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19 de agosto de 2011

Poltergeist: O Fenômeno (1982)

Um filme de Tobe Hooper com Craig T. Nelson, JoBeth Williams e Heather O'Rourke.

A dificuldade do gênero em terror, em especial, é que a maior parte de seus filmes são obras feitas para a sua própria época. Por depender bastante de uma maquiagem muito boa, de uma trilha sonora assustadora, de efeitos especiais que fazem o público crer no que está acontecendo na tela e num roteiro exigente, as fitas de horror se perdem em seu próprio tempo. Apenas os considerados clássicos conseguem sair de sua época e chegar às outras, mas não com o mesmo impacto que se tem antes. Como se compara a crueldade de um massacre com o terror altamente psicológico de espíritos e demônios? Poltergeist: O Fenômeno é um desses filmes. Sua única diferença é que ele, além de aterrorizar, foi cultuado como ícone.

Steve Freeling (Craig T. Nelson) é um corretor de imóveis. Ele mora com sua família numa vila, e é um modelo da família americana. A família é composta por sua esposa Diane (JoBeth Williams), e seus filhos Dana, Robbie e Carol Anne (respectivamente Dominique Dunne, Oliver Robins e Heather O'Rourke). Porém, eventos estranhos na casa fazem com que a família fique perturbada. Tudo começa quando Carol Anne acorda numa noite e começa a falar com a televisão, se referindo a eles o tempo inteiro. Aos poucos, coisas estranhas acontecem na casa, como móveis se mexendo e árvores atacando. Até que, numa tempestade, Carol Anne some, e os Freelings tem de lidar com o sobrenatural para ter a filha de volta.

O diferencial principal foi o roteiro sobrenatural, escrito por ninguém mais, ninguém menos do que Steven Spielberg. Spielberg, que foi proibido de dirigir o filme graças a outro sucesso paralelo que estava fazendo nos estúdios da Universal, E.T., tem sua cara estampada em vários momentos da obra. A apresentação inicial da família num evento que já começa estranho e o desfecho silencioso, apenas esperando o momento certo para a trilha sonora surgir, são marcas do diretor e, aqui, roteirista e produtor. A assombração atacando uma família americana comum, - e não os estranhos sequelados de Massacre da Serra Elétrica ou Sexta Feira 13 - a lenda caótica que ronda os mistérios do poltergeist, a criação da vida após a morte e o descontentamento dos espíritos e outros problemas metafísicos são responsáveis por fazer de Poltergeist um filme que vai além da sessão. Não necessariamente assustando crianças após o que elas viram nas telas, mas como uma reflexão no desconhecido e no excessivamente conhecido. Além de tratar dos espíritos em toda a sessão e fazer deles sustos memoráveis, o diretor Tom Hooper também põe o assunto capitalista na tela. A TV sendo o único meio de comunicação entre o sobrenatural e o físico? Uma corretora de imóveis que brinca com a morte? Está tudo aí, nesses 114 minutos de duração.

Outra sacada interessante é a falta de jeito do homem quando lida com o desconhecido. Os personagens apenas se mostram surpresos enquanto o fenômeno não toma proporções drásticas para toda a vida familiar dos Freelings, mas a preocupação logo surge e toma conta do longa-metragem junto ao terror. Enquanto o roteiro fala por si só durante seus sustos ou o caminho que ele toma ou retoma perto do fim, a trilha sonora ajuda a construir uma atmosfera intensa e faz o filme chegar a seu clímax rapidamente. Ao contrapasso, a falta dela também auxilia bons momentos para o clássico do terror. Quem toma conta de todos os efeitos sonoros - e foi indicado ao Oscar naquele ano por esse trabalho - é Jerry Goldsmith, o mesmo que produziu os sons de Jornada nas Estrelas. Sua maestria nos fez o filme acalmar e aterrorizar uma plateia tensa. E quando a trilha sonora sumia, o que fazer com a apreensão que exala de todos os espectadores? Ao mesmo tempo que a trilha foi indicada ao prêmio máximo do cinema, também foram os efeitos especiais, da ILM. Ver um demônio se materializar na porta de um quarto, uma árvore engolir uma criança e um quarto rodopiar não é nada para quem já viu A Origem, mas foi um marco para a época. Tudo está bem realizado e propicia não o medo, mas a surpresa.

