Pages

1 de setembro de 2011

Super 8 (2011)

Um filme de J.J. Abrams com Joel Courtney, Riley Griffiths e Elle Fanning.

Antes de Steven Spielberg começar a fazer filmes como A Lista de Schindler, Resgate do Soldado Ryan ou E.T., ele fazia filmes com seus colegas. Usando apenas um filme de Super 8mm, ele criava aventuras e exibia por 25 centavos em sua casa. Alguns anos mais tarde, outro diretor premissor fazia o mesmo processo de criação com um filme Super 8mm. Agora, muitos anos depois das filmagens amadoras de ambos, ocorre uma parceira nostálgica não só para o público, mas para os dois diretores. Temos aqui Super 8, um filme que traz de volta toda uma nostalgia típica do auge dos anos 80 com ficção científica de primeira e que promete bastante para não decepcionar o público, principalmente o que pôde viver a época em que a obra é retratada.

Joe Lamb (Joel Courtney) é um garoto que vive na cidade de Lillian, Ohio. A data específica é 1979, Heart of Glass é um sucesso nas rádios e ele acaba de perder a mãe num acidente numa fábrica. Enquanto ele tem de viver com a perda brusca da figura materna, ainda deve aguentar as crises violentas do pai, Jackson Lamb (Kyle Chandler), que agora se dedica ainda mais para sua profissão de policial. O garoto, após o luto, retoma seu filme amador gravado em Super 8 que estava fazendo com mais 5 amigos. Numa noite, as 6 crianças fogem de casa para gravar numa estação de trem. Tudo corre bem até que ocorre um descarrilamento de um trem, que liberta uma criatura perigosa que estava sob proteção do governo. As crianças, como testemunha, procuram saber cada vez mais do que realmente está por trás de tanto mistério.

O filme possui uma narrativa atraente e apresenta logo de início o drama principal. Um grupo de garotos que se preocupa em terminar o filme de zumbis para participar de um concurso. Um menino que acabou de perder a mãe e, obviamente, era bastante apegado a ela. Um homem que acaba tomando a imagem de culpado pela morte da mulher. Depois são-nos apresentados as características dos personagens. Um garoto tímido, um gordinho mandão, um magrelo esquisito, um baixinho piromaníaco, um nerd medroso. E, por fim, uma garota cheia de atitude, a filha do culpado pela morte da mãe do protagonista. O principal conflito está estabelecido, até porque percebe-se que Joe sente algo por Alice, a personagem de Elle Fanning. Então vem a preparação. Durante 15 minutos o filme nos prepara para um clímax ainda maior, para tudo até então ter virado secundário, para as 6 crianças adentrarem num mundo até então desconhecido e que irá fascinar o espectador. E ocorre a cena do descarrilamento. E não minto aqui, cena belíssima, feita com uma precisão, efeitos, iluminação esplêndidos. É impossível tirar os olhos da tela enquanto o trem se despedaça e explode, caindo enquanto os personagens fogem. E toda essa sequência contagia a plateia com uma euforia do que virá, que dura por um bom tempo.

Até que o ritmo de Super 8 diminui drasticamente para explorar recursos que já tinham sido utilizados em outros filmes, como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, E.T. ou Os Goonies, os clássicos dos anos 80 que marcaram a época. Do modo que J.J. Abrams nos apresenta seu cinema, nota-se as semelhanças com Spielberg na primeira olhada: o clímax, o desfecho, a lição, não há como não se lembrar de E.T.. Aí está um trunfo de Abrams, que é usar a nostalgia a seu favor. Recriar um ambiente de 3 décadas atrás e emocionar com uma história bonitinha os jovens e emocionar os adultos com lembranças saudosas. O problema está em quem não se emociona e nem viveu essa época, e assim o filme se torna um clichê atrás do outro no meio de um tempo onde os filmes investem na originalidade e não na reconstrução.

