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20 de novembro de 2011

Toda Forma de Amor (2011)

Um filme de Mike Mills com Ewan McGregor, Mélanie Laurent e Christopher Plummer.

Uma vida triste, com traumas infantis, com uma descoberta no mínimo chocante, com a perda de um ente querido. Todas essas emoções extremistas mergulham o desenhista Oliver (Ewan McGregor) num furacão sentimental que o carregam a um mar de depressão. A própria tristeza o afeta de forma latente e acaba interferindo em seu trabalho e em sua vida pessoal. Numa viagem constante ao extremismo emocional, seus amigos acabam levando-o a uma festa que muda sua vida: lá ele conhece a atriz Anna (Mélanie Laurent), uma moça impulsiva, engraçada e feliz que faz o triste coração bater mais rápido. Ao passar os dias com ela numa frequência cada vez mais longa, Oliver começa a lidar não só com o amor presente, mas com o amor passado mostrado numa relação carinhosa com o pai, Hal (Christopher Plummer), nos últimos dias antes da morte dele. E nos aproximados 105 minutos de sessão, nenhuma pergunta paira no ar, apenas a paixão representada na tela. Não necessariamente da forma mais doce ou da mais bonita ou da mais ardente mostrada num filme. Mas excessivamente a mais real.

Em meio a lições de vida constantes, somos apresentado de cara com a situação de Oliver. Após o fim do matrimônio, o pai de Oliver se assume gay com 75 anos para viver a vida livre que os anos de casamento heterossexual não o permitiram. Aos poucos Oliver acaba se aproximando mais desse pai verdadeiro, desse espírito livre que saiu de suas amarras moralistas para poder viver, e assim cria uma nova figura diferente do homem que estava ausente em sua infância. A proximidade de Oliver com Hal é bela, de uma fraternidade comovente. Em comparação, há o amor que ele sente por Anna. Vivendo na dúvida das suas emoções, Oliver acaba se entregando a essa paixão louca pela moça desconhecida e começa a jogar o jogo dela. E a relação de entrega e de diversão fica explícita na face dos dois personagens. Oliver é muito passional, e esse seu comprometimento ao pé da letra com as batidas de seu coração são as coisas que o estragam e o fazem feliz. O fazem feliz perto do amor, o estragam longe dele. Mas não é assim com todos, no fim das contas?

A melancolia é exposta pelo lado do protagonista, e é difícil sair da imagem que ele propõe ao espectador desde o início do filme, por mais que esteja cercado de amor e comprometimento. O comportamento e os olhares do triste Ewan McGregor - aqui, numa atuação boa e bastante crível - não permitem o público sair da zona depressiva e ir ao emocionalmente perfeito conto de amor que outros clichês da comédia romântica vendem. Para contrapor o personagem, temos mais duas atuações incríveis, uma de Mélanie Laurent, que sempre é uma boa surpresa; e de Christopher Plummer, que rouba a cena com seu carisma e bom-humor, na melhor atuação do longa. O longa, afinal, é baseado completamente na história de Mike Mills, cujo pai também saiu do armário aos 75, 5 anos antes de morrer. A direção então prefere closes mais intimistas com os personagens, com filmagens num escuro cuja fotografia se dá apenas por um pequeno foco de luz de abajur ou de raios do sol entrando timidamente num ambiente negro. Aliás, a fotografia do filme, feita por Kasper Tuxen, tem seu tom acinzentado que aproxima a sensação da realidade e da depressão. Mas, mesmo com as atuações belíssimas e a direção segura, o que transforma Toda Forma de Amor num verdadeiro filme completamente passional são os diálogos fáceis, mas profundos. O sentimento escapa das palavras, das bocas dos atores e atinge em cheio o público no momento certo, do modo certo.

Num dos diálogos do filme, Oliver pergunta ao pai porque se casou com a mãe dele sabendo que era gay. O pai disse que a mulher sabia de sua opção, mas que não importava, que queria se casar com ele do mesmo jeito. Não são poucos os romances com a mesma fórmula de Toda Forma de Amor. O que realmente o difere de qualquer outro conto amoroso é a riqueza dos detalhes, causando uma aproximação mais factual do público. A trilha sonora não é composta por canções alegres, mas por baladas depressivas. A direção foca em planos escuros e não convencionais, em não linearidade, em narrações em off, foca mais no que foi do que no já está sendo. O filme inteiro parece um flashback. O roteiro foca num protagonista que, por mais encantado que esteja, não está numa realidade fictícia do felizes para sempre. Toda Forma de Amor é algo tão tangível para o público que chega a ser fofo e delicioso, algo que o espectador que vê o filme de Mike Mills sente de verdade e não é obrigado a sentir devido às idealizações cinematográficas do romance clichê. Ver o filme vale a pena, vale o sentimento, vale o romance. Até porque, tudo é apenas a representação da vida.

NOTA: 7

10 comentários:

Kamila disse...

Já tinha ouvido falar no filme, mas esta é a primeira crítica que confiro sobre ele. Parece ser somente uma obra mediana, mas assistiria do mesmo jeito, especialmente por causa do elenco.

Alan Raspante disse...

Já tinha lido algo antes e tinha ficado extremamente curioso. Sua nota foi bastante mediana, mas o texto ainda conseguiu me deixar mais curioso =)

[]s

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Ô, amigo, eu queria gostar mais desse filme. Não simpatizei nem um pouco... Vi-o em uma maré ruim, será que é por isso? Vou rever e ver se estarei contigo nesse opinião.

Abraço.

p.s.: apesar de eu não ter AMADO "Inquietos", acredite: é um filme MUITO "fofo".

David Iannini disse...

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Abraço! Boa Sorte!

Película Criativa disse...

Acabei de ver esse filme, é uma delícia de assistir.

Rodrigo Mendes disse...

Ótimo texto sempre pontual e crítico Gabriel. Deve ser gostoso curtir esta fita sem muito compromisso. Tá valendo!

Mélanie Laurent me despeetou interesse desde que ficou famosa na fita do Tarantino.

Ewam McGregor é um ótimo ator que já se aventurou em quase todo tipo de filme ou mesmo em todo tipo! Também gosto do Christopher Plummer, um veterano em cena já vale um ingresso.

Obrigado pela dica ;)

Abs.

Emmanuela disse...

Poxa, parece que estou por fora. Ainda não tinha ouvido falar desse filme que, de acordo com suas palavras, parece ser bem prazeroso apesar do drama inserido em uma comédia romântica. Vou conferir!

O Neto do Herculano disse...

Gostei bastante do filme,
gostaria de vê-lo na tela grande.

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Realmente me parece interessante. Quero ver, com certeza.

Andinhu S. de Souza disse...

Vi que vc tinha feito uma crítica para o filme e agora que ja asssiti voltei pra lê-la. Bom, achei que o filme tem uma grande premissa, uma grande proposta, mas infelizmente é irregular demais, e o que era pra ser emocionante não funciona pela falta de fluxo do filme as vezes. Plummer está ótimo mas não o escolheria como a atuação coadjuvante do ano. o resto, além da sempre fofa Mélanie, é esquecível.