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17 de maio de 2011

Closer - Perto Demais (2004)

Um aviso prévio antes da leitura: muitos já comentaram que falo excessivamente de partes de filmes nos posts e estou tentando melhorar nisso, por mais difícil que seja. Porém, exclusivamente nesse texto, foi impossível para mim não comentar muito do filme. Essa resenha serve como uma interpretação de Closer, sugerida apenas para quem já viu. Se você ainda não viu, recomenda-se que leia até o quarto parágrafo e pule para a conclusão.  
Um filme de Mike Nichols com Natalie Portman, Jude Law, Julia Roberts e Clive Owen.

Bem vindo ao mundo moderno, algo que não se difere muito das eras passadas. Aqui, o amor se baseia em apegos, em encontros, em uma paixão temporária que pode ou não se estender. E aqui, o que prevalece não é quem sente mais forte, é quem tem mais circunstâncias e mais espaço para abrigar o amor. Closer é um ensaio da paixão e dos relacionamentos. E é inegável que eles são fortes e explícitos, mas são verdadeiros? Se uma paixão ocorre em tempo recorde de uma primeira vista, em quanto tempo ela consegue se extinguir?
Dan (Jude Law) é um escritor de óbitos cuja ambição é se tornar um grande romancista. Quando ele finalmente consegue escrever seu livro, intitulado O Aquário, ele vai tirar as fotos da obra com Anna (Julia Roberts), uma fotógrafa bem-sucedida que acabou de passar por um divórcio. Durante a sessão de fotos, Dan se apaixona por Anna à primeira vista, e Anna corresponde o amor de forma reservada. Com ciúmes de Anna, Dan começa a teclar pela internet com o médico Larry (Clive Owen), fingindo que é a fotógrafa. O trote virtual acaba por fazer Larry encontrar a verdadeira Anna e se apaixonar por ela. Ao mesmo tempo, Dan mantém um namoro com Alice (Natalie Portman), uma stripper apaixonada e instintiva que o escritor de óbitos conheceu antes de tirar as fotos com Anna.
Numa esfera visual, Closer é perfeitamente montado. A linguagem das minúcias tornam o filme bastante comunicativo em seu quesito detalhista. A fotografia do filme condiz com cada ambiente físico ou emocional, se adaptando à tensão de cada cena. Os sentimentos transbordam da tela para afogar o espectador numa mágoa ou num afeto. A suave trilha sonora tem o poder de embalar a obra do início ao fim. Primeiramente e finalmente com a canção Blower's Daughter, do cantor Damien Rice, caracterizando lindamente a paixão retratada e, com isso, abre-se o leque de sentimentos que é Closer com chave de ouro. Todo o cenário tem algo a dizer em sincronia com as situações, seja de uma forma implícita ou explícita. O retrato de um retângulo amoroso se completa com as semelhanças e diferenças de cada casal. Os diversos elementos de cena entram em harmonia para mostrar as paixões. É uma delícia ver a frequência com que os personagens de Jude Law e Natalie Portman desistem e voltam a fumar, o que acaba localizando o espectador nesse labirinto romântico de idas e vindas.
O jogo do amor está no ar e infecta a todos. No entanto, nem só de pão vive o homem e nem só de felicidade vive o amor. Ações viram um perigo e consequências, uma brincadeira. Os personagens são construídos de forma inteligente e ocultam várias personalidades firmes. O filme se torna uma identificação do sensível. Controle, adultério e mentiras enchem o território de um relacionamento e, por mais que Dan, Alice, Larry e Anna tenham todos os seus defeitos à mostra, uma característica passional acaba por assemelhar-se com o público.
As metáforas não param por aí, o filme inteiro acaba por convergir para o seu fim. O doutor Larry, interpretado por um Clive Owen com uma força de interpretação no seu auge, é o típico romântico seguro, que não perde o foco e o controle por um segundo. Mas a interpretação não para de Owen para Larry, mas Larry continua a atuar para o mundo. Confiança não é algo que nasce pronto. A caracterização do médico, um ofício que é encarregado para a cura, serve como a cura de amores. E aí entra a ironia da cena, a cura das paixões que ele traz não é verdadeira, e não há nada pior do que um convívio apaixonado de fachada. Será esse o preço da traição? Enquanto o médico traz um caráter de segurança e vida, - por mais que essa vida assemelhe-se à morte por vezes - o escritor de obituários é encarregado de trazer às notícias da morte e, ironicamente, matar todo o amor que lhe entra em contato. O escritor Daniel vive uma vida de regressões: começa como um jornalista que odeia o trabalho, termina como um escritor fracassado. Dan troca a vida pela morte, porque, sob o controle de duas paixões, ele não tem a força para consolidar qualquer uma delas. Jude Law entra, competente, na pele de um canalha irreversível.
O elenco feminino não fica atrás. Aqui, Julia Roberts se rende à Anna, uma mulher que não deixa seus sentimentos à flor da pele, mas que se mostra tão reduzida à própria vida sentimental quanto qualquer protagonista do filme. A fotógrafa se mostra um foco da percepção dos outros dois. Por mais frígida que se deixe parecer, Anna é a única que consegue atrair a atenção dos homens no relacionamento. A obsessão dela de fotografar estranhos é sarcasticamente correspondida por seus sentimentos ao se apaixonar por um, e acabar com um estranho para o próprio coração. Já Alice é a atmosfera de sedução do filme inteiro. A sempre competente Natalie Portman entra em cena e consegue deixar todos boquiabertos com sua mesclagem de diálogos, movimentos e olhares. Por ser uma stripper, sua personagem sugere um aprofundamento maior e um preconceito pela desonestidade e pela facilidade de trocar um homem. E aí que ocorre a maior ironia. Alice só consegue ser honesta com seus próprios estranhos, enquanto, sendo uma romântica irrevogavelmente apaixonada, tem de mentir para o coração e para o amado. Banalmente, ela consegue ser Jane Jones, a stripper verdadeira que apenas oferece uma noite de libido e tesão. Emocionalmente, ela se esconde no reduto de Alice Ayers e se finca numa vida mais banal como alguma outra profissão.
Sim, do mesmo modo que uma paixão começa, ela pode acabar. Sim, uma paixão pode ser duradoura ou pode ser efêmera. Closer é uma aula de relacionamentos contemporâneos, uma aula com Jude Law, Natalie Portman, Clive Owen e Julia Roberts supervisionando o assunto e ensinando, de uma maneira intensa, todos os assuntos abordados para que nada seja feito em demasiado excesso. Verdades e mentiras, confiança e desconfiança, fidelidade e traição, tudo converge para que o desfecho dele seja exatamente igual ao começo: uma nova alternativa para novas relações. Satirizando Anna Karenina, "Cada relacionamento feliz é igual, mas cada relacionamento triste é triste à sua maneira".
NOTA: 10

