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4 de setembro de 2010

O Porco Espinho (2009)

Um filme de Mona Achache com Josiane Balasko e Garance Le Guillermic.

Nunca tinha chorado com um filme. Imagine com o filme e com o livro juntos. O Porco Espinho é uma obra belíssima que questiona exatamente a nossa felicidade. Seus personagens são criaturas que conseguem pensar diferente dos demais e não querem viver na igualdade embora os outros vivam neste aquário ilusório sem nem perceber e é isso que os torna cultos, inteligentes - e incrivelmente infelizes. E eles tem razão para viver infelizes? Acho que o contrário que deveria ser questionado tendo em vista tudo o que o filme passa: será que nós, os peixes da "felicidade", temos razão para vivermos felizes?
Paloma Josse (Garance Le Guillermic) é uma menina de 11 anos que abomina sua existência de garota rica em sua família rica num prédio de luxo de Paris. Com várias dúvidas sobre o quão feliz é a vida dos outros que fingem a felicidade e sobre a própria felicidade, ela resolve se matar no dia em que ela completará 12 anos. No mesmo prédio dela, temos  Renée Michel (Josiane Balasko), uma viúva infeliz cuja única preocupação é manter um estereotipo de concierge para que ninguém veja que debaixo de sua couraça se esconde uma mulher culta que lê de Tolstói à Feuerbach. Mas, num dia, surge um novo morador no prédio, o senhor Kakuro Ozu (Togo Igawa), que faz com que Paloma se questione sobre o valor da vida e que Renée repense sobre sua extrema solidão.
Ótima atuação. Não sabia de quem esperar mais, da boa Josiane que leva o filme numa seriedade impecável e engraçada em certos momentos, ou da ótima Garance que consegue criar a garota esperta, questionadora e fechada em todas as suas ações. Não engoli Togo Igawa, algo na atuação dele não descia, acho que por ser macio demais e por ser o único ser pensante feliz do filme. Os diálogos, fiéis ao livro, são ótimos. É espantoso ouvir da boca de uma garota de 11 anos uma comparação entre a psicanálise e o cristianismo. Bela fotografia e excelente trilha sonora.
É um ótimo roteiro. O fato de ser baseado num livro não estragou a mágica de cada momento vivido pelas duas protagonistas que se identificam com o porco espinho: com uma proteção por fora, mas por dentro encantadoramente belas e enigmáticas. E embora ele tivesse tudo para ser um filme acabe com seus preconceitos e estereotipos, num final feliz e clichê, ele acaba sendo perturbador, e consegue ainda ser sutil com toda essa perturbação. E ainda conseguiram a façanha de equilibrar e juntar todas as partes do filme através de diálogos e ações, nada fica injustificado. Exceto o brilhante final, que fica por conta do espectador.
Certo, é um drama fácil. Mas do mesmo modo, é uma filosofia. O Porco Espinho cria situações dóceis que levam à pensamentos sobre o valor da vida e da morte, sobre a nossa felicidade infundada e sobre a nossa infelicidade gritante, que já está junto a nossa essência. Sabe, o que importa não é como se morre e sim como você estava quando morre. E você já está pronto para a morte ou ainda precisa estar preparado para essa situação natural, nem trágica nem bela?
NOTA: 9

3 comentários:

chuck large disse...

Gabriel, excelente crítica fera!
Este era um filme desconhecido para mim e olhando este cartaz, sinceramente "não dava nada" pelo filme, mais olha fiqueiimpressionado com a sinopse e o tamanho da dramaticidade. Fiquei com muita vontade de ver, espero que consiga achar em alguma locadora!

Cara, estou de endereço novo. Minha conta havia sido hackeada.

Abs,
cigarrosefilmes.blogspot.com

Lima disse...

Vou assistir a este, mas não posso deixar de perguntar... Existe algo de "O lobo da estepe" nesta obra? Ou foi só impressão minha?

Gabriel Neves disse...

boa pergunta, pois nunca vi O Lobo De Estepe, mas quando eu conseguir verei e te falo :/