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26 de abril de 2011

A Bela Junie (2008)

Um filme de Christophe Honoré com Léa Seydoux, Louis Garrel e Grégoire Leprince-Ringuet.

Retratando uma juventude ultrarromântica no auge de seus desentendimentos e complicações no ramo sentimental, Christophe Honoré escreve aqui traços tortos por linhas retas. Onde ele poderia criar uma história simples contornada pela beleza dos resquícios de uma Nouvelle Vague deixada nas minúcias da atmosfera parisiense, ele constroi, através de casos da adolescência e da maioridade, uma vida baseada num sentimentalismo barato e efêmero que, quando se encontra com uma paixão verdadeira se perde completamente na fórmula já conquistada. Se vendo como um todo, A Bela Junie é um filme delicioso do cenário francês, mas detalhadamente a tortuosidade acaba por atrapalhar o andamento e o desenvolvimento dos seus 90 minutos por mais que Léa Seydoux e Louis Garrel se esforcem para os fazerem valer a pena.
Junie (Léa Seydoux) é uma menina de 16 anos que se muda para a casa de seu primo Matthias (Esteban Carvajal-Alegria) após a morte súbita da mãe. Ela começa, então, a frequentar a mesma escola do primo e conhece os amigos dele. Como a nova integrante do grupo, ela causa um certo rebuliço nas emoções dos diversos adolescentes românticos presentes, e acaba namorando Otto (Grégoire Leprince-Ringuet), um garoto apaixonado que não consegue entender a abrupta mudança de tom da namorada. Porém Junie, como uma perfeita sedutora, não para por aí, já que ela consegue despertar uma imensa paixão provinda do seu professor de italiano, Nemours (Louis Garrel).
O filme não é racional, é desde sua abertura até os créditos finais um conjunto sentimental que mostra por meio de ações, palavras e um silêncio arrebatador o quanto o desejo pode influenciar nas mais diversas condutas sociais. O amor é algo privilegiado e bastante conservado por todas as almas do filme, exceto pela protagonista melancólica. Enquanto diversas histórias de amor, paixão e desejo são mostradas com a personalidade dos outros personagens através das influências delas e das consequências de sua vitória ou seu término, Junie parece ser a única personagem racional do filme - e isso a torna tão distante daquela Paris deliciosamente amorosa que podemos confundir sua falta de crença no romance à flor da pele em apenas tristeza e bipolaridade. Incrível isso, a racionalidade acaba por encantar e convencionalmente destruir, de uma maneira terrivelmente cruel, os apaixonados. A atmosfera de paixão que Junie exala é traiçoeira, ela agarra alguém em sua rede apenas para mutilá-lo.
Christophe Honoré cria aqui, de um modo tão real, o universo dos dramas adolescentes ultrarromânticos que sofrem de crises existencialistas por um término e de depressão por uma briga. São jovens vivendo a melhor experiência de suas vidas, reconhecendo o amor em cada um de seus caminhos e agarrando ele como se apenas o coração lhes desse uma força vital. E tudo cheia a essas descobertas: a trilha sonora, a delicada movimentação da câmera, os lugares ordinários, porém belíssimos. A Bela Junie se mostra um filme de contrastes: há um contraste latente entre toda a cidade e uma única pessoa. Grégoire Leprince-Ringuet traz bons momentos à trama graças a seu poder de interpretação como o jovem indeciso e imediatista tendo seus primeiros contatos com o amor - e não sabendo controlá-lo. É engraçado ver que o casal formado por Louis Garrel e Léa Seydoux é bastante diferente das personalidades dos personagens, e aqui se concretiza. Garrel faz aqui um papel que transborda emoção e romantismo, de um professor que encanta as mais diversas mulheres com seu charme peculiar. A graça se dá quando ele e Léa Seydoux entram em cena juntos. Dessa vez, não é a mocinha que está entregue ao poder de sedução do professor, se dá exatamente o contrário. E Léa Seydoux, numa deliciosa atuação lúgubre, se entrega a sua personagem que se mantém longe de qualquer relacionamento.
Não conhecemos ninguém, nem mesmo as pessoas que amamos. Essa frase é falada por Otto em certa parte do filme, mas tenho uma pequena correção. Não conhecemos ninguém, principalmente as pessoas que amamos. O amor é traiçoeiro em seus diversos momentos e estágios. No momento em que nos achamos com as rédeas da situação, no momento em que sofremos uma desilusão, no curto momento em que nos entregamos completamente a um desconhecido. Junie é uma personagem controladora num mar de amores. E, mesmo assim, ela ainda consegue fazer esse mar secar se não deixar se entregar ao próprio coração. A Bela Junie é um filme exatamente sobre isso: desilusões amorosas e reviravoltas no coração, causadas pela entrega completa dos apaixonados por alguém que prefere brincar com sentimentos alheios a correpondê-los.
NOTA: 6

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Não sei por qual motivo, mas eu adoro o cinema frânces. Acho incrível a forma como demonstram os romances e certos temas. "A Bela Junie" é um filme que preciso muuuuito ver logo!!

Cristiano Contreiras disse...

Acho "A Bela Junie" um filme bom, apesar de saber que poderia ser mais ágil e até ousado. Mas, é sincero, contido, bem interpretado. A direção é boa, sim. E a premissa me atraiu. Adorei Garrel nele, bem como o trablho de Léa Seydoux que é linda e boa atriz.

Dou nota 7,5! Gostei mais que você! rs!

Abs

Kamila disse...

"A Bela Junie" é um filme legal, mas a sensação que eu tenho, ao ver os filmes do Honoré, é que as obras dele não são pra mim....

Rodrigo disse...

Honoré é um diretor que preciso conferiri ainda. Acredita que vi nenhum filme dele até hoje? Pois é. Mas devo mudar isso logo. Abraços.

Película Criativa disse...

Tô super curiosa para ver esse filme!