Um filme de Debra Garnik com Jennifer Lawrence e John Hawkes.
O filme tem uma trama que poderia ser boa, não nego. Afinal, o filme todo se baseava na força de uma personagem, já que os únicos atrativos das cenas são a fotografia escura e um cenário cruel de um retrato estadunidense real. E essa parte entre cenas e atuação deu certo, mas a história se tornou muito arrastada. Com a força de Jennifer Lawrence no papel da protagonista, o filme começa estabelecendo uma sessão familiar bem diferente da esperada, mostrando um lado cru dos Estados Unidos que a indústria Hollywoodiana esquece de mostrar e coloca, ao invés dela, apenas o brilho de Nova York, Chicago ou Califórnia. Admiro a simplicidade no roteiro e o objetivo de colocar em voga o lado esquecido da maior potência mundial - afinal, ela não é toda a promoção que fazem nela. Mas, no fim, a simplicidade que antes parecia um atrativo se torna um obstáculo para a carga do filme.
Ree Dolly (Jennifer Lawrence) é uma adolescente que vive numa região montanhosa no centro dos Estados Unidos e tem de carregar toda a sua família nas costas. Ela tem uma mãe doente e dois irmãos menores completamente dependentes de uma figura, atribuída a irmã já que o pai não esteve presente na vida dos filhos por cuidar de seu tráfico de drogas. Um dia, um policial bate na porta de Ree, avisando que o pai está foragido e que, se ele não voltar para a delegacia, a polícia tomará toda a casa e o bosque pertencentes a Ree, já que o pai deixou isso como garantia de sua condicional. A partir daí, Ree começa uma busca pelo pai desaparecido para não ter de deixar sua família. O problema é que seus próprios parentes a impedem de continuar a procura.
A atuação é fantástica mesmo. Jennifer Lawrence dispensa comentários, está excelente em seu papel. Sua personagem é a alavanca que move o filme. Como ela é a força motivadora de toda a obra, ela precisava de uma boa carga dramática, o que Lawrence tem de sobra. Imagine uma adolescente que rege toda a casa, tem de cuidar de uma mãe incapaz e dois irmãos que ainda não entendem o suficiente para um grau de independência. Ter de trabalhar cortando lenha para sobreviver, ver que o dinheiro não é suficiente para sustentar a família, ter de dormir em poltronas por falta de uma cama, ter de rezar para encontrar uma caça que alimente os familiares. Já é uma vida sofrida. Mas ver que um familiar importante na formação dessa família, porém ausente nesse período, deixou todo o sustento de uma vida como garantia de sua condicional é demais para ela. E ainda ver que ninguém a ajuda, ainda mais pelos laços de sangue que regem todos, é para sofrer. Ree Dolly ainda vai além. Enfrenta todos os familiares, que fazem parte de uma imensa máfia, nem que isso possa lhe significar uma morte rápida e, consequentemente, a morte da mãe e dos irmãos. Mas ela ainda vai atrás. Ter de suportar um peso desses, a vida na imensa precariedade e a ignorância dos familiares para com o caso, não é para qualquer um. Jennifer Lawrence tira de letra.
Vemos até onde ela iria por todas aquelas pessoas que não dariam nada para ela. Ela corre atrás de respostas do pai em toda a sua árvore genealógica, mas nenhuma resposta é dada. Porque ela continua correndo atrás? Se importa tanto assim com o pai? Na verdade, ela não daria nada pelo pai. Nem por qualquer outra pessoa da família que não convivesse com ela diariamente e criasse, no caso, um verdadeiro laço familiar. A importância da família no filme é tratada não com crueldade, sim com realidade. Não é toda família que é estereotipada ao passo de não acreditar na crueza de um homicídio em família. A família é tratada com verdade no filme em meio às relações conturbadas de um retrato implacável do verdadeiro Estados Unidos, e não do mundo empresarial e de cabaret que a mídia promove. Um ótimo exemplo do filme é o incrível John Hawkes, que faz Teardrop, o único familiar que acaba entendendo a sangria da sobrinha para encontrar o pai. Mas não pense que esse entendimento é tratado com amor, longe disso. Fora isso, ainda há o clima pesado e tenso que o filme produz com seu cenário denso numa região montanhosa, as diversas culturas de um país com imensa densidade, a fotografia escura com tons azuis para lembrar a frieza que a película traz e até a trilha sonora, variando entre o country tradicional e alguns toques de banjo, trazem a melancolia e a mesmice da região.
Não vá esperando uma superprodução, muito menos uma fuga da realidade através de efeitos. O filme preza por ser real ao extremo e por ser redondo, acabando no mesmo ritmo maçante do início. Inverno da Alma tem o crédito de ser um filme absolutamente real e imprime essa mensagem para o público através de uma simplicidade estonteante na elaboração do roteiro e de uma veracidade desagradável. Assim como em Biutiful, serve para acabar com uma visão perfeita de um lugar imperfeito ao mostrar a realidade crua. Mas não funciona com a mesma sintonia do longa espanhol. Concordo que o filme tem atuações dignas de Oscar. Agora se ele em si é o bastante para uma indicação ao melhor filme, são outros quinhentos.
NOTA: 6
4 comentários:
Quero muito conferir pela atuação de Lawrence e claro, pelo 'hype' que se criou. Mas o filme está com uma crítica negativa pela maioria, pelo visto, vale mesmo pelas atuações e nem pelo 'pacote completo'. Enfim, espero conferir em breve para ter a minha opinião! rs
[]s
Concordo integralmente com seu texto, e acho que o filme se sustenta na ótima e perfeita atuação de Lawrence. Realmente, se ela vencesse o oscar, eu nem me espantaria. Mas, achei desnecessário a indicação de Hawkes - ao meu ver, Andrew Garfield por "A Rede Social" que merecia ser indicado, não ele.
No mais, é um filme mesmo mediano.
Abraço!
Não vi o filme, mas fiquei curioso. Muito bom o seu blog e já favoritei. Depois visite o meu: www.lixeirodocinema.blogspot.com
Um abraço
E achei bom o filme! ótima atuação da garota, fotografia incrivel; mas achei o final fraco, esperava algo mais forte, mais chocante!
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