Um filme de Mona Achache com Josiane Balasko e Garance Le Guillermic.
Nunca tinha chorado com um filme. Imagine com o filme e com o livro juntos. O Porco Espinho é uma obra belíssima que questiona exatamente a nossa felicidade. Seus personagens são criaturas que conseguem pensar diferente dos demais e não querem viver na igualdade embora os outros vivam neste aquário ilusório sem nem perceber e é isso que os torna cultos, inteligentes - e incrivelmente infelizes. E eles tem razão para viver infelizes? Acho que o contrário que deveria ser questionado tendo em vista tudo o que o filme passa: será que nós, os peixes da "felicidade", temos razão para vivermos felizes?
Paloma Josse (Garance Le Guillermic) é uma menina de 11 anos que abomina sua existência de garota rica em sua família rica num prédio de luxo de Paris. Com várias dúvidas sobre o quão feliz é a vida dos outros que fingem a felicidade e sobre a própria felicidade, ela resolve se matar no dia em que ela completará 12 anos. No mesmo prédio dela, temos Renée Michel (Josiane Balasko), uma viúva infeliz cuja única preocupação é manter um estereotipo de concierge para que ninguém veja que debaixo de sua couraça se esconde uma mulher culta que lê de Tolstói à Feuerbach. Mas, num dia, surge um novo morador no prédio, o senhor Kakuro Ozu (Togo Igawa), que faz com que Paloma se questione sobre o valor da vida e que Renée repense sobre sua extrema solidão.
Ótima atuação. Não sabia de quem esperar mais, da boa Josiane que leva o filme numa seriedade impecável e engraçada em certos momentos, ou da ótima Garance que consegue criar a garota esperta, questionadora e fechada em todas as suas ações. Não engoli Togo Igawa, algo na atuação dele não descia, acho que por ser macio demais e por ser o único ser pensante feliz do filme. Os diálogos, fiéis ao livro, são ótimos. É espantoso ouvir da boca de uma garota de 11 anos uma comparação entre a psicanálise e o cristianismo. Bela fotografia e excelente trilha sonora.
É um ótimo roteiro. O fato de ser baseado num livro não estragou a mágica de cada momento vivido pelas duas protagonistas que se identificam com o porco espinho: com uma proteção por fora, mas por dentro encantadoramente belas e enigmáticas. E embora ele tivesse tudo para ser um filme acabe com seus preconceitos e estereotipos, num final feliz e clichê, ele acaba sendo perturbador, e consegue ainda ser sutil com toda essa perturbação. E ainda conseguiram a façanha de equilibrar e juntar todas as partes do filme através de diálogos e ações, nada fica injustificado. Exceto o brilhante final, que fica por conta do espectador.
Certo, é um drama fácil. Mas do mesmo modo, é uma filosofia. O Porco Espinho cria situações dóceis que levam à pensamentos sobre o valor da vida e da morte, sobre a nossa felicidade infundada e sobre a nossa infelicidade gritante, que já está junto a nossa essência. Sabe, o que importa não é como se morre e sim como você estava quando morre. E você já está pronto para a morte ou ainda precisa estar preparado para essa situação natural, nem trágica nem bela?
NOTA: 9
3 comentários:
Gabriel, excelente crítica fera!
Este era um filme desconhecido para mim e olhando este cartaz, sinceramente "não dava nada" pelo filme, mais olha fiqueiimpressionado com a sinopse e o tamanho da dramaticidade. Fiquei com muita vontade de ver, espero que consiga achar em alguma locadora!
Cara, estou de endereço novo. Minha conta havia sido hackeada.
Abs,
cigarrosefilmes.blogspot.com
Vou assistir a este, mas não posso deixar de perguntar... Existe algo de "O lobo da estepe" nesta obra? Ou foi só impressão minha?
boa pergunta, pois nunca vi O Lobo De Estepe, mas quando eu conseguir verei e te falo :/
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