Pages

3 de abril de 2011

Chicago (2002)

Um filme de Rob Marshall com Renée Zellweger, Catherine Zeta-Jones e Richard Gere.

Bem vindos a um retrato irônico da sociedade atual. A crescente onda de violência no mundo está aqui arraigada no lado de criminosas que almejam apenas uma coisa: fama. Se a liberdade vier com isso, melhor. Nem sempre o reconhecimento vem seguido de uma arte, de uma consequência de um trabalho árduo, a não ser que homicida seja uma profissão a partir de agora. E o desejo aqui não é calado. Desde o começo, Chicago mostra uma obsessão na fama, no brilho e no glamour. Seus personagens querem ser vistos, não importando a façanha. A combinação entre essas pessoas, uma peça famosa dos anos 70, bom humor e um ritmo envolvente de jazz em meio ao alegre ambiente de vedetes resulta numa experiência musical única, vista pouquíssimas vezes nos últimos anos.
Roxie Hart (Renée Zellweger) é uma ex-corista que faria tudo para ver seu nome brilhando em manchetes e em letreiros, já que seu sonho é a fama adquirida por meio de seu estrelato no showbiz. Ela é capaz de cometer adultério compulsivamente para se igualar a seu ídolo, a famosa vedete Velma Kelly (Catherine Zeta-Jones), que acaba com seus shows após matar a irmã e o marido. Quando Roxie vê que seu amante não ajuda seu desejo a se realizar, ela o mata e vai parar na prisão feminina, onde encontra Velma. A hierarquia da cadeia é fácil de ser entendida, já que Mama Morton (Queen Latifah), a corrupta diretora da prisão, estabelece logo o lugar de cada uma. Roxie percebe que a única chance de sair é comprando Mama Morton para que ela lhe consiga Billy Flynn (Richard Gere), o advogado que promove as assassinas e as torna em queridinhas da mídia.
A promoção de crimes se torna um fator importante para o bom funcionamento do musical. Em certa cena a personagem de Queen Latifah diz que, em Chicago, crime é entretenimento. O sarcasmo que exala das cenas seguintes confirma isso. Com um bom humor, o personagem de Richard Gere trata todo o espetáculo da mídia e do julgamento como um ato de circo, de modo que, por mais que as assassinas não apareçam mais na mídia após os julgamentos, ele sempre se sobressaia e continue em alta no mercado graças a sua promoção em cada caso que leva. A inteligência de Billy é um contraste com a sede de Roxie. Após matar o amante e aparecer nas capas de jornais, ela percebe que seu sonho se realizou. Não do modo que planejava, mas o resultado foi o mesmo. E assim que viu seu nome sendo falado por toda a cidade, ela não quer mais voltar atrás como a menina ordinária e sonhadora. Assim que pega uma fatia, Roxie deseja agora o bolo inteiro. A diversão se confirma nos números seguintes. Na cena em que Billy se mostra um ventríloquo e Roxie, junto com os repórteres, se mostram as marionetes, o sarcasmo se firma numa autopromoção feita a partir da "indústria" criminalística, que cria uma nova "atração" para o mundo a cada homicídio.
Tudo de Chicago é deslumbrante, mas há alguns problemas em sua execução para o cinema. A peça da Broadway se tornou uma peça da Miramax, já que Chicago se mostra mais teatral do que cinematográfico durante suas quase 2 horas. Isso não se torna um problema no geral, já que é até agradável para o espectador que vai ao cinema para ver o filme brilhante ganhador de 6 Oscar. Mas com brilhante eu não digo que é genial, mas que ele brilha. Tudo dentro do filme brilha, - os cenários variados entre uma casa de shows especializada e uma penitenciária feminina, as roupas que mostram o máximo possível das principais dançarinas, as músicas que se encaixam no tom irônico trazido pelo longa - mas alguns aspectos conseguem retirar o êxito obtido por essa obra criminosa.
Se o filme fosse apenas um drama, talvez Renée Zellweger teria se sobressaído em sua atuação composta apenas por caras e bocas variadas e uma ingenuidade até engraçada para o funcionamento da trama. Mas, como o filme é um musical e a protagonista é a desengonçada Zellweger, não há muito aproveitamento nas cenas em que ela aparece cantando e dançando. Catherine Zeta-Jones se mostra perfeita durante o filme, que acaba se tornando um show para ela mesma, no auge de seu talento e de sua força, mostrando sua técnica para dança e canto numa oposição drástica à Renée. Nas cenas em que ambas aparecem juntas e dançando, é difícil olhar para Zellweger com uma Zeta-Jones possuída pela espírito do jazz logo a seu lado. A cena que mostra bem isso é onde Velma, personagem de Catherine, canta I Can't Do It Alone, onde faz uma apresentação solo e mostra que sim, ela consegue fazer isso sozinha. John C. Reilly se mostra um peso para a parte musical do filme, mas isso faz sentido por ele ser o corno sem-jeito, sua falta de talento e excessivo carisma são críveis. Queen Latifah se mostra com boa presença, mas muito mal aproveitada na parte em que deveria. É difícil classificar Richard Gere em algum lugar. Ele é canastrão demais para apenas uma drama, mas estereotipado demais para um musical descontraído. Em toda a cena que ele aparecia, em meio a sapateado e canto, ele me parecia bastante fora da atmosfera do filme.
Após o sucesso estrondoso de Moulin Rouge no mundo, os musicais voltaram à ativa. Reciclando uma peça de fama inegável da Broadway e a reproduzindo nas telas imensas com um elenco de peso e uma teatralidade e canastrice ainda maior na representação de cenas e personagens, Chicago confirma a premissa de que os musicais voltaram. Não com tanta força para ecoarem com o mesmo sucesso da volta, - os fracassados Nine e Burlesque provam que nem essas duas pérolas do início do século conseguem reviver a aura do vaudeville por muito tempo - mas o bastante para divertir um público faminto por qualquer fonte de entretenimento, vindo ela de músicas animadas, coreografias bem boladas, um elenco de peso e um visual remetendo ao cabaret; ou de assassinatos autopromotores.
NOTA: 8

10 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

É inegável que o filme não seja uma obra-prima musical, nem passa perto, é verdade. Porém, numa revisão mais atenta aos detalhes, eu percebi o quão forte e sensual é esse musical, contagia muito! Muito mesmo. Ainda mais pelas músicas e uma interpretação carregada e perfeita de Catherine Zeta-Jones, ela estava realmente inspirada ali, por isso a Academia providenciou seu Oscar. Talvez o único de sua carreira.

Odeio Renée Zellweger, mas aqui ela convence bastante e até Richard Gere é aceitável. Mas, bem verdade, no lugar dele deveria estar um tal de Hugh Jackman, por exemplo, imagine ele no papel de Flynn? rs

Eu gosto de "Chicago" e acho melhor que muitos musicais antigos que cinéfilos preferem endeusar...

Aguarde meu texto, sairá em breve, rs!

Abs!

Torcida 5 Estrelas disse...

Gostei de "Chicago", mas concordo com o Cristiano: não é obra-prima. Os números musicais são legais, tem seu encanto, são bem coreografados e o filme explora um contexto interessante, mas prefiro "Moulin Rouge"!

Abs!

Cine Mosaico disse...

Depois de Moulin Rouge, não consigo gostar de mais nenhum musical. =(

Rodrigo disse...

Primeira vez que vi, admito, caí no sono. Mas numa revisão acabei gostando mais. Porém, não é uma maravilha nem merecia tanto reconhecimento. Abraços.

Alan Raspante disse...

Gosto de "Chicago" e o filme tem suas qualidades. Mas não é de longe o meu favorito ou um deles... mas é bacaninha, hehe

abs.

Diego S. Lima disse...

Acho que não é o melhor dos musicais, mas está quase ali, eu gostei bastante, mesmo. E prefiro ele a alguns clássicos, que claro, merecem reconhecimento por questões como originalidade e pioneirismo, mas Chicago é bem superior a eles como arte. Comigo funcionou!

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Se eu fosse cotar esse filme, certamente seria 5 estrela ou nota 8,5. Foi dito por um dos comentaristas que o filme "passa longe de uma obra prima". Discordo totalmente. O filme não se afasta tanto assim de uma obra-prima. Conheço bem o trabalho do Marshall, especialmente seus trabalhos com peças do Bob Fosse, esse musical, uma adaptação delas. Gosto DEMAIS de Chicago, e minhas ressalvas são as mesmas que as suas: as atuações. De resto, o filme é BOM DEMAIS.

Zellweger não é boa atriz, mas gosto da voz dela cantando.

Não gosto de Gere como ator de musical. Tive a oportunidade de ver uma pequena montagem de "Smokey Joe's Cafe" com ele no elenco, e acredite... não sai disso não.

Zeta-Jones é um arraso. Simplesmente um arraso.

Abraços, rapá!

Rodrigo Mendes disse...

É um divertido, dark, sexy e ótimo musical. Mais pelo elenco, figurinos, direção de arte, coreografias (do mestre Bob Fosse) e as canções que encantam os divertidos números musicais.

Fazia tempo que não aparecia um musical das antigas. O defeito só é mesmo o script de Condon.

Renée Zellweger, Catherine Zeta-Jones e Richard Gere brilham em seus papéis lindamente.

Abs.
RODRIGO

Rodrigo disse...

Te recomendei pra receber um selo blog de qualidade. Vai no meu e pega, pra daí seguir as regras. Abraços.

Andinhu S. de Souza disse...

Cara, adoro esse filme é talvez o melhor musical da década, se eu for tirar o Dançando no Escuro.

Até a Queen Latifah se saiu bem hehehe. Nossaaa...a cena da coreografia dentro da prisao interpretada por Zeta-Jones é sem palavras...Adoro