Para completar essa linha de Poltergeist, as atuações também surpreendem. O elenco adulto faz um ótimo trabalho e percebe-se a força interpretativa de casa personagem. Uma ressalva especial para JoBeth Williams que fez Diane Freeling, a esposa preocupada e disposta a tudo. Uma cena em especial, em que ela tenta se comunicar com a filha sumida e recebe uma mensagem através de aura da menina, conquista o público. O pai, feito por Craig T. Nelson, é bem vivo em suas ações e isso importa bastante na carga colocado para a vivência. A incredulidade e o ceticismo também são bem explorados. Para um contraponto a essa falta de fé, temos a competência da veterana Beatrice Straight e de uma comicidade de outro mundo, trazido pela ótima Zelda Rubinstein. Por fim, entre as três crianças do elenco mirim, quem se sobressai é a caçula Heather O'Rourke, a inocente menina que consegue contatar os espíritos que rondam sua casa. A sua ingenuidade consegue amolecer os corações mais duros, e seu choro doce e cheio de medo é o bastante para transportar o público para o cenário do filme. Seus olhares e suas bocas foram essenciais para a criação das características da pequena Carol Anne. Foi realmente uma pena a morte da criança aos 12 anos de idade, logo após ter feito o terceiro episódio de Poltergeist.

Poltergeist: O Fenômeno ainda mantém seu posto de clássico seguro, mas dificilmente assustará a nova geração que aprende agora a dar valor às diversas carnificinas para depois ver o thriller obtido no horror da década de 70 e 80. Mas é inegável a influência que essa obra fez para filmes futuros sobre espíritos que assombram casas, mexem móveis e perturbam almas. Veja o filme e perceba quantos mistérios e suspenses dos roteiros atuais tem uma ponta de Poltergeist no meio. Exemplo claro disso é o novo terror, Sobrenatural, que copia as situações do filme de Tobe Hooper até não poder mais. Mas isso não é ruim, é apenas uma mostra do valor do velho terror agindo sobre a crueldade atual exposta em torturas e mortes explícitas.

NOTA: 9

9 comentários:

renatocinema disse...

Clássico total.

Concordo muito com seu texto.

O terror realmente possui essa linhagem.



Abraços

Alan Raspante disse...

Mais um filme que eu ainda não assisti, mas preciso conferir o quanto antes!Não sabia que o roteiro era de Spielberg!!

Abs :)

Rodrigo Mendes disse...

Que lindo cartaz esse do seu belo post! Vou salvar também, rs! Estou para postar sobre esse filme, e muitos outros do gênero - em um especial Outubro Das Bruxas que preparo, obviamente para o mês de outubro!

Bom, Poltergeist tem a trademark do Spielberg. Embora tenha sido dirigido por Hooper. Não é o meu favoritão (as continuações são irregulares), mas o filme ainda se mantém como clássico mesmo! Difícil apagar esse posto. Não é obra-prima, só que eu gosto!

Gostei da sua rapida citação sobre os efeitos especiais da fita (A Origem é mesmo superior, rs)que tem um charme delicioso. Eu gosto mais da parte que o palhaço agarra o moleque.

Cenas antológicas não tem como não dizer!

Abraços
Rodrigo

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Ótimo texto sobre o filme. Um clássico máximo, amo esse filme. Interessante você trazer a questão da mão do Spielberg e sua influência na fita e a questão dos efeitos...

Abração, partner!

Thiago Priess Valiati disse...

Amigo, obrigado pelo comentário!
Seu post ficou show de bola tbm! Muito bem escrito!
Ainda não assisti o filme mas fiquei com vontade.
Abraços!

Adecio Moreira Jr. disse...

A garotinha desse filme é TÃÃÃO fofa. Mas é assustador (pelo menos pra mim foi há muito tempo atrás).

Anônimo disse...

CLÁSSICO. E aquele filme que na primeira viagem realmente causa um certo panico, e foi o que aconteceu comigo, um show de arrepios.

Cristiano Contreiras disse...

Olhe, eu vi este filme quando tinha uns 12 anos de idade e achei muito chatinho. Sim, isso mesmo. Curioso que naquela época mesmo eu morria de medo com vários outros filmes do gênero e sempre via, com amigos e sozinho. Rs. Mas, fiquei decepcionado com ele. Na verdade, achei, naquele tempo mesmo, super chato e mecânico, não natural. Então, em 2006 resolvi rever ele, o que deu? continuei achando chatissimo! Não entendo como gostam, acho o roteiro muito mal construído, a tensão é quase nula, é tudo muito mal dirigido, ele envelheceu muito mal mesmo. E os efeitos, concordo que tiveram seu valor na época, perderam muito a força. O que poderia ter me dado mais medo? aquele palhaço lá, rs. No mais, um filme cultuado que não tenho nenhum apego. No mais, uma nota 3 pra ele, tá de bom tamanho. Mas, teu texto está ótimo, e eu respeito sua sensação. Abração!

Andinhu S. de Souza disse...

cartaz tenso.

ainda to pra ver. sentir medo com os filmes de terror de hoje em dia eh a coisa mais rara.