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10 de abril de 2011

Taxi Driver (1976)

Um filme de Martin Scorcese com Robert DeNiro, Jodie Foster e Albert Brooks.

Pedras e paus podem quebrar meus ossos, mas palavras não podem me machucar. Sendo assim, como se lida com o silêncio, essa força tão destrutiva que chega a corroer mentes paulatinamente? A loucura bate à porta das mentes que contém alguma falta, seja a de palavras, seja a de companhia, seja a de razão. E essa falta precisa ser completada, quando a insanidade chega a seu ápice, criando sociopatas, alguns atingindo o nível da psicose, de forma que a ética e a moral humanas não falam mais alto do que um desejo ensandencido, na busca de completar lacunas vazias numa mente incompleta. Taxi Driver é o estudo violento e épico da solidão, sobre como ela age num ser-humano indeciso e chega a destruí-lo, por uma falta de convivência com situações cotidianas.
Travis Bickle (Robert DeNiro) é um veterano da guerra do Vietnã que anda o dia inteiro pelas ruas da caótica Nova York como um motorista de táxi, a pessoa mais vulnerável e que convive com os mais diversos habitantes das diversas camadas e bairros da cidade. Seu convívio supérfluo com o contraste social das ruas distintas de Nova York junto com sua solidão o levam a uma vida perturbada, enclausurado no estereótipo do taxista que observa as escórias. A sua profissão cruza, então, seu caminho com o de Betsy (Cybill Sheperd), uma ativista eleitoral do senador Palantine, candidato à presidência; e o de Iris (Jodie Foster), uma prostituta de apenas 12 anos de idade.
O grande problema de Travis é, indubitavelmente, sua vida solitária. Ela o leva para um transtorno que não consegue mais identificar o certo e o errado num padrão abrangente e generalizado, mas apenas no padrão dele. Ele é tão perturbado que leva a namorada para ver um filme no primeiro encontro. Pornô. O mundo de Travis permanece intocado, por mais que ele conviva com o máximo de pessoas possíveis. Além do mais, esse convívio com diferentes personalidades pode até ajudar na loucura resultante após tantos momentos solitários. A cidade de Nova York é cheia de habitantes vazios. Por mais rodeados, todos estão tão sozinhos que, quando param por um bom tempo para realmente refletir sobre a própria realidade, acabam insanos. Os diálogos entre Travis e outros taxistas mostram mentes tão perdidas quanto a dele, mas escondidas através da banalidade de situações do dia a dia. A mudança do dócil taxista para o perigoso sociopata ocorre em consequência de coisas relativamente simples de serem evitadas. E essa metamorfose não é apenas acompanhada pelo espectador. Através dos diferentes planos de filmagem de Martin Scorcese com as cenas cada vez mais chocantes do jovem Robert DeNiro, o público acaba por compartilhar um sentimento idêntico ao do taxista revoltado.
O perturbado Travis é mostrado com tanta intimidade e sutileza para a câmera que cada movimento dele, por mais surreal que seja, acaba sendo acostumado com o padrão. Por isso seu personagem acaba sendo identificado como o herói de Nova York. Suas ações, cada vez mais ambíguas, podem tachá-lo também como vilão. Mas seria vilão aquele que consegue enfrentar um sistema inteiro e gritar a plenos pulmões a partir de atos impensados o que cada habitante quer dizer, mas não diz por uma acomodação à neurose, ao stress e às normas para a convivência? Como vivia sem convivência, no seu universo repleto de solidão, não é preciso ter normas para se seguir aí. Ele é ingênuo por não saber como se viver graças as suas sequelas? Ou ele é esperto o suficiente para ser cínico e irônico em seus atos e diálogos inocentes? Ele é sincero o bastante para falar na cara de um senador como ele poderia destruir toda a sujeira daquela cidade. Ele é ingênuo o bastante para levar a namorada a uma sessão pornográfica. Ele é corajoso o bastante para tentar, com todas as suas forças, criar um ambiente seguro para uma prostituta, a mesma escória da sociedade que ele tanto criticava. A mudança constante dos pensamentos de Travis caracteriza a única semelhança entre ele e a sociedade. A sociedade acaba por martirizar aquele que deveria ser condenado num sistema completamente bipolar em seus atos.
Aqui, a técnica também é sinônimo de perfeição. A fotografia de Taxi Driver beira um tom mais boêmio e noturno, das vielas obscuras e sombrias da selva de pedra. Explorando os mais diversos personagens atravessando os subúrbios nova-iorquinos, a fotografia escura com tons avermelhados e amarelos piscando combina bem com a trama. A trilha sonora de Bernard Herrmann é sensacional, caracterizando o ápice da fascinante viagem que é essa obra de Martin Scorcese. A direção de Scorcese é precisa em suas diferentes formas, seja num relato silencioso da rotina de um taxista notívago, seja no barulho de uma mente condenada ao silêncio. A interpretação também é de ouro. Um jovem e carismático Robert DeNiro dá aqui um show de atuação que não vemos atualmente nesse novo rumo de sua carreira. Jodie Foster já mostrava para o que veio desde os seus 14 anos, onde com uma lábia surpreendente para a idade interpretou uma garota de programa e conseguiu ser indicada ao Oscar do ano seguinte. Harvey Keitel, Albert Brooks, Cybill Sheperd e Peter Boyle ainda agraciam essa obra com ótimas defesas nos seus personagens, com inteligência, fúria e razão equilibradas numa base que deveria ser de desequilíbrio.
O auge de Taxi Driver se concentra numa famosa cena, lembrada por muitos quando o nome do filme é citado em alguma discussão. Por curiosidade, essa cena foi feita completamente no improviso. O jovem Travis discute, com uma Magnum 44 na mão, num quarto, solitário. "Você está falando comigo? Está falando comigo? Se não comigo, com quem está falando, hã? Estamos sozinhos aqui", isso tudo com uma expressão de raiva e superioridade na face. Vemos, então, que o interlocutor é um espelho e que ele aponta a arma para a própria figura. Travis é tanto um protagonista quanto um antagonista num retrato não de um personagem apenas, mas de toda uma sociedade incompleta, perturbada e solitária. O personagem de DeNiro é apenas o bode expiatório do relato cru de Scorcese sobre o teatro da solidão humana.
NOTA: 10

6 comentários:

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

FILMAÇOOOOO!!!

Pô, você acertou em cheio. Eu estava louco pra ler algo novo sobre esse filme, o meu preferido do Scorsese.

UAU!

Alan Raspante disse...

O que dizer? Um puta filme do caralho! hahaha Meu favorito do Scorsese (também né, acho que vi só uns três rsrs). Mas o filme é absurdamente demais!

Hugo disse...

Um dos melhores trabalhos de Scorsese e DeNiro criando um personagem que entrou para história do cinema.

A cena em que DeNiro discute com o espelho é fantástica.

Abraço

Letícia disse...

legal o seu blog...vi o arquivo e tal. mas voce conta muito do filme...quem nao conhece acaba pulando seu texto...faça textos menores e com sinteses, ouça a gente...é um conselho.

beijos, menino

Diego S. Lima disse...

Um anti-heroi atemporal..meu personagem favorito do cinema!!!

E esse Scorsese que vemos no século XX é o que voltou em Ilha do Medo, espero ve-lo mais vezes a partir de agora..!!!

Andinhu S. de Souza disse...

Meu favorito do Scorça. Scorsese assombrou platéias com esse filme na época. Realmente um filme cru sobre a sociedade. Quantos de nós já não quisemos fazer o mesmo que Travis?