6 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Closer é intenso, cruel e realista. Um tapa na cara da sociedade, pois mostra a inconstância e terreno de conflito das relações amorosas.

Belo texto, mostrou bem as principais ideias e contextos psicológicos dentro dessa obra que aponta como um novo clássico, desde já!

abraço

Rafael W. disse...

Foi o filme que despertou meu gosto por Cinema. Simplesmente maravilhoso.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Alan Raspante disse...

Não há filme melhor que retrate as relações amorosas como este. Simplesmente incrível!

Gabriel, seu texto está excelente. Só uma coisa, não siga a risca esse seu próprio aviso. Acho que filmes devem ser analisados e creio que você não deve parar de "se aprofundar" ou descrever algumas cenas. Afinal,a graça de uma crítica está aí: descobrir o ponto de vista daquele que escreve.

Claro que, eu ao menos, penso assim... Enfim... Até mais!

Hugo disse...

Os diálogos cortantes e as interpretações realistas são os grandes destaques, além da direção de Nichols.

Abraço

Rodrigo disse...

Contar detalhes do filme é uma característica sua, portanto, do seu blog, então compreendo e aceito que você fale assim. Não devia parar, principalmente porque escreve tão bem, e consegue entender as mensagens do filme, que aliás, é imperdível. Abraços.

renatocinema disse...

Adorei seu texto.
Adorei o filme.
Adorei sua citação final.


Parabéns.