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19 de outubro de 2011

Rent - Os Boêmios (2005)

Um filme de Chris Columbus com Adam Pascal, Rosario Dawson e Idina Menzel.

Anos 80. Anos de liberdade sexual, de liberdade sexual, do advento da AIDS. Anos que deram abertura para a vida boêmia. Nessa época de orgias e fantasias, onde o impulso grita mais alto do que a razão, como se pode sobreviver na sociedade capitalista, enquanto a divisão bipolar mundial se destroça? Como se sobrevive de sonhos, de aventuras, da música, do cinema e da arte sendo tudo alternativo, nada midiático? Perto dos ideais de não vender nada do que vem do coração e dos desejos, acompanhamos de perto um grupo de jovens com ideias na cabeça prontas para prática, sem medir as consequências dos atos e vivendo o ápice da boêmia. Mark Cohen (Anthony Rapp) é um jovem cineasta que filme tudo por onde anda. Seu maior problema é o relacionamento amoroso com Maureen Johnson (Idina Menzel), sua ex-namorada que agora tem uma relação com Joanne Jefferson (Tracie Thoms), uma advogada. Mark divide o apartamento com Roger Davis (Adam Pascal), um guitarrista que acabou deprimido após a morte de sua namorada e após descobrir que possui o vírus do HIV. Mas, a morte da namorada de Roger não impede os flertes constantes entre ele e sua vizinha, Mimi Marquez (Rosario Dawson), uma dançarina. Tanto Mark quanto Roger são ex-colegas de apartamento de Tom Collins (Jesse L. Martin), um gênio da computação que é apaixonado pela drag queen Angel (Wilson Jermaine Heredia).

Rent é um turbilhão de ideias e sentimentos coloridos variadamente para dar vida a características pessoais de amantes da arte, de amantes das ruas, de amantes da vida. Além de conflitos amorosos e amigáveis, ainda há uma batalha maior que é o a arte consumista, é o capital engolindo a beleza da simplicidade. O papel fica por conta do jovem idealizador corrompido pelo gosto do poder, Benjamin Coffin (Taye Diggs). Mas para suprir essa batalha física, ainda há as tensões emocionais vividas por cada um. Roger tem de aguentar o peso de sua namorada morta, aguentar o peso de seguir em frente, aguentar o peso de poder morrer a qualquer hora, de ter a vida baseada nos horários do AZT. Paralelamente, Mimi tem que aguentar o peso das drogas, de ter a necessidade de algo para lhe fazer bem e colocar substâncias ilícitas completando essa lacuna. Aguentar amar e não ser amada, e assim consumir cada vez mais. O casal, vivido por Adam Pascal e Rosario Dawson, é o que mais chama a atenção, tanto pelas cenas intimistas quanto pelo foco que o diretor Chris Columbus coloca em ambos. Veja e ouça ao mesmo tempo um flerte coletivo que ambos fazem no escuro, enquanto dialogam cantando Light My Candle. Depois de algum tempo, as músicas acompanham o relacionamento do casal em evolução. Prova disso é I Should Tell You.

"Hoje é pra você, amanhã é pra mim!". Disputando o centro das atenções, o elenco feminino duela bravamente com o masculino, e no fim todos saem iguais. Maureen tem a atitude e o sex appeal, enquanto Joanne e Mark cativam com características próprias de seus personagens traídos - uma cena especial é, por exemplo, o Tango Maureen, uma dança de traição interpretada deliciosamente por Tracie Thoms e Anthony Rapp. Mas Angel, de um modo ou de outro, rouba a cena. Talvez pelo destaque de sua personagem que sempre chegou a ser benevolente e foi um exemplo para os outros até quando não estava presente. E ele brilha na tela com razão, já que não é em todo filme comercial que um homem aparece vestido de peruca e salto alto, cantando canções amorosas. A trilha sonora e o roteiro, ambos do musical original de Jonathan Larson são divertidos e se adaptam ao tom emocional da sessão. Um grande problema presente em Rent é sua duração, com mais de duas horas, coisa difícil de aguentar atualmente. Mas são duas horas que acabam valendo a pena no fim com tanta beleza provinda da vida difícil de Nova York. A fotografia sempre clara de Stephen Goldblatt é o caos emocional vivido, são cores duelando na tela, um duelo de vermelhos vivos, de amarelos brilhantes e verdes gritantes.

Rent não é apenas um musical, é um filme de luta. É uma luta constante para poder conseguir manter seu talento vivo. É uma luta para achar igualdade, para achar aceitação. É uma luta para poder sobreviver de qualquer modo, seja na doença, seja na sociedade. Uma luta que vale bastante a pena ser acompanhada pelos boêmios idealizadores que se encontram em cada vielas com um talento inaproveitado. O elenco, numa sintonia invejável para interpretar todas as músicas, faz parte do original apresentado na Broadway, com exceção de Rosario Dawson e Tracie Thoms. As vozes estão afinadas e as músicas são diálogos interessantes, pontes necessárias para o funcionamento de um todo. Rent é a personificação da essência humana que permanece jovem em se interessar pelos seus princípios, que não se cansa até conseguir o que pretende e é interessada, desbocada e inocente. É a castidade da bravura, é viver o hoje e, caso ele chegue, viver o amanhã também. Mas uma dica? Vejam o musical se tiverem chance, é preferível ao filme. E viva La Vie Bohème!

NOTA: 8

9 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Grandioso musical, ainda que um filme pequeno, ao meu ver é um dos melhores que personofica a juventude libertária e libertina...da juventude que quer viver o hoje, amar e experimentar o prazer real da vida. A direção de Chris é correta, mas muito eficiente sim. O elenco se destaca, as canções grudam fáceis na mente, acho esse filme incrível! É um dos meus preferidos, sem dúvida. Teu texto está ótimo, só discordo quanto a duas coisas: a duração, não acho ele longo, tem um tempo correto. E a sua nota, eu dou 9! rs!

abração!

Hugo disse...

Tem curiosidade em ver, mas ainda não tive oportunidade.

Abraço

Unknown disse...

Teu texto tá muito bom, excita a vontade de assistir o filme, mas sinceramente,compartilho de algumas ideias suas, mas acho esse filme ruim, não me convence, acho fake, sabe? Talvez seja impressão minha, vi tem tempo...mas nem sei se quero repetir...

Abs!

Alan Raspante disse...

acredita que eu aluguei esse filme duas vezes e nessas duas vezes eu não consegui ver o final? ai que ódio! quando eu estava adorando, entrar no clima, o filme vai e empaca...

preciso ver (e rever)... o final!

[]s

Kamila disse...

Uma pena que um musical tão legal, que funcionou de forma perfeita na Broadway, tenha ganhado uma adaptação cinematográfica tão ruim!

renatocinema disse...

Amigo indiquei seu site para uma colega de marketing. Se der certo te aviso.

Abraços

Adecio Moreira Jr. disse...

Por mais incrível que possa parecer, nunca assisti RENT, embora já conheça a história, algumas curiosidades, elenco, e até certas canções-chaves, acredita?

Sempre temos um filme assim, né. Sabemos muito, mas nunca conferimos.

Rodrigo Mendes disse...

Podemos chamar de uma versão musical de "Bonecas Russas" e "Albergue Espanhol"?

Um filme interessante. Um projeto bem diferente do diretor Columbus que só havia feito filmes familiares.

Ótimo texto, pontuando muito bem a premissa com base crítica.

Abraço.

Maxwell Soares disse...

Ainda não vi este. Um amigo já havia indicado. Agora ao ler teu texto fique com mais vontade de vê-lo. Valeu...