Um filme de Almodóvar com Cecilia Roth, Penélope Cruz e Marisa Paredes.
Adoro quando eu conheço as marcas de um diretor. Tarantino, por exemplo, gosta de usar suas referências a cultura pop e cores vivas em seus filmes. Stanley Kubrick gostava de um terror psicológico com um misto de confusão e dúvida em suas obras enigmáticas. E não há como negar que um filme é de Hitchcock quando você vê as maiores variações de um thriller que mexe com a mente. O estilo de Almodóvar é o meu favorito, porque foge de qualquer risca clichê que vemos atualmente. Ele não finaliza situações, não se empenha em criar cenas de estofo se forem desnecessárias, utiliza-se de uma fotografia espetacular e isso faz com que ele crie tantas cenas quanto possível em menos de duas horas, deixando o filme com um gostinho de "quero mais" e conseguindo caracterizar e trabalhar mais a essência dos personagens.
Manuela (Cecilia Roth) vive em Madrid com seu filho, um aspirante a escritor, e trabalha na doação de órgãos. Na noite do aniversário de 17 anos de seu filho, ela o leva para ver "Um Bonde Chamado Desejo", estrelada pela atriz Huma Rojo (Marisa Paredes). Após a peça, o filho tenta pegar um autógrafo da atriz, mas é atropelado e morre. Em profunda depressão e em luto por seu filho, Manuela decide que o pai dele deveria saber da morte e vai à Barcelona contar-lhe do acontecido. Mas no caminho, ao invés de encontrar com o pai, Lola (Toni Cantó), ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), um amigo de velhos tempos, além de conhecer a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.
Entrou na lista das melhores atuações que eu já vi. Para terem uma ideia, a mais insossa do filme é Penélope Cruz. Cecilia Roth está absolutamente fantástica, me senti no lugar dela durante todo o filme e o poder de comoção que ela tem é incrível. Marisa Paredes é outra que me chamou a atenção, esplêndida. Tenho que dizer o quanto gostei de Antonia San Juan por mais exagerada que fosse sua atuação, a explicação se dá por ser um travesti estabanado e exibido, além de dar todo o humor do filme. A fotografia é belíssima. Uma coisa que pensei em atribuir foi o fato do filme explorar o perfeccionismo no travestismo, a cena de Toni Cantó chorando é linda.
É um ótimo roteiro. Uma situação nova é explorada em cada cena que se passa, só aumentando a dor de Manuela e a tensão do público. E todo o relato da vida infeliz e interligada dos personagens é viciante, por menos simpatizantes que sejam. Almodóvar criou personagens únicos em seus defeitos e qualidades que cativam o público facilmente com seus jargões. Ainda mais: além de ser uma história triste, Antonia San Juan promove um show de humor tal que barra qualquer comédia escrachada atual.
Tudo Sobre Minha Mãe é divertido, com uma história surreal e instigante. Consegue emocionar e fazer rir sem perder o seu caráter. Consegue criar estereotipos sem se utilizar de clichês. Consegue ter aquele visual de filme independente e agradar a todos, além de ter uma fotografia que nem uma câmera amadora estragaria. E tudo, o modo que a história é contada, seus protagonistas e coadjuvantes, tudo, tudo, tudo, é pra se olhar e dizer: esse aí é um Almodóvar. E um dos melhores de Almodóvar.
NOTA: 9
2 comentários:
Ao lado de Má educação = é um dos meus prediletos de Almodovar! abraço
Conheci recentemente seu blog. Gostei de seus reviews, bem escritos. Agora quanto à atuação da Penelope devo discordar de vc. Creio que é uma ótima atriz e Almodóvar consegue seu melhor nas atuações. A história dela de menina ingênua e sofrida me convenceu e me comoveu bastante, como quando ela encontra o pai na praça e este lhe faz perguntas como que para conhecê-la. Lindo. Abraços
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