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16 de março de 2011

Los Angeles - Cidade Proibida (1997)

Um filme de Curtis Hanson com Russell Crowe, Guy Pearce, Kevin Spacey e Kim Basinger.

Não culpe sistemas. Eles podem até ser perfeitos e podem até funcionar na teoria. Culpe pessoas, pois elas contribuem para o mal-andamento desse. Los Angeles - Cidade Proibida é uma obra que consegue colocar na tela uma trama muitíssimo bem construída, primando pelo sucesso de sua história que conta com uma rede de intrigas bem posicionadas na cidades dos anjos, mostrando que nem tudo aí lembra o paraíso. A história e o ritmo envolvente contagiam o espectador e fazem as horas de duração passarem em minutos, ainda contando com uma riqueza de detalhes nas sucessivas cenas e atuações bastante competentes colocando uma fama luxuosa numa cidade perigosa e recriando um cenário noir em meio à máfia e a violência típica dos anos 50.
Bud White (Russell Crowe) é um policial durão que age sem esconder toda a violência e a brutalidade dentro de sua personalidade, mas buscando justiça e sem admitir a violência contra a mulher; Edmund Exley (Guy Pearce) é um jovem policial ambicioso, que busca conseguir seu cargo de detetive e segue, religiosamente, as regras em busca da verdade e do justo, não importando por onde passe; Jack Vincennes (Kevin Spacey), um sargento que se auto-promove através de casos armados em colaboração com o repórter do jornal Hush Hush, Sid Hudgens (Danny DeVito). Esses três policiais com característica distintas, paralelamente, estão envolvidos num esquema envolvendo corrupção, mentiras e uma rede de prostituição com garotas parecidas com atrizes famosas.
Por mais que a história entre numa rede, em nenhum momento o espectador se embola na narrativa, sempre conseguindo acompanhar os fatos que lhe são jogados em tela. O filme ainda conta com uma trilha sonora muito boa, que acentua os momentos marcados pela violência diária e pela sedução da "Cidade dos Anjos"; e uma fotografia clara, em contraste com os aspectos escuros em que o filme adentra até o último momento. Cada cena é preciosa para o bom entendimento, então a atenção é bastante necessária para o mundo de Los Angeles - Cidade Proibida se revelar tão real quanto próximo. Qualquer pessoa pode se corromper na vida e o filme mostra exatamente isso com características distintas em seus personagens, a pérola do filme se concentra em descascar o que parece ser, mas não é, no fundo. O que alguém revela de si mesmo nem sempre é a característica mais forte dessa pessoa, muitas vezes há uma dupla personalidade traiçoeira. A cidade de Los Angeles é um exemplo vivo disso: para quem a vê de fora, é uma cidade famosa por seus cenários paradisíacos, por suas estrelas de cinema, pela realização do sonho americano. Dentro dela é que acontece o universo de drogas, sexo e violência que o filme mostra.
Russell Crowe faz o típico policial misterioso que carrega um fardo nas costas. Sempre há sua motivação baseado em seu passado obscuro, a defesa das mulheres. Por mais que se mostre controlado na maioria das vezes, quando ele presencia uma injustiça contra uma mulher, ele vira outra pessoa. A alteração do seu estado de policial bom para o policial mau é que dá a força para a sua personalidade. Quando uma mulher desconhecida é agredida, ele já transforma-se no defensor feminino pela justiça. Quando a mulher amada é desrespeitada, ele se torna num monstro irracional, trazendo sua justiça de uma forma legal ou vingativa. Kim Basinger, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante, entra em seu papel para representar esse amor e consegue, ainda mais, estabelecer a atmosfera sensual do filme. Ela, que é uma prostituta de luxo sócia de Veronica Lake, transborda o caráter intimista e romântico de Bud White, que revela os seus segredos e traumas após a excitação na cama. Note que, nas cenas em que Basinger aparece, a música aparece junto, dando a impressão de estarmos vendo a verdadeira Veronica Lake, no auge de sua sedução, num filme de época.
Ainda há a boa construção do personagem de um Guy Pearce que, com força, mostra como é o inteligente da delegacia. Ao criar uma atmosfera negativa em torno dele, ele busca em si sua própria definição de justiça para fazê-la virar realidade graças a sua atitude sem escrúpulos para conseguir o que quer. Para ele, não importam pessoas, importam objetivos. Mas isso sem nunca deixar a justiça de lado, já que as mesmas motivações que movem sua ambição movem sua sede por uma justiça que não lhe foi concedida em seu passado. Jack Vincennes, pelo ótimo Kevin Spacey, cria certa diversão ao redor de sua atmosfera de fanfarrão. Por mais que viva ao lado da Homicídios e da Narcóticos, ele prefere o ramo da televisão, junto a fama e as mulheres. Essa sua busca o leva a uma ligação com o editor de uma revista, que o coloca na capa da revista em troca de um sensacionalismo barato ligado a michês e homossexualismo. Essa dupla personalidade, presente em todos os personagens do longa, é o que traz a maior veracidade para o filme. E, para combinar com o cenário e o elenco, o filme também se mostra traiçoeiro em sua reviravolta inesperada, atingindo um clímax contínuo até o seu desfecho.
Com uma história bem montada, Los Angeles - Cidade Proibida cumpre seu papel em ser um ótimo filme. Com atuações pra lá de excelentes (destaque para Kevin Spacey, Russell Crowe e para um James Cromwell que merece uma ressalva), uma atmosfera sombria em meio a chacinas e tiroteios, um suspense policial bem criado em meio ao caos de Los Angeles e um estudo de personagens para criar uma ambiguidade e tirar surpresas de um público atento, o filme não tem pressa em terminar sua lógica e a trama consegue montar o quebra-cabeças sem faltar peça alguma. O filme é uma pérola, é uma pena que um certo navio naufragado tenha apagado o brilho de Los Angeles - um brilho que, assim como a película e a cidade em si, se mostra opaco quando bem revelado.
NOTA: 9

4 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Acho que o charme do filme é justamente ser esse noir todo; a mistura do suspense e das intrigas; da sensualidade. Interessante que a trama é muito realista, de fato as tramas sobre corrupção e assassinatos eram bastante presentes em "Los Angeles", a típica cidade mascarada, mas que na verdade era um inferno total...no fundo no fundo, tudo ali reinava pelas aparências.

Eu também adoro o elenco, de fato Crowe e os outros homens são interessantes na composição, mas não posso dizer que fiquei fascinado por Basinger nele! É uma atuação sensual, contida e muito importante pro filme.

Belo texto!
Abraço

cleber eldridge disse...

FILMAÇO! Talvez seja o melhor filme de seu ano, e academia tem a ousadia de premiar TITANIC, tá bom que é um feito sem igual, mas, mesmo assim, não tem o roteiro, nem o elenco como este. 8)

Rodrigo disse...

Irei ver estes dias. Ansioso, e sua nota me deixou ainda mais. Talvez comente no blog também. Abraços.

Alan Raspante disse...

Estou pra conferir também... Sempre leio comentários elogiosos!

[]s