Um filme de Samira Makhmalbaf, Claude Lelouch, Youssef Chahine, Danis Tanovic, Idrissa Ouedraogo, Ken Loach, Alejandro González Iñárritu, Amos Gitai, Mira Nair, Sean Penn e Shohei Imamura com Ernest Borgnine, Emmanuelle Laborit e Vladimir Vega.
O que prevalece no filme é um sentimento. Agora que sentimento os diretores nos dizem. Indignação, desolação, desconforto, culpa, vergonha, indiferença, alegria, tristeza. São tantos os sentimentos que descrevem uma data especial que conseguiu mudar o mundo que não há como resumí-los num só, razão pela qual cada diretor de uma nação diferente fez um curta de 11 minutos, 9 segundos e 1 frame para mostrar seu sentimento sobre essa fatídica data. O resultado é composto de altos e baixos, nada que se espere mais. Com nações e culturas diferentes, é de se esperar que o ataque ao World Trade Center afete cada um distintamente e que cada um filme com essas diferenças, do jeito que a direção achar melhor. O melhor seria um momento silencioso? Uma história não necessariamente verídica, mas interferida drasticamente pela queda das torres? Será que é preciso mostrar apenas o lado triste dessa história ou também o lado que não sofreu diretamente? 11 de Setembro mostra isso em 11 curtas dolorosos e marcantes por suas técnicas, cada um transmitindo o que bem lhe interessa.
O primeiro curta traz um sentimento muitas vezes sentido como uma passividade ou indiferença para com o resto do mundo. No Irã, ao som de pessoas gritando sobre a possível Terceira Guerra Mundial e o caos que se espalhou pelo ocidente, temos como referência a visão de crianças que não conseguem entender o tamanho do acidente causado graças à ingenuidade, que chega a ser uma benção. Para fazê-las entender, uma professora aflita tenta criar um minuto de silêncio, mas as crianças permanencem irrequietas. Não conseguem calar-se perante algo que lhes afeta indiretamente. O segundo curta é a perspectiva de uma francesa surda que se muda para Nova York para viver ao lado de seu amor, um guia turístico para surdos. Ao termos todos os sentidos que ela possui ao nosso dispor, um silêncio irritante surge na tela ao vermos ela digitando um término de relacionamento em segundo plano, enquanto no primeiro as imagens das duas torres desabando são apresentadas na televisão. Por fim, um desastre conseguiu impedir o fim de um amor numa alma inquieta que não conseguia acompanhar os fatos por sua deficiência. O terceiro curta do egípcio Youssef Chahine é o mais fraco ao meu ver. Ao tentar apresentar imagens desconexas em forma de um documentário apresentando a alma de um jovem morto para tentar trazer uma vergonha aos americanos por suas guerras, seu espaço fica confuso e não muito bem sucedido.
Danis Tanovic faz diferente ao mostrar na Bósnia-Herzegovina um sentimento de revolta pelo massacre em Srebrnica em 11 de Julho, criando a tradição de uma passeata a cada dia 11. Quando os dois dia 11 se interligam, os bósnios mostram um misto de confusão mas um respeito para seguir em frente por essas duas datas fatídicas através da figura de Tatjana Sojic e Aleksandar Seksan. O quinto curta, provindo de Burkina Faso, foi minha surpresa mais agradável no filme inteiro. O 11 de Setembro aparece em segundo plano para dar lugar a uma história de um garoto cuja mãe aparece doente, e não tem o dinheiro para pagar os remédios. O drama surge daí, mas o que o dia interfere na história? O garoto, entregando jornais para sobreviver, reconhece na rua a figura procurada pela polícia: Osama Bin Laden. Daí em diante é um retrato verdadeiro da luta para capturar o terrorista e pagar o tratamento da mãe. O sexto curta, do inglês Ken Loach, mostra um chileno que vive na Inglaterra e escreve uma carta para os americanos que sofrem pelo 11 de Setembro. Mas ele se refere a outro 11 de Setembro em sua carta, o de 1973, quando Salvador Allende foi deposto do governo chileno por intermédio dos americanos, ao verem que o Chile estava renegando o sistema capitalista. Sua carta, transbordando emoção, traz o sentimento mais humanitário possível, a compaixão por aqueles que destruíram uma vida e trouxeram a morte e o exílio para milhares.
Iñárritu tem um curta simples e poderoso. Ele aproveita de seus 11 minutos ao mostrar o desespero dos repórteres, dos entes queridos, de pessoas que sofrem diretamente com o atentado por conversas desesperadas e imagens sofridas, separadas por longos segundos do mais puro silêncio e escuridão. A tensão se dá pelo mexicano. O oitavo curta, do israelense Amos Gitai, é ótimo. Ele consegue mostrar toda a confusão, o desespero e o desentendimento através de um alerta de bomba num único plano-sequência, onde o foco muda de lugar numa câmera descontrolada. É a bagunça criada na mídia sensacionalista ao mostrar caos no lugar do sofrimento. O nono curta, da indiana Mira Nair, coloca o sentimento de perda de uma mãe ao ver que seu filho está desaparecido. A partir daí, ele é acusado como terrorista e a mãe sofre as consequências dessa falsa acusação. Ela, uma indiana vivendo nos Estados Unidos, sofre com a discriminação através da xenofobia e da falta de contato com seus amigos, outra hora tão receptivos. Tempos depois, quando o filho dela se revela um herói, nada adianta. O que está sofrido, está sofrido. Ela só pede a Deus, num momento poderoso, compaixão por aquele povo perdido e pela memória do filho como ele realmente foi em sua vida.
Por mais que os outros curtas retratem os sentimentos mais antagônicos e variados para o horror de 2001, espera-se que o americano mostre um caos horripilante culpando o oriente. Não. Sean Penn consegue ser tão polêmico quanto os outros ao mostrar a felicidade obtida num 11 de Setembro para americanos revoltados que perderam suas casas. Ele consegue mostrar que, mesmo onde todas as pessoas veem a morte, há vida desabrochando. O último, o curta japonês de Shohei Imamura, reflete um sentimento de vergonha poderoso ao mostrar a história do homem que, com vergonha de seus atos de guerra, preferiu se transformar numa cobra. Por mais peçonhenta que seja uma cobra e por mais que ela mate por sobrevivência, não seria preferível viver por instintos do que matar seus semelhantes por discussões tolas? E o Japão consegue isso sem nem lembrar dos Estados Unidos em seu momento.
É um filme irregular, mas com personalidade. Ao termos em nossa mente o 11 de Setembro como um atentado terrorista com as informações apenas dadas por uma mídia não tão confiável assim (o curta de Amos Gitai lembra isso bem), esquecemos de olhar por outro lado. Não espere aqui um sentimento de revolta americano, repleto de injustiças para com o Oriente Médio. Espere aqui um sentimento dos outros países atingidos, direta ou indiretamente, pelo 11 de Setembro.
NOTA: 8
Um comentário:
Nossa, fiquei muito curiosa, parece ser muito original e fugir do lugar comum.
Tem sido constante esse filmes com vários curtas de diretores diferentes sobre um mesmo tema, e eu acho isso fantástico, pq podemos ver como um único assunto pode render tantas interpretações diferentes, e pelo que vc contou, esse parece ter ido a fundo nessa diversidade. Gostei muito da maioria das sinopses, principalmente daquelas onde a história não se passa nos EUA. Vou assistir assim que possível!
Bjs.
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