O filme possui uma fotografia bem explorada na ambientação que fez dos anos 80, isso graças à Larry Fong, tudo bem claro e mostrando bem o caos estabelecido na cidade de Lillian. E a trilha sonora de Michael Giacchino funciona muito bem trazendo o público de volta aos filmes épicos de Spielberg. O elenco é ótimo. Kyle Chandler faz o policial amargurado que se torna um workaholic, Ron Eldard faz o bad boy que consegue dar medo em criancinhas, Noah Emmerich faz o general psicótico. Mas quem realmente se sobressai é o elenco infantil do longa-metragem. A timidez de Joel Courtney o deixa ainda mais dentro do seu personagem obstinado, mas inseguro. E percebe-se seu conforto no personagem, em conseguir colocar todo o expressionismo juvenil na figura de Joe Lamb. Riley Griffiths traz um humor na pele do garoto mandão, e é ótima sua caracterização. E nem há o que falar de Elle Fanning, confundi-a com Dakota muitas vezes no longa para então lembrar que quem estava interpretando a corajosa Alice era a irmã da Fanning veterana. Pelo jeito, o talento está na família.

Numa opinião extremamente pessoal, o cinema é uma arte que tem a marca da contemporaneidade desde seu nascimento. Obras como Metrópolis ou Cidadão Kane fizeram o melhor que podiam para se adaptar às suas respectivas épocas e se tornarem clássicos. Assim como uma época já foi a de Spielberg apresentar ao mundo seus filmes de alienígenas invasores que emocionaram o mundo. Não consigo ver nada errado no filme de J.J. Abrams, ainda mais porque ele é belíssimo. Lindo visualmente, tem um roteiro que, por mais que não surpreenda o público, o entretém. Além disso, a direção é segura e conseguiu ambientar todo o visual do filme nos anos 80. O grande problema é que Super 8 é um filme temporal e, infelizmente, não é deste tempo.

NOTA: 6

9 comentários:

Rodrigo Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo Mendes disse...

Gostei de seu texto, sobretudo da introdução abordando curiosidades a parte.

Quanto ao filme, eu gostei, daria um 8! É um bom divertimento de matinê e serve mesmo apenas como homenagem. Concordo com você que ele esta temporal e pode parecer estranho não ver as crianças de celulares, rs! Mas no geral - salvo pela Elle Fanning - é realmente 'fun'!
Tudo bem que o Alien poderia ser melhor.

Abraço

Rafael W. disse...

Estava com o pé atrás sobre este filme, mas me surpreendi bastante. Do ponto de vista nostálgico, é um dos mais excitantes dos últimos anos.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Filme interessante sob diversos aspectos. Concordo com sua nota, mas se formos olhar emotivamente falando, o filme é muito envolvente, a gente se deixa levar. Fora que é uma ótima homenagem interessantíssima aos clássicos Sci-Fi!

Kamila disse...

Eu adorei "Super 8". Considero uma das mais agradáveis e melhores surpresas do ano cinematográfico de 2011. Achei uma obra nostálgica, com elementos de Spielberg, mas que olha pra o passado para mostrar o futuro.

Thiago Priess Valiati disse...

Confesso que não gostei do filme. Achei muito superestimado e muito clichê. De um 10, daria nota 6,5.
Abraços!

cleber eldridge disse...

O melhor do filme é seu clima oitentista ... mas J.J Abrams deixou a desejar, poderia ser melhor.

bruno knott disse...

Pelos elogios que você fez achei que a nota seria maior.

Pelo o que entendi sua decepção com o filme se dá pelo exagero na nostalgia... só vou poder comentar isso qdo de fato assistir ao filme, mas a principio acho bacana relembrar esse cinema aventura a la Spielberg dos anos 80.

Belo texto!

Abraços.

Rodrigo disse...

Gostei de Super 8, mas concordo que tá meio deslocado. Aliás, desculpe por ter sumido rs. Abraços.