Bravura Indômita é um filme bastante inesperado. Depois de Um Homem Sério, não passava pela minha cabeça que o próximo projeto de Joel e Ethan Coen seria uma refilmagem de um clássico de 1969. Não esperava mesmo que uma renovação do gênero de faroeste pudesse dar tão certo. E, de um elenco que conta com Matt Damon, Josh Brolin e o ganhador do Oscar de melhor ator do ano passado, Jeff Bridges, não esperava que a melhor atuação do longa fosse a da desconhecida Hailee Steinfeld, que carrega um peso forte nas costas de sua personagem caricata. Não esperava muita coisa dessa obra, então minha surpresa foi imensa ao me deparar com uma volta do faroeste misturado às técnicas conhecidas dos Coen.
Mattie Ross (Hailee Steinfeld) é uma menina de 14 anos que acaba de perder o pai, graças ao assassino Tom Chaney (Josh Brolin), que estava trabalhando para a família. Após matar o pai de Mattie, ele foge com um cavalo e as duas barras de ouro da Califórnia. Mattie, obstinada em ter sua vingança, vai até Arkansas procurando o assassino do pai. Sabendo que ele cruzou a linha do território indígena, ela decide vender os pertences do pai para contratar alguém para perseguir Chaney. Assim ela conhece Rooster Cogburn (Jeff Bridges), um xerife beberrão e rabugento, e o paga para acompanhar na viagem até a vingança. Porém, no meio do caminho, ambos se juntam ao Texas Ranger LaBeouf (Matt Damon).
É uma reinvenção do filme com o livro original, junto das técnicas aguçadas dos irmãos Coen. Ao adaptar a obra com humor negro e com diálogos fortes e memoráveis, o filme pode não ser exatamente o estilo que se espera dos diretores, mas é evidentemente um filme deles. Os diálogos, carregados com um forte sotaque regionalista dos Estados Unidos e com uma diversão conferida pelas discussões de uma garota jovem com homens bem mais velhos, junto com a reação a ações inesperadas com um profundo descaso apenas confirmam a ótima direção da nova versão de Bravura Indômita. A fotografia, completa com seus tons amarelos misturados num cenário desértico estonteante, os figurinos contrastando com as paisagens e a sonoridade do filme aumentam o aspecto de Velho Oeste que ele promove no espectador, um espectador que ficará encantado na sessão de uma história simples e antiga, com moldes atuais remetendo à década de 60. Toda a estética do filme é feita para isso, reviver um gênero que poderia estar apagado agora em meio a ficções e thrillers.
Por mais que o filme seja um show em sua técnica, a atuação é outro fator que contribui para o sucesso do remake. Matt Damon e Josh Brolin tem uma interpretação competente e desempenham um papel importante na trama com eficácia, nada além disso, embora ambos tivessem uma característica própria baseada num estereótipo. O filme se sustenta em Hailee Steinfeld, a menina de 14 anos que conseguiu surpreender nesse seu trabalho forte, da criança motivada que pode gerar estranhamento em sua personalidade. A única busca da menina é baseada em sua cultura de poder vingar a morte do pai, e não há desistência possível. Por mais que ela seja mais responsável que os dois atores com quem contracena na maior parte do filme, não se pode apelidá-la de adulta, pelo simples fato de que ela não larga as características infantis de sua personagem. Outro sustento para o filme é o cômico Jeff Bridges, que entre resmungos e risadas, consegue entreter um público sedento por ação, que espera a sessão inteira para vê-lo disparar uma arma em tons canastrões. A personalidade da menina fica com falta de alguém após perder o pai, e ela consegue atribuir essa figura faltante ao xerife. Percebe-se no filme uma afeição entre ambos, que poderia ser mais do que uma simples amizade.
Não é um filme forte, não é um drama característico, não tem a pressão psicológica nem um roteiro tão bem feito e envolvente quanto a de outros filmes atuais. O que Bravura Indômita tem é um entretenimento ao mostrar a inversão de papéis num ano politicamente incorreto segundo os costumes atuais. Mas o que esperar além disso de um faroeste? Não há lei no Velho Oeste, e essa menção ao sistema antigo está presente na essência da película. É uma aventura que mostra o quão longe iria alguém por vingança, o quanto se pode criar um apego pela pessoa mais ríspida num coração amargurado, que tudo o que vai, volta. E ainda faz mais. O filme dos Coen renova o gênero esquecido há muitos anos e mostra que o público ainda paga para ver um faroeste.
NOTA: 9
Não é um filme forte, não é um drama característico, não tem a pressão psicológica nem um roteiro tão bem feito e envolvente quanto a de outros filmes atuais. O que Bravura Indômita tem é um entretenimento ao mostrar a inversão de papéis num ano politicamente incorreto segundo os costumes atuais. Mas o que esperar além disso de um faroeste? Não há lei no Velho Oeste, e essa menção ao sistema antigo está presente na essência da película. É uma aventura que mostra o quão longe iria alguém por vingança, o quanto se pode criar um apego pela pessoa mais ríspida num coração amargurado, que tudo o que vai, volta. E ainda faz mais. O filme dos Coen renova o gênero esquecido há muitos anos e mostra que o público ainda paga para ver um faroeste.
NOTA: 9
4 comentários:
Adorei o filme, e a fotografia merece o Oscar. Só não gostei muito da atuação de Jeff Bridges, porém a Steinfeld está brilhante. Abraços.
Interessante esse filme, eu confesso que deixei pra ver no telão – mas, não esperava que fosse gostar tanto. Sim, gostei bastante! Engraçado que eu achava que iria me emocionar com 'Inverno da Alma' e foi este que assumiu uma força maior.
Na verdade, grande parte, ao meu ver, do fascínio que esse filme exala é por conta da inspirada atuação de Hailee Steinfeld. Um absurdo a Academia indicá-la como coadjuvante, visto que seu personagem tem função de Atriz principal, sabemos disso. Mas, enfim, ela que merece o Oscar, e não Melissa Leo. Mas, duvido que seja vencedora…de qualquer forma, vai ser mais indicada, tem tudo pra crescer. A menina nos hipnotiza em cena.
Acho que Jeff Bridges está soberbo e muito melhor que Colin Firth por “O Discurso do Rei” (ok, não desmereço nenhum dos concorrentes, pois a categoria está forte esse ano), mas sejamos sincero: seu papel aqui é mais denso e complexo que o do “Coração Louco”, hein? Mas, não será premiado não. Ainda assim, é uma personificação marcante! E concordo, ele está melhor que John Wayne. Na realidade, eu nem gosto do filme original. E nem vejo esse como um remake, mas é.
Josh Brolin, mesmo que em tão pouco tempo em cena, consegue mostrar que é um ator mais maduro. Gostei de Damon também, mas o filme é de Hailee e Brigdes!
Abraço
Espero ficar satisfeito com o filme, como você ficou. Não sou grande fã do gênero e dos Coen. Portanto, irei ver meio que às 'cgeas', rs
Enfim, vamos ver o que me aguarda :)
O velho calado no final do filme é o Texas Ranger LaBoeuf??
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