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23 de agosto de 2010

Quanto Vale Ou É Por Quilo? (2005)

Um filme de Sérgio Bianchi com Caco Ciocler e Lázaro Ramos.

Uma ironia ao preconceito gritante que existe na nossa sociedade. Adorei o filme porque é choque o tempo inteiro, falsidade pra lá e pra cá, mostra uma hierarquia social brasileira que faz parte do nosso dia a dia. E o melhor de tudo, é verdadeiro. Todos os duas-caras, todos os riquinhos que contraem uma síndrome de benevolência ao longo da vida, todos os desvios de dinheiro público que já viraram algo comum atualmente, todos os problemas enfrentados por aqueles que realmente querem fazer o melhor para ajudar, e tudo tratado com um sarcasmo tão grande que a lição surge da falta de lição.
A história segue paralelamente entre dois tempos distintos: primeiramente, mostra a época da escravidão, alguns casos que ficaram registrados e mostram toda a tortura realizada nessa época. Depois disso, mostra a história no presente de Arminda (Ana Carbatti), uma mulher que luta para que o objetivo de sua ONG seja realizado: que a periferia ganhe um projeto de informática e que ganhe computadores decentes. Porém, no meio de sua luta, ela vira um estorvo para Ricardo Pedrosa (Caco Ciocler), que contrata um matador para eliminá-la. Entre esses dois tempos, uma situação se mostra familiar: a de Candinho (Silvio Guindane), um homem que para poder ficar com o filho faria qualquer coisa. Baseado no conto Pai Contra Mãe, de Machado de Assis.
Bela atuação. Adorei os contrastes apresentados entre a figura sarcástica e "boa" do homem, na pele de Caco Ciocler, e a da verdade em sua forma mais humana e animalizada, na forma de Lázaro Ramos. Porém uma coisa que eu acho bem perigosa é a ironia, porque você tem que fingir duas vezes, e umas dessas vezes tem que ser bem implícita do que se está fazendo. Muitas vezes no filme, se utilizaram do sarcasmo e da falsidade exagerada na tela, o que achei que se encaixou perfeitamente com o filme.
Adoro o roteiro assim como o conto de Machado. A ironia excessiva utilizada nele é que faz o filme ficar interessante e chocante ao mesmo tempo. Tenho que reconhecer uma pérola nacional quando vejo uma, e infelizmente tenho que reconhecer que não é muito conhecida. Tudo no filme inspira uma forma de se pensar na vida atual e ver que não há um contraste muito grande entre a atualidade e a escravidão, seja com as indiretas usadas pelas propagandas de televisão ou por Ana Carbatti mostrar a verdade explicitamente para as telas. É chocante ver as cenas sobre racismo, escravidão e maus tratos. Belos diálogos, bela fotografia.
Quanto Vale Ou É Por Quilo? traz a perfeição desde o seu título. É um filme feito para a gente pensar. Pensar na nossa realidade e na nossa escravidão diária, afinal todos somos escravos do mesmo sistema. E isso fica claro como a água na fala de Lázaro Ramos: "O que vale é a liberdade para consumir. Essa é a verdadeira funcionalidade da democracia". Ou será que ele estava interpretando um presidiário por uma grande ironia do destino, uma ironia maior do que essa filme apresentou?
NOTA: 8

Um comentário:

Alan Raspante disse...

Não conhecia este filme, mais cara, fiquei com muita vontade ver logo!
Pelo visto é um filmão..!