. Por ser ambientado num mundo real e antigo, a compaixão e o maniqueísmo do bem e do mal não são utilizados completamente na fita. Claro que protagonista e antagonista são bem definidos com candura e ódio, respectivamente. Mas observemos, não existe pena por parte do assistente da madrasta. E nem todos os anões são confiáveis, assim o filme nos entrega.

Pablo Berger faz um grandioso filme, tornando as imagens belíssimas e com um ritmo avassalador graças a sua ótima direção e a uma montagem grandiosa. A montagem é mais do que precisa e nos entrega um filme completo. Veja todas as cenas onde o suspense ganha: todas elas têm um corte muito mais rápido, de maior tensão no espectador. Ao mesmo tempo que a montagem consegue prender na tela, também traz ótimos momentos de descontração. A comédia é recorrente, a figura da madrasta é caricata o bastante para ser engraçada, e até mesmo alguns artifícios utilizados para as legendas de fala são suficientes para fazer o público rir. Isso porque ainda nem começamos a falar de Josefa (Alberto Martínez).

No quesito atuação, ninguém perde. Ninguém mesmo. Como falado no início, a figura da antagonista recebe uma atenção maior do que a protagonista em si. Maribel Verdú conseguiu até um prêmio Goya como Melhor Atriz, tudo graças a suas falas corporais intensas, cheias de significado. Quem não fica atrás é Ángela Molina, em sua pequena aparição como a avó da protagonista. Sofia Oria e Macarena García são grandes surpresas do longa, e representando o lado masculino, Daniel Giménez Cacho e Sergio Dorado representam bem seus papéis, com ressalva ao primeiro, que consegue emocionar com o olhar.

O roteiro, por ser todo ambientado na realidade, assume tons macabros que se assemelham mais aos Irmãos Grimm do que um conto de fadas propriamente dito. Vingança, morte e muita maldade são os maiores artifícios que não permite que Blancanieves seja indicado ao público mais infantil. Não há como falar do filme inteiro, porém, sem dar uma atenção à trilha sonora: Alfonso de Villalonga faz um estupendo trabalho, pois é exatamente ele que dá o tom da fita. As canções originais, as danças, os sinos, a alegria e a tristeza, é somente ele que decide a hora exata que o espectador sente tais emoções fazendo-nos ouvir todos os seus acordes a cada momento. O próprio silêncio é bem pensado para resultar numa verdadeira explosão, um grande efeito da fita.

Não, não há muitas pessoas que não conhecem Branca de Neve e os Sete Anões, um verdadeiro clássico infantil que transcende época e idade. Recorrente em muitas situações, o conto é tão aplicado na vida real que virou um filme para adultos, com uma mão tão certeira quanto os estúdios Walt Disney (o que resultou em 10 prêmios Goya para o filme). De um modo ou de outro, ainda há muitas pessoas que nunca viram e talvez nem ouçam falar de Blancanieves. E isso é errado, muito errado.

NOTA: 9

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