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13 de março de 2011

Bruna Surfistinha (2011)

Um filme de Marcus Baldini com Deborah Secco e Cássio Gabus Mendes.

Qual o motivo de tanto estardalhaço ao redor do filme Bruna Surfistinha, feito a partir do diário de uma prostituta? Uma combinação inteligente para atrair público num filme bem feito, mas que não chega a ser uma pérola do cinema nacional. Ao criar no filme uma atmosfera altamente sexual num mundo precário e desordenado já explorado muitíssimas vezes pela cruel indústria cinematográfica, que o mostra com mais crueza ainda; e colocar uma atriz global no papel principal, dona de um dos mais belos corpos da televisão brasileira, o longa metragem vira mais do que uma biografia nas telonas: vira, também, um objeto de consumo para a obtenção de um tesão impregnado no filme, por mais que nenhum aspecto sexual seja exibido de forma explícita no relato da garota de programa.
Pouco antes de seus 18 anos, Raquel Pacheco (Deborah Secco) fugiu de casa para adquirir uma independência que não tinha no ambiente familiar e, sem rumo na vida, vira uma garota de programa de pseudônimo Bruna Surfistinha. Ao dividir suas experiências sexuais num diário mantido num blog, Bruna adquire uma fama instantânea e se torna uma prostituta notória.
A prostituição é trabalhada de uma forma bastante convencional esteticamente no longa, por mais que a abordagem, em geral, chegue a ser diferente. O mundo da prostituição é retratado na mais pura decadência, repleto de uma malícia verdadeira, e criando um paralelo ao mundo das drogas. Mas, diferentemente de outros filmes que usam do tema para fazer uma crítica e mostrar a todos que a venda do corpo é um caminho perdido e pecaminoso, Bruna Surfistinha mostra que prostituição é um caminho como qualquer outro. Nas quase 2 horas de duração, Bruna luta, com uma vontade ferrenha, para adquirir tanto um respeito em meio a sua decadência, seguindo seus próprios instintos, e sua independência financeira. Porém, é sempre bom se lembrar que a cada caminho que se toma, ninguém está livre das consequências provindas daí. As motivações da protagonista se perdem em meio à narrativa. Suas explicações para as ações subsequentes são insuficientes e não conseguem convencer um público faminto, ansiando por expectativas.
Deborah Secco mostra aqui que consegue segurar sua atuação em um trabalho duplo, primeiro mostrando insegurança, depois exalando sexualidade. Nos primeiros minutos do filme, Raquel era uma menina fechada e introspectiva, usando roupas longas que escondiam seu corpo e uma franja que escondia seu belo rosto marcado por seu passado injusto - em sua própria visão de mundo e razão em relação a sua família adotiva e ao bullying que sofria na escola. Depois, perto do fim, não há mais características daquela menina que aparece no início do filme, há apenas uma mulher que aparenta ser segura, mas está fragilizada internamente devido ao caminho escolhido. Sua personagem tem uma força de vontade imensa dentro de si, isso é inegável. A história de Bruna não é a melhor para se ilustrar e se ter como exemplo, ainda mais porque suas razões são pequenas e sua vida é caótica, por mais que ela apresente um orgulho de seus atos, atos esses que podem taxá-la de ninfomaníaca. Afinal, a busca maior de Bruna é conseguir um dinheiro e se afastar da dependência. Mas quando se pode unir o bom do dinheiro próprio ao agradável do sexo incansável, porque não fazê-lo? Há ainda Cássio Gabus Mendes, que faz o primeiro cliente de Bruna Surfistinha e que tenta tirá-la de sua vida caótica e desordenada, e faz um dos vários contrastes racionais da personagem principal numa atuação segura e firme, por mais que pouco apareça na sessão.
Nesse filme nacional, temos um diretor estreiante que surpreende ao misturar closes e planos para mostrar a sexualidade de forma completamente despojada e banal, temos uma atriz principal que surpreende por sua caracterização na forma de Bruna, temos uma trilha sonora agradável e que coloca ainda mais tons depressivos no filme, ao misturar a tensão das drogas e o ambiente débil da prostituição com a melodia calma e melancólica do Radiohead. Porém, o que o filme mostra não é uma reflexão para as pessoas aprenderem o quanto a vida se prostituindo é árdua, isso fica em segundo plano. O filme é um entretenimento para pessoas que anseiam por sexo e querem ver o mais próximo de Deborah Secco de um nu frontal, já que foge de explicações e conclusões, e mostra, num roteiro que poderia ter sido melhor explorado, uma pessoa instintiva que, por mais que caia, ainda insiste em levar tombos.
NOTA: 5

5 comentários:

Alan Raspante disse...

De fato, o filme tem uns fios soltos e aquele final em aberto é um tanto decepcionante. Mas bem, não consigo imaginar outra coisa também... Raquel ainda tá viva, né? hehe

Acho que pelo fato de ser conduzido por um diretor estreiante está de bom tamanho. Tantos outros com carreira sólida fazem coisas mais medíocres, mas entendo sua argumentação.

abs.

Cristiano Contreiras disse...

Ainda não conferir. Meu interesse é mais por conta de Deborah Secco mesmo, ao meu ver ela é uma ótima atriz.

Abraço!

Rodrigo disse...

Ótimo texto. Assim como você, também achei que o longa explica muito mal os motivos dela. Mas Secco e Mendes estão muito bem. Abraços.

Rafael W. disse...

Filme completamente irrelevante e inútil.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Cine Mosaico disse...

Eu gostei do filme. Não esperava outra coisa, além do bom desempenho da Deborah Secco e de todo o elenco de apoio. Já que a intenção não era mostrar as motivações que levaram Raquel a se prostituir (até porque ela não tinha nenhuma motivação "aceitável" para isso), o filme cumpre bem a proposta de mostrar o cotidiano dessas garotas. Ainda que esse tipo de biografia não seja agradável para todo o público, não podemos questionar a qualidade do filme.

:: João Linno ::