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28 de novembro de 2010

Babel (2006)

Um filme de Alejandro González Iñárritu com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal.

É com grande pesar que assisto o último filme da brilhante trilogia de Iñárritu, nunca 3 filmes me deixaram tão satisfeito. Amores Brutos criou metáforas inteligentes entre os dramas de uma vida amorosa e os cachorros que interferem nessas vidas. 21 Gramas já se utilizou de pensamentos filosóficos entre a vida e a morte, o drama de Sean Penn que está quase morrendo e sua mulher querendo ter um filho seu é um dos muitos exemplos do filme. Babel é o preconceito puro. A Torre de Babel, mito hebraico de uma torre que foi construída para chegar ao céu e foi parada graças a variações culturais se encaixa perfeitamente nesse filme. Tanto que, obviamente, deu o nome à película. Falo que é um preconceito puro, mas não se encaixa nos preconceitos explícitos contra os homossexuais e negros que a indústria cinematográfica insiste em explorar. É o preconceito gerado pela intolerância e o medo de outras culturas, a xenofobia em outras palavras.
Num deserto marroquino, dois irmãos acabam de receber do pai uma missão e um rifle: matar os chacais que podem comer as cabras da família. Ambos esquecem facilmente a tarefa e começam a brincar com a arma atirando nos poucos carros que passam na rodovia. Quando veem um ônibus de turismo passando, o tiro acerta uma das passageiras que estava na janela, Susan (Cate Blanchett). Seu marido Richard (Brad Pitt) se desespera num país completamente estranho a seus costumes e tenta achar um lugar para cuidar de sua mulher, o que se dificulta a partir da rotina dos turistas. O acidente acaba afetando nos Estados Unidos a babá Amelia (Adriana Barraza), que tem o casamento do filho no México para ir mas tem de cuidar dos filhos de Richard e Susan; uma família de japoneses composta por um pai que tenta ajudar sua filha Chieko (Rinko Kikuchi), uma adolescente surda e virgem, a superar a morte da mãe; e as duas crianças que brincavam com o rifle, Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid).
Atuação sublime. Um dos melhores trabalhos de Brad Pitt que já pude ver. Cate Blanchett está ótima, embora apareça deitada num tapete inconsciente a maior parte do filme. Gael García Bernal, não preciso de nada para descrevê-lo, está esplêndido. Mas o melhor mesmo é seu trabalho em Amores Brutos. Gostei bastante de Rinko Kikuchi, mas a forma de que seu problema foi criado me pareceu um pouco forçado, a tentativa inquieta de perder a virgindade sem conseguir se comunicar com o parceiro de uma maneira sólida. Mas a construção de sua personagem surda-muda foi estupenda, incrível mesmo. Já merece ser conferido. Também gostei bastante da personagem de Adriana Barraza, a babá Amelia. Embora sua intenção fosse ser o lado mais sórdido da história, não há como não sentir pena de sua interpretação maravilhosa.
Essa intenção de criar o lado mais sórdido da história é a denúncia de Iñarritu e seu fiel roteirista Guillermo Arriaga à intolerância presente num mundo globalizado até demais. As culturas se tornam tão distintas que cidades que distam pouco mais de 30km se tornam rivais, separadas por uma grande fronteira. Sempre me disseram um ditado: É fácil sair dos Estados Unidos, o difícil é voltar para lá. O filme mostra isso claramente, se você não for um americano, os Estados Unidos se tornam impossíveis. Outro aspecto de crítica no filme foi o ônibus cheio de turistas numa vila pobre do interior do Marrocos, onde os turistas morrem de medo de sair e ver aquela estranha e inferior civilização de outro modo que não seja o vidro. Ainda mais, há a cena final que representa toda essa intolerância. No alto de uma grande torre há dois conterrâneos, pai e filha, que não conseguem se comunicar com perfeição. A mudez é o preconceito vivo no caso, que impede a menina de se tornar parte do mundo.
A globalização une e separa ao mesmo tempo. As culturas se tornam, ao mesmo tempo mais próximas, mais distintas. Por mais que seja um meio necessário, ele promove a xenofobia. Qual as chances de um norte-americano falar sem qualquer tipo de preconceito com um marroquino? Línguas diferentes, culturas diferentes, intolerância com o próximo. No nosso mundo globalizado, há muito poucas. Até com um mexicano, que mora bem ali, virando a esquina, tudo se torna difícil. Babel é uma denúncia à falta de comunicação de um mundo que deveria se comunicar mais.
NOTA: 9

2 comentários:

Sebo disse...

Perfeito! Captou a mensagem do longa, muito bacana! Filme grandioso faço das tuas palavras as minhas, falando nisso, vou até revê-lo! heheheh

[]'s

renatocinema disse...

Belo filme. Prefiro Amores Brutos. Mas, esse também é muito bom.

Sobre O Poderoso Chefão assita.......no dia inspirado. Esse é obrigatório.