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17 de janeiro de 2011

O Labirinto do Fauno (2006)

Um filme de Guillermo Del Toro com Ivana Baquero e Sergi López.

Guillermo Del Toro conseguiu. Após dirigir Blade II, Hellboy e A Espinha do Diabo, via-se logo uma indicação do diretor para o mágico e o fantasioso. Com O Labirinto do Fauno, isso é comprovado rápido. O filme inteiro é uma luta entre a crueldade da realidade e a fantasia infinita da ingênua mente de uma criança, mas cabe apenas ao espectador dizer qual é qual no que lhe é apresentado. Del Toro criou um mundo mágico com todos os direitos que podem ser imaginados: fadas em todos os cantos, faunos, reinos belos, um cenário espetacular que circula entre banquetes e florestas e uma magia original. Mas ele também cria a crueldade em seu mundo a partir de monstros caricatos e da mentira e a maldade que existem em qualquer lugar. Mas, apesar da imperfeição, das terríveis criaturas e das mortes brutais apresentadas em cenas fortes, o mundo imaginário ainda é, indubitavelmente, um lugar melhor que o mundo real.
Estamos na Espanha do século XX, onde a Guerra Civil termina oficialmente, mas os rebeldes ainda lutam por seus direitos contra os oficiais. É nesse cenário que surge Ofelia (Ivana Banquero), uma menina inocente que ainda acredita em sua literatura de fantasia. A menina, junto com sua mãe Carmen (Ariadna Gil), vai para o local principal da iminente batalha para viver com o padrasto, o capitão Vidal (Sergi López), um fascista cujo objetivo principal é exterminar os guerrilheiros. Nesse novo local, Ofelia se vê sem a companhia da mãe e deslocada se não fosse por Mercedes (Maribel Verdú), a empregada que também é a informante dos rebeldes. Numa noite, a menina sai de casa em perseguição a uma fada e acaba parando nas ruínas de um labirinto existente na área. Ao seguir a criatura, ela chega ao centro do labirinto, onde descobre uma passagem secreta que a leva a um fauno (Doug Jones). Esse fauno lhe diz que ela é a princesa de um mundo subterrâneo, mas para poder voltar para casa, ela precisará cumprir 3 provas decisivas, mostrando sua verdadeira identidade.
O filme trata de usar um conflito real para explicar um conflito imaginário, assim como a maioria das cenas apresentadas no longa. Enquanto a guerra civil permanece forte, a batalha travada entre o real e o irreal fica mais forte com o passar do tempo. Observamos o tempo inteiro o quanto Ofelia se sente segura perto de seu mundo ideal, mesmo que no caminho ela tenha de ver sapos gigantes ou monstros carnívoros, mas que quando ela é forçada a abandonar seu porto seguro e confrontar a realidade cruel, representada nesse caso por Vidal, ela fica ameaçada no ambiente hostil que é a casa dos fascistas. O fascismo, no caso, é o mundo real em que Ofelia se vê presa por laços familiares, já que a mãe é a pessoa que ela mais preza no mundo mas essa se vê segura exatamente onde a filha vê o perigo. O mundo subterrâneo é um mundo novo para a criança ingênua, é o lado dos rebeldes que está prestes a eclodir, mas se mantém na guarda. Fora isso, há também a personagem Mercedes, que finge ser uma fascista, mas se vê logo que o ambiente dela é dos rebeldes, por isso entende tanto o lado da imaginativa criança, enquanto o resto a intolera.
Os personagens são a força principal do longa, pois ajudam a sustentar o filme com suas características marcantes. Mercedes, feita com seriedade por Maribel Verdú, é o lado dos rebeldes, o porto seguro da criança Ofelia e do filme inteiro. O capitão é o que Ofelia tenta fugir. Sergi López mostra o quão bom ator ele é ao interpretar o cruel capitão da realidade, um homem marcado por um legado de destruição que se vê obrigado a passar essa herança miserável para o seu filho. A criatura do fauno, que deveria ser um guardião exemplar da natureza, se mostra tão instável quanto o lado dos rebeldes. Prova de que, nem no mundo ideal as coisas são perfeitas. Afinal, mesmo com as promessas feitas, há um mundo perfeito e harmônico? Ofelia é um meio termo entre as duas coisas. Seu coração e sua mente a levam para seu mundo novo, mas o sangue que grita em seu interior mostra que ela ainda tem um lado que é a humanidade. Sim, pois ela prova ser "humana" ao ver a imperfeição na personalidade do fauno, mais humana ainda por aceitar um lado que a renega e renegar um lado que a aceita. Ivana Barquero surge aí com uma atuação delicada e consegue segurar o filme com a força de sua personagem.
O filme, além do mais, conta uma fantasia para adultos, pode-se dizer assim. É um mundo mágico com a violência do mundo real. A estética ajuda bastante nesse caso, já que o cenário foi realmente construída em certas cenas, e a fotografia escura o complementa revelando o lado sombrio em ambos os mundos em que a protagonista transita. A maquiagem está, realmente, impecável, ao lado dos magníficos efeitos visuais vistos ao longo da sessão. Ela realmente mereceu o Oscar, pois nunca vi tanta veracidade no falso. O fauno traiçoeiro com movimentos mecânicos, pele escura e sombria e personalidade indecifrável está ótimo, mas não tão bom quanto a criatura vista no banquete, que carrega os olhos nas mãos e come o que vê pela frente, ambos interpretados por Doug Jones.
O Labirinto do Fauno nos faz esquecer, por mais que transite continuamente em suas cenas de guerra e violência, de um mundo caótico para podermos mergulhar na sensibilidade que é a imaginação fértil de uma criança. Guillermo Del Toro criou uma fabúla com fatos reais como fatores explicativos, e foi uma fórmula que deu muito certo, já que a distinção entre realidade e imaginação fica pelo espectador, pois o filme não te mostra um caminho para se acreditar. A cena final pode ser muito bem o fim de um conto de fadas assustador quanto o fim de uma história verídica extremamente triste. Qual é a certa fica por sua conta.
NOTA: 10

4 comentários:

Alan Raspante disse...

Ah rapaz, este filme é um dos melhores que já vi. Sempre assisto e me impressiono com o que eu vejo. Filme pra mim, que merece ser tachado de 'perfeição'!

Cristiano Contreiras disse...

Também admiro este filme que me emociona demais. Acho que a trama 'mágica' do mundo irreal de Ofelia, ainda que seja bela e instigante, não consegue desfazer o tom negro e triste do filme. É tão doloroso...e o filme é um marco, desde já! O apuro visual e a técnica dele realmente são determinantes na produção.

Belo texto!

abraço

Ju B. disse...

Eu sempre fui muito mais de emoção do que de razão. Com isso, o roteiro de um filme sempre mexe mais comigo do que efeitos visuais. Mas O Labirinto do Fauno é de uma perfeição quase assustadora(como a figura na sala de jantar) no que diz respeito ao mundo mágico da história, tudo muito bem feito com riqueza de detalhes, impossível não fixar os olhos na tela pra captar quantos detalhes forem possíveis. Além disso, a história é linda e emocionante.

Obrigada pelo comentário no meu texto de estréia. ^^
Bjos, volte sempre.

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

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Parabéns!

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