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25 de março de 2011

Carrie, A Estranha (1976)

Um filme de Brian DePalma com Sissy Spacek, John Travolta e Piper Laurie.

Não há adolescente que não queira uma vida normal. Por mais que nessa época os jovens reclamem demais por uma vida boa que eles insistem em estragar, nunca vi algum garoto ou garota atualmente que se veja melhor sozinho, sem amigos, sem convivência com os outros. A convivência e as relações são importantes na vida de um estudante, já que são essas amizades que mais perduram na vida. Além do mais, nesse período de grandes descobertas, o jovem precisa de um ponto de apoio, ou a coisa mais fácil é o adolescente em questão entrar num surto existencialista causado por dúvidas e falta de afeto. Se não conseguir estabelecer essas relações de confiança já chega a ser difícil, imagine quando essa dificuldade é alvo de uma humilhação constante que parece ser infinita? Ainda mais, imagine quando não há um apoio nem dentro da própria família? Bem vindos à terrível vida de Carrie.
Carrie White (Sissy Spacek) é uma menina que não chega a ser diferente das outras, mas é levada a acreditar nisso graças ao bullying que sofre dentro da escola. Ela é tímida, introspectiva, frágil e desorientada, já que seu exemplo mais forte é a mãe, Margaret White (Piper Laurie), uma fanática religiosa que chega a ser violenta para que a filha cumpra suas preces e ore com fervor. Para completar a confusão que é sua vida, recheada de humilhação no ambiente escolar e familiar, Carrie tem poderes telecinéticos, e ninguém suspeita deles - ou de o quanto eles ficam fortes quando movidos pelo ódio.
Algumas pessoas tomam Carrie como a principal vilã do filme, uma garota perturbada e balançada por viver no seu mundo e não conseguir chegar perto do próximo. Carrie chega bem longe disso. O principal vilão de Carrie, A Estranha é o preconceito. O preconceito gerador de bullying, o preconceito gerador da ignorância, o preconceito gerador do medo. A câmera de Brian DePalma e a atuação excelente de Spacek nos mostra isso a cada segundo desse clássico do terror: sentimos pena de Carrie, por mais que ela se mostre vingativa e destrutiva, sentimos compaixão, sentimos alegria, sentimos ódio por quem a humilhou. Até admitimos o trágico final e gostamos do que vemos nas últimas cenas. Carrie é a vítima de tudo porque sua personagem exala inocência. A cena que antecede o fim, onde Carrie finalmente se encontra feliz pela primeira vez em sua vida, onde ela vê amigos e não conhecidos, onde ela vê esperança e não dúvida, é tocante ao extremo em todos os aspectos.
A alienação religiosa é feita de um modo bastante metafórico e de uma força de interpretação incrível de uma ótima Piper Laurie. Até que ponto Jesus salva? Afinal, essa luz divina abre nossos olhos ou nos cega completamente? O extremismo religioso faz com que uma mãe se culpe o tempo inteiro por ter uma filha, resultado de um ato pecaminoso, e coloque o peso de uma heresia nessa filha, de forma que ela seja quase crucificada pelo simples fato de existir. Através da repressão e de uma ditadura familiar, ela toma as rédeas da casa e faz o que quer, trancafiando a própria filha num quarto minúsculo para que ela se redima em relação à deus. E o filme ainda mostra mais: num reino escolar, por mais que existam câmeras em cada corredor, os adolescentes vão ser e permanecer cruéis até onde for possível. Não há escrúpulos para esses jovens que se acham imortais e no direito de agir com ignorância para qualquer um. Adultos crescem ranzinzas com vidas medíocres graças ao que receberam na época de estudantes. A telecinese, no fim, não é um dom divino ou satânico concedido para a menina. É fruto de uma vida frustrada por todos os lados.
A direção segura de Brian DePalma transforma Carrie, A Estranha nesse clássico que é atualmente. Transitando entre diversos planos e ângulos de uma câmera intimista, mostrando aos poucos o universo onde a protagonista se esconde, através de uma divisão da tela para que o caos de Carrie reine em mais de uma visão, DePalma cria um show de horrores na tela. Parte desse show vem de poderes fortes nas mãos de uma garota estranha e instável, que após sofrer a humilhação do mundo decide dar o troco. O resto do espetáculo fica com a censura de uma adolescente absolutamente normal. Betty Buckley, que faz uma professora preocupada com a atitude das outras pessoas para com Carrie, mostra o quanto esse espetáculo chega a ser horrível, já que ela bate numa tecla que volta com mais força. O limite do ser humano é a morte, já que em vida ele não consegue achar seus próprios limites para a precaução.
Preconceito, medo, bullying, humilhação. Essas palavras podem estar presentes no dia-a-dia de cada pessoa, pessoas que guardam inconscientemente um trauma correspondente dessas ações infames. Uma brincadeira pode gerar uma chacina no fim das contas. Essa temática forte misturada com atuações estupendas de Sissy Spacek e Piper Laurie, junto com uma estética e direção impecáveis e um roteiro excelente, escrito originalmente por Stephen King, gerou Carrie, A Estranha. O filme é simples: bailes de formatura, vida escolar, problemas em casa. Mas só mesmo uma combinação dessas com o suspense para transformar um filme de Sessão da Tarde num terror atemporal.
NOTA: 8

10 comentários:

Ricardo Morgan disse...

Um marco do cinema 'horror'! Sua refilmagem é bem fraca!

Rodrigo disse...

Ótimo filme. DePalma em sua melhor forma e uma Spacek estupenda. E grande análise, também. Abraços.

Alan Raspante disse...

Cheguei a ver trechos da refilmagem e só. Peciso conferir este, ainda mais contendo a direção de DePalma.

[]s

Andinhu S. de Souza disse...

Eu achei esse filme bem médio. Foi o primeiro DePalma que assisti. A única coisa que vale a pena é a fantástica seqüência final. Da a impressão que o filme é só aquilo, e tudo foi feito e preparado para aquela cena, E mais nada.

Diego S. Lima disse...

Okay cara, vlew..também acabei de colocar seu link no meu blog, e estarei sempre aqui!

Em relação ao filme, foi um dos primeiros filmes que eu me lembro de ter assistido na vida..!Lembro que gostei, depois disso ainda não assisti, não sei se irei gostar, mas sou fã incondicional do DePalma, isso ajuda.

abraços!

Cine Mosaico disse...

Ainda não vi.
Mais um para minha lista.

:: Lippe Martins ::

Anônimo disse...

Pelo amor! Carrie é um ótimo filme, sempre me divirto com as canalhices que a coitada sofria.
Mas certamente me divertia mais em suas vinganças um "tanto" apelativas.
Como sempre um ótimo texto, Gabriel!
Abraços

Anônimo disse...

Com certeza este filme na minha opinião é dos clássicos,estou tentando indica-lo para as pessoas mais jovens.
Estou falando do filme de 1976,o mais recente, 100 comentários....

Anônimo disse...

Com certeza este filme na minha opinião é dos clássicos,estou tentando indica-lo para as pessoas mais jovens.
Estou falando do filme de 1976,o mais recente, 100 comentários....

Anônimo disse...

Eu sei que aqui estamos falando de ficção,mas algumas pessoas não praticariam bullyng com ninguem após assistir este clássico.................