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17 de fevereiro de 2011

127 Horas (2010)

Um filme de Danny Boyle com James Franco.

Para mim, Danny Boyle é um dos melhores diretores da atualidade. Vi poucos filmes dele até agora, mas que fizeram valer a pena o tempo de duração e que sempre surpreendem por uma direção diferente feita em cima de um roteiro que poderia se tornar um fiasco se não colocado em mãos certas. Foi exatamente isso que ocorreu com seu sucesso de 1996, Trainspotting, pois duvido que algum outro diretor pudesse ironizar com tanto bom-humor uma história de jovens viciados em heroína. 127 Horas é o nome da vez. Indicado a 6 Oscar, incluindo o tão cobiçado melhor filme, é o típico filme que poderia não ser esse sucesso todo. Não é todo mundo que consegue criar uma história onde o cenário e a situação são constantes, e mesmo assim se caracterizar como um filme tenso. Isso já foi visto em 2010 em outro filme, Enterrado Vivo, com Ryan Reynolds. Mas o que não tinha nele, 127 Horas tem de sobra: humor, que é conferido por Boyle e por um grandioso James Franco.
Baseado em fatos reais, o filme segue contando a história de Aron Ralston (James Franco), um alpinista que, em maio de 2003, teve o braço preso numa fenda na região montanhosa de Utah, Estados Unidos. O drama que ele passou nas suas 127 horas preso na pedra são indescritíveis nesse relato incansável por uma esperança de sobrevivência, que mistura passado, presente, memórias, possibilidades e redenções.
A direção de Boyle é um grande diferencial. Visões inusitadas entre cenários belíssimos de uma região pouco explorada dos Estados Unidos são o mínimo que ele pode oferecer para um público sedento de uma história tensa. E ele consegue criar tensão e mais um pouco na história real de Aron Ralston. Todo o drama criado para a situação de um membro preso numa pedra se junta, amigavelmente, com emoções conferidas pelo personagem principal através de lembranças, memórias, revelações e planos futuros. Arrependimentos rodeiam o espectador no relato de 5 dias cheios de emoções fortes, e quando se menos espera vem a cena mais aguardada do filme, que está fazendo pessoas vomitarem e desmaiarem ao redor do mundo. E acho desnecessário ressaltar que boa parte da densidade dessa tal cena é culpa de uma câmera envolvente que não perde nenhum momento. Cenas vistas através de garrafas d'água quase vazias, pela visão de uma terceira pessoa inexistente e, principalmente, de uma filmadora que capta momentos de puro êxtase até uma tristeza profunda são instigantes e completamente necessárias no filme, que também tem uma ótima edição.
Por mais que os enquadramentos e planos do filme sejam ótimos para manter o público entretido num roteiro que poderia se tornar cansativo facilmente, nada seria a mesma coisa sem o segundo diferencial do filme, que é um excelente James Franco na melhor atuação de sua carreira. Ele consegue manter um ritmo invejável ao longo dos 90 minutos de duração sem perder uma graça irônica e uma esperança quase cega que o mantém vivo em sua luta por sobrevivência, e isso tudo sem sair do personagem. A batalha entre vida e morte do protagonista nos leva para dentro das telas para ter de sofrer tudo o que ele sofre. E o terceiro diferencial do filme é uma carga forte do próprio Aron Ralston, encarnado na figura de James Franco, passando uma mensagem clichê de uma forma bem mais marcante: nunca desista. A esperança e a vontade do personagem de conseguir reviver os melhores momentos e consertar os erros da vida são enérgicas, agora que ele já consegue visualizar um possível fim nessa situação inusitada que se encontra. E tudo é acompanhado e regido por músicas rápidas de um A.R. Rahman - que também já compôs para Boyle a trilha sonora de Quem Quer Ser Um Milionário? - e ainda seguidas pela deliciosa voz da cantora Dido, acentuando toda a tensão vista durante a obra com a música If I Rise.
E aqui temos mais uma obra forte. A força de vontade do personagem é intensa como a excelente atuação de James Franco, que, se não fosse por Colin Firth, seria meu favorito para um Oscar merecidíssimo de melhor ator. Por mais que não haja uma mudança no cenário, o diretor tenta fazer, com sucesso, o longa ficar o menos maçante possível, explorando diversos meios para inovar seu filme. Danny Boyle não decepciona como diretor ao retratar uma história cujo peso só aumenta ao se revelar baseada em fatos reais. E o peso dessa história é maior que uma pedra de uma tonelada. Porém, ambos cumprem o dever: retratar uma vida cheia de erros, que nunca é tarde demais para ser revertida.
NOTA: 9

4 comentários:

Alan Raspante disse...

Gosto de Boyle por 'Trainspotting' e 'Quem quer ser um milionário', mas por algum motivo não fiquei tão motivado com esse seu último filme. Não sei, simplesmente não fiquei tão afim quanto a outros filmes desta safra do Oscar. Claro que irei ver, até porque, acho que sairei com outra sensação após a sessão, mas irei assim: sem maiores expectativas.

[]s

Amanda Aouad disse...

O filme tem uma construção incrível mesmo, diretor e ator trabalharam bem as emoções, realidade e fantasia daqueles cinco dias.

Natalia Xavier disse...

AMO o toque de humor negro sutil que Boyle usa nos filmes. To curiosa pra ver este, nao só por conta do diretor como tambem a tal cena que provoca desmaios e vomitos, rs. Será pra tanto mesmo?

Abs!

Equipe Cinema Detalhado disse...

James Franco merecia um Oscar por sua atuação. É realmente incrível o ar que ele deu ao seu personagem. Sempre achei que esse ator um dia iria estourar...pode ser que tenha chegado a hora.