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11 de dezembro de 2010

Educação (2009)

Um filme de Lone Scherfig com Carey Mulligan, Alfred Molina e Peter Sarsgaard.

Um roteiro super simples com atuações super simpáticas e uma fotografia muito agradável, seguida de uma trilha sonora belíssima. E uma ideia assim deu tão certo, não faço ideia como. Já faz algum tempo que estou querendo conferir o aclamadíssimo Educação, mas porque todos falam e não porque o roteiro me cativou. A ideia me parece simples demais e sem qualquer aprofundamento, idiotice minha pensar assim. É um retrato já colocado tantas vezes em voga que parecia algo que já tinha visto, mas é mais que isso. É o peso da educação numa sociedade moralista e patriarcal, é a única chance de ascensão social para uma mulher na Inglaterra dos anos 60, é o sacrifício da diversão para um martírio que é o estudo incansável até uma faculdade conceituada pelo povo britânico. E é a desbanalização de uma história de amor muitas vezes já cansativa de tanto que é apresentada.
Jenny (Carey Mulligan) estuda numa escola conservadora ao extremo, tira as melhores notas da classe, faz parte da orquestra de sua escola tocando violoncelo e se esforça ao máximo para poder entrar em Oxford. Todas essas tarefas são observadas atentamente por seu pai Jack (Alfred Molina), que só pensa no esforço da filha para poder entrar na universidade; não deixando, assim, um espaço de tempo para Jenny ouvir jazz e falar francês, suas únicas obsessões. Num dia, Jenny conhece David (Peter Sarsgaard), a personificação da maravilhosa vida que tanto queria: um homem culto que frequenta concertos de jazz, vai a leilões de obras de arte, tem amigos interessantes e viaja pelo mundo. A partir de seus encontros com o homem, Jenny entra num dilema em sua vida entre sua educação tediosa e uma vida que sempre quis, regada a diversão.
A atuação é estupenda. Peter Sarsgaard faz um homem cativante do começo ao fim do filme. Gostei muito da atuação de Alfred Molina, que sempre alegra os filmes que faz, e criou um pai rigoroso e preocupado com um humor irônico pra década atual, mas com uma veracidade incrível pra década de 60. Cara Seymour, que faz a mãe de Jenny, Marjorie, também está ótima no papel da mãe passiva. É o retrato da mulher bem sucedida, que se casa com uma educação, virando dona-de-casa. O inverso de seu papel seria Helen, interpretada por Rosamund Pike, uma mulher elegantíssima, amiga de David, mas com nenhuma educação aparente, vivendo a base de uma vida de glamour e jóias. O inegável é que a maior atuação do filme é da novata Carey Mulligan, indicada para o Oscar de melhor atriz. Tendo que carregar um papel tão caricato nas costas, ela o faz com maestria, levando o filme com uma simplicidade e leveza dignos. Sua Jenny beira o auge dos sentimentos de uma adolescente inconformada com sua vida.
O filme traz uma lição um pouco moralista, concordo, mas necessária. Quanto vale uma educação? Vale uma fuga de uma vida árdua para obter sucesso, uma fuga sem volta? Vale um confronto direto com uma sociedade machista que não dá valor as mulheres, um confronto até com a sociedade feminina passiva da época, que se submete às vontades masculinas? Vale uma vida jogada fora? Vale um amor? A educação é a coisa mais importante da vida das meninas interessadas em Oxford, que planejam uma vida incrivelmente tediosa (esse é o retrato que eu faço da vida que Jenny planeja: uma vida em Paris, fumando um cigarro e escutando jazz sem qualquer atrativo a mais). O amor acaba com a vida de uma adolescente inocente e ingênua aos poucos, que é facilmente influenciada quando lhe oferecem uma vida diferente da que vive. E é tão fácil aceitar essa proposta, o difícil é se arrepender depois que a sedução se torna um pesadelo e querer voltar para um lugar em que ela cuspiu por ir contra suas vontades passageiras.
Educação é belíssimo, simples, divertido. Nenhuma cena pode ser jogada fora como foi a vida e os sonhos de Jenny. Outro aspecto interessante é o desperdício dos sonhos da menina. Enquanto, nas cenas finais, David se mostra capaz de fazer sexo com facilidade com qualquer uma e levar a Paris qualquer menina, Jenny ainda queria se guardar virgem para alguém especial. Impossível depois que tudo já está feito. O que resta para ela é tentar reconstruir seus sonhos quebrados num passado sombrio, o que ela consegue fazer ao fingir que nunca foi à França, ao esquecer esses resquícios de sua, então, curta vida. A obra é o peso da educação na tela, e o peso do amor. Colocando os dois numa balança, quem será que ganha? O que me responde isso é o diálogo da ótima Olivia Williams, que faz professora de Jenny, ao dizer que nenhuma jóia ia arruinar a vida de nenhuma garota naquela sala, senão o anel na mão esquerda da protagonista. A fotografia e a trilha sonora do filme se completam nas cenas magníficas nos subúrbios de Londres ou em ruelas de Paris.
Um belo filme com belas atuações com um belo roteiro. Esclarece simplesmente sua lição nos primeiros momentos explorando a inocência de uma jovem de 17 anos, que não experimentou o amor em sua vida. É um retrato excelente da década de 60, uma década cheia de submissão e rigor, passividade e farsas, sonhos, desejos e rompimentos, brigas e desinteresses. Mas além de tudo, uma década onde a educação era mais que necessária.
NOTA: 9

5 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Filme grandioso e belissimo mesmo, acho que merecia maiores indicações no OSCAR. Sem dúvida, Carey merecia mais o Oscar que Sandra Bullock - além de que ela atua tão emocional no filme que é difícil não nos identificarmos com a sua fragil personagem...

seu texto mostra bem a essência do filme!

Abraço!

chuck large disse...

Como você bem pontuou: simples e cativante em sua proposta!

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Amigo, ia te convidar para uma parceria, mas acho que esse ato já diz tudo. Te indiquei a um prêmio para blogueiros. Dá uma lida no link.

=)

http://cinebuli.blogspot.com/2010/12/premio-dardos.html

bruno knott disse...

Sem dúvida a Carey Mulligan mereceu a indicação ao oscar... atriz fantástica.

Tb curti bastante o filme.

Abraços.

Emmanuela disse...

Eu amei esse filme, simplesmente